Cynara scolymus e Cynara cardunculus: Potencial Terapêutico em Distúrbios Metabólicos e Gastrointestinais
Introdução
A alcachofra, cientificamente conhecida como Cynara scolymus e Cynara cardunculus, é uma planta com vasto histórico de uso na medicina tradicional. Atualmente, seu potencial terapêutico tem sido explorado em diversas condições clínicas, particularmente em distúrbios metabólicos como dislipidemias e diabetes, além de síndromes gastrointestinais. Este documento aborda as indicações clínicas, a posologia, a segurança e os principais compostos da alcachofra, com base em evidências científicas.
Aspectos Botânicos e Farmacêuticos
As espécies Cynara scolymus e Cynara cardunculus são popularmente conhecidas como alcachofra. Para fins terapêuticos, são utilizadas as folhas e os talos da planta.
Posologia e Formas de Administração
A posologia da alcachofra varia conforme a apresentação e a finalidade:
- Extrato Seco Padronizado em 0,5% de ácido clorogênico:
- Para redução de colesterol total e LDL: 320 mg, 4 vezes ao dia, padronizado em 2,5% de cinarina e 0,1% de luteolina.
- Para melhora do marcador de peroxidação lipídica: 450 mg, 4 vezes ao dia, padronizado em 4-5% de ácido clorogênico.
- Em geral, a dose pode variar de 500 mg a 3 g/dia, preferencialmente antes das refeições.
- Tintura: 5-25 mL/dia (1) ou 30-40 gotas antes das refeições.
- Planta Seca Rasurada: 2 g, 3 vezes ao dia, na forma de chá (1).
- Pó: 600-1500 mg/dia, divididos em 2 a 4 vezes ao dia (1).
- Extrato Seco (12:1): 500 mg/dia (1).
- Extrato Fluido (1:1): 2 mL, 3 vezes ao dia (1).
Produtos Disponíveis no Mercado
Um produto comum disponível é o extrato seco de Cynara scolymus padronizado em 1% de ácido cafeoilquínico (1).
Contraindicações e Efeitos Adversos
O uso da alcachofra é contraindicado em:
- Gestantes (1).
- Lactantes, pois pode alterar o sabor do leite (1).
- Pacientes com obstrução de via biliar (1).
- Crianças menores de 12 anos (1).
Os efeitos adversos podem incluir diarreia leve, queixas epigástricas e reações alérgicas (1). A presença de lactonas sesquiterpênicas pode causar dermatite de contato (1).
Principais Compostos
As folhas da alcachofra são ricas em ácidos fenólicos (>2%), destacando-se os ácidos clorogênico, cafeico, diéster do ácido quínico e cinarina (1). Além disso, contêm lactonas sesquiterpênicas amargas, flavonoides, fitoesteróis, açúcares, inulina, enzimas e óleo essencial (1). A luteolina e o ácido cafeoilquínico também são compostos importantes.
Indicações Clínicas e Propriedades Farmacológicas
Dislipidemia
A alcachofra é indicada para o tratamento da dislipidemia, devido a diversos mecanismos de ação (1). A luteolina inibe a enzima HMG-CoA redutase, uma das etapas chave na biossíntese do colesterol, e também inibe a SREBP, além de reduzir a absorção de colesterol (1).
Estudos demonstraram que o extrato de alcachofra promove a redução dos níveis de LDL, colesterol total e triglicerídeos (1). Especificamente:
- A administração de 320 mg, 4 vezes ao dia, de extrato padronizado em 2,5% de cinarina e 0,1% de luteolina, resultou em redução do colesterol total e LDL.
- O uso de 450 mg, 4 vezes ao dia, de extrato padronizado em 4-5% de ácido clorogênico, melhorou marcadores de peroxidação lipídica.
Observou-se que o suco das folhas de alcachofra foi capaz de reduzir os níveis de colesterol total, LDL e triglicerídeos, com concomitante aumento do HDL (1). Outro estudo com extrato metanólico das folhas evidenciou atividade anti-hiperlipidêmica, atribuída à estimulação do metabolismo dos ácidos biliares e da bilirrubina (1).
Colelitíase
Pesquisas pré-clínicas e clínicas indicam que o extrato de alcachofra é benéfico no tratamento da dispepsia devido ao seu efeito colerético, que estimula a produção de bile. Suas atividades antioxidantes e anti-inflamatórias contribuem para o efeito hepatoprotetor (1).
Um estudo clínico demonstrou que a secreção biliar aumentou em 127% após 30 minutos e em 152% após 60 minutos da administração do extrato de alcachofra (1). Outra pesquisa revelou uma redução de 40% nos sintomas dispépticos em 454 voluntários tratados por 2 meses com extrato padronizado da planta, nas doses de 320 ou 640 mg/dia (1).
Um estudo sugere que a associação de extratos padronizados de Zingiber Officinale (20 mg) e Cynara scolymus (100 mg), administrados antes das principais refeições, é mais eficaz do que cada planta isoladamente. Essa associação foi eficaz em 86,2% dos casos após 28 dias de tratamento, com acentuada redução da intensidade da dispepsia (1).
Síndrome do Intestino Irritável (SII)
Resultados promissores foram observados com o uso da alcachofra na melhora dos sintomas da síndrome do intestino irritável (1).
Diabetes
A alcachofra possui múltiplos efeitos que podem impactar o metabolismo glicêmico, incluindo a capacidade de aumentar a secreção de GLP-1, retardar o esvaziamento gástrico, promover a proliferação de células β e diminuir sua apoptose, melhorar o trânsito intestinal e inibir a gliconeogênese.
Uma meta-análise indicou que doses de 200-600 mg/dia do extrato das folhas, administradas por 8-20 semanas, geraram alterações significativas na glicose de jejum (2). No entanto, a associação com outras plantas pode ser interessante para otimizar o efeito hipoglicemiante.
Referências Bibliográficas
- SAAD, G. de A.; LÉDA, P. H. de O.; SÁ, I. M.; SEIXLACK, A. C. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na Prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.
- JALILI, C. et al. Effects of Cynara scolymus L. on glycemic indices: A systematic review and meta-analysis of randomized clinical trials. Complementary Therapies in Medicine, v. 52, p. 102496, 2020. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S096522992031058X.