Aspectos Clínicos da Tendinite: Etiologia, Diagnóstico e Manejo Terapêutico


Aspectos Clínicos da Tendinite: Etiologia, Diagnóstico e Manejo Terapêutico


Introdução

A tendinite é uma condição musculoesquelética comum, caracterizada por dor e disfunção tendínea, que pode acometer indivíduos de diversas faixas etárias e níveis de atividade.


Etiologia da Tendinite

A causa mais comum de tendinite é o trauma local ou o uso excessivo (“overuse”), especialmente em indivíduos com condicionamento físico inadequado, má postura ou que utilizam o membro afetado em posições forçadas e desajeitadas.

Ela é frequentemente multifatorial e, muitas vezes, tem causas desconhecidas. A maioria dos casos ocorre em pessoas de meia-idade ou mais idosas, em decorrência da diminuição da vascularidade dos tendões com o avançar da idade. O microtrauma repetitivo também pode contribuir para o seu desenvolvimento. Adicionalmente, trauma repetitivo ou extremo (pequenas rupturas), tensão e exercício excessivo ou sem costume também são fatores etiológicos. É importante notar que alguns antibióticos da classe das fluoroquinolonas podem aumentar o risco de tendinite e ruptura do tendão.


Fisiopatologia e Classificação:

A tendinite caracteriza-se pela inflamação ou irritação de um tendão, que corresponde à porção terminal fibrosa de um músculo, responsável pela fixação muscular ao osso. Sua função primordial é transmitir a força de contração muscular para promover o movimento ósseo. As tendinites podem ser subdivididas com base em sua localização e características patológicas:

  1. Entesite: Inflamação que acomete a êntese, ou seja, o ponto de inserção do tendão no osso.
  2. Tenossinovite: Processo inflamatório da bainha sinovial que reveste alguns tendões.
  3. Peritendinite: Inflamação que afeta a junção músculo-tendínea.
  4. Tendinite Ossificante: Uma condição crônica resultante da inflamação prolongada, caracterizada pelo depósito de cristais de hidroxiapatita no tendão.

Apresentação Clínica:

Devido à proximidade anatômica de tendões e bursas com as articulações, qualquer processo inflamatório nesses tecidos moles pode ser percebido pelo paciente como dor articular, frequentemente diagnosticada erroneamente como artrite.

Os sintomas comuns de tendinites incluem:

  • Dor e rigidez, as quais são exacerbadas pelo movimento.
  • Dor predominantemente noturna.
  • Edema localizado pode estar presente.

Qualquer tendão no corpo pode ser acometido. No entanto, as localizações mais frequentemente afetadas são: ombros, cotovelos, punhos, dedos, quadris, joelhos, tornozelos e pés.

Tendinites são, em geral, condições de curso temporário. Contudo, existe a possibilidade de cronicidade. É importante ressaltar que, diferentemente da artrite, essas condições não resultam em deformidade articular.


Diagnóstico da Tendinite

O diagnóstico da tendinite pode se basear nos sintomas e exame físico, incluindo palpação ou manobras específicas para avaliar a dor. Em alguns casos, pode-se realizar ressonância magnética (RM) ou ultrassonografia para confirmar o diagnóstico, descartar outras doenças e detectar rupturas e inflamação dos tendões.

Outros exames podem incluir:

  • Radiografias podem ser úteis para descartar anormalidades ósseas subjacentes. É crucial salientar que tendões e bursas não são visíveis em radiografias convencionais. Contudo, a ultrassonografia e, mais recentemente, a ressonância nuclear magnética (RNM), fornecem um auxílio inestimável na definição da localização e do grau da lesão.
  • A aspiração com agulha do local afetado pode ser necessária para excluir infecção (artrite séptica) ou outras condições, como gota.
  • Exames laboratoriais podem ser úteis para investigar doenças de base, como artrite reumatoide ou diabetes. Entretanto, na maioria dos casos, não são essenciais para o diagnóstico primário.

Abordagens Terapêuticas na Tendinite

O tratamento para tendinite é determinado pela etiologia subjacente.

Manejo Agudo

O objetivo inicial do tratamento é reduzir e, se possível, inibir a dor. Para isso, o repouso articular é fundamental, obtido por meio do afastamento do fator causal e de atividades que possam agravar a lesão.

Medidas adicionais no manejo agudo incluem:

  • Aquecimento prévio adequado e atenção à postura.
  • Utilização de splints (talas de plástico) para imobilização da área afetada.
  • Aplicação de calor úmido e outras modalidades de terapia física para alívio da dor aguda.

Farmacoterapia

  • Analgésicos simples ou opioides podem ser empregados.
  • Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são frequentemente os mais utilizados.
  • Em casos mais acentuados, corticosteroides podem ser administrados por curtos períodos ou por infiltração intra-articular, conforme indicação clínica.

Reabilitação Física

A reabilitação física visa não apenas a eliminação da dor, mas, sobretudo, a recuperação da amplitude de movimentos e a prevenção de recidivas. Isso é alcançado por meio de exercícios específicos, orientados por profissionais qualificados.

Condutas Específicas

  • Se houver presença de infecção, a terapia antibiótica é indispensável.
  • Infiltração de Corticoides: A infiltração é geralmente indicada se a dor for intensa ou se o problema for crônico. É crucial não injetar no tendão (o que pode ser reconhecido pela forte resistência à infiltração), pois isso pode enfraquecê-lo e aumentar o risco de ruptura. Os pacientes são aconselhados a fazer repouso da região adjacente para reduzir o risco de ruptura do tendão. Os sintomas podem, ocasionalmente, piorar em até 24 horas após a infiltração. A repetição das infiltrações e da terapia sintomática pode ser necessária.
  • A intervenção cirúrgica para tendinites ou bursites é uma medida pouco frequente.

Prevenção e Manutenção

Após o controle da fase aguda, é crucial iniciar um programa de prevenção e/ou correção dos fatores causais. A melhoria da ergonomia, o aprimoramento da qualidade muscular são elementos fundamentais para prevenir novas lesões e/ou a recorrência de episódios anteriores.

Opções Cirúrgicas

Raramente, em casos persistentes, particularmente na tendinite do manguito rotador, a exploração cirúrgica pode ser necessária, com remoção dos depósitos de cálcio ou reparo do manguito rotador, seguida de fisioterapia gradual. Ocasionalmente, a cirurgia também pode ser necessária para liberar as cicatrizes que limitam as funções, remover parte do osso que causa fricção repetitiva ou realizar uma tenossinovectomia para aliviar a inflamação crônica.


Principais Tendinites

Alguns tipos comuns de tendinite incluem:

  • Tendinite Bicipital e Ruptura do Tendão do Bíceps
  • Tenossinovite dos Flexores (Tendinite dos Flexores dos Dedos)
  • Tendinite do Glúteo Médio
  • Tendinite do Manguito Rotador e Síndrome do Impacto