Parassonias: Manifestações Clínicas e Classificação


Parassonias: Manifestações Clínicas e Classificação


Introdução

As Parassonias representam um grupo heterogêneo de eventos comportamentais e/ou fisiológicos anômalos que emergem em associação com estágios específicos do sono ou transições sono-vigília, caracterizando-se por alterações do despertar ou um despertar incompleto.


Tipos de Parassonias

Sonambulismo

O sonambulismo é um transtorno do despertar do sono não-REM (NREM), particularmente das fases 3 ou 4 (sono de ondas lentas). Clinicamente, manifesta-se por o indivíduo levantar-se da cama e locomover-se durante o sono, exibindo um olhar fixo e uma expressão facial inexpressiva. Há uma notável ausência de resposta aos estímulos comunicativos externos. Durante o episódio, podem ocorrer comportamentos complexos e automáticos, como deambulação, troca de vestimentas ou micção em locais inadequados. O despertar do indivíduo é dificultado. Este transtorno é mais prevalente na infância e adolescência, especialmente entre 4 e 8 anos de idade, com tendência a remissão espontânea na fase adulta. No dia seguinte, o indivíduo tipicamente apresenta amnésia total ou quase total do evento. (1)


Terror Noturno

O terror noturno caracteriza-se por despertares abruptos do sono profundo (geralmente fase 4 do sono de ondas lentas), acompanhados de um grito lancinante de pânico. O quadro é marcado por medo intenso e sintomas autonômicos proeminentes, incluindo taquicardia, taquipneia, sudorese e midríase. A duração da crise varia de 5 a 20 minutos. Diferentemente dos pesadelos, o indivíduo senta-se na cama em estado de agitação e aparente terror, com midríase e taquipneia, retornando ao sono posteriormente. No período pós-crise, há amnésia total ou parcial do episódio. (1)


Sonilóquio

O sonilóquio, ou falar dormindo, consiste na emissão de sons, palavras ou frases durante o sono. Este fenômeno ocorre sem que o indivíduo adquira consciência momentânea da produção vocal e, subsequentemente, não há lembrança do ato de falar nem do conteúdo verbalizado. (1)


Paralisia do Sono

A paralisia do sono é um fenômeno de transição incompleta entre os estados de sono e vigília. Durante o despertar ou o adormecer, o indivíduo experimenta uma fraqueza muscular generalizada e incapacidade de realizar movimentos motores voluntários. Apesar de estar consciente, o indivíduo sente-se angustiado pela imobilidade, com a condição resolvida em poucos segundos com o despertar completo. Podem ocorrer alucinações hipnagógicas (ao adormecer, tipicamente visuais) ou hipnopômpicas (ao despertar). (1)


Bruxismo

O bruxismo pode ser classificado como um transtorno do despertar parcial, emergindo de períodos de sono profundo (fases 3 ou 4). Durante o sono, o indivíduo realiza o ranger vigoroso dos dentes, decorrente da atividade rítmica do músculo masseter. As consequências incluem desgaste dentário, dor orofacial, cefaleias, disfunção da articulação temporomandibular (ATM) e prejuízo na qualidade do sono. (1)


Enurese Noturna

A enurese noturna é a micção involuntária que ocorre durante o sono profundo, frequentemente no primeiro terço da noite (mais comum no estágio 2 do sono NREM). É considerada patológica em crianças acima de 4 anos de idade. A prevalência é maior em crianças até os 6 anos (25% dos meninos, 15% das meninas), persistindo em 2% dos adultos. A etiologia envolve o relaxamento do esfíncter urinário durante o sono. Tanto a tendência hereditária (há muita recorrência familiar do transtorno) quanto conflitos emocionais (como insegurança, hostilidade, medo, separação ou doença parental) são fatores associados à enurese na infância. (1)


Pesadelos

Os pesadelos são caracterizados por sonhos ansiosos com conteúdo ameaçador e aterrorizante, que ocorrem predominantemente durante o sono REM, geralmente no terço final da noite. Sua ocorrência pode estar ligada a conflitos emocionais, sejam eles inconscientes ou conscientes, períodos de ansiedade e tensão, e preocupações ou temores preexistentes ou atuais. É crucial diferenciar os pesadelos (sono REM, terço final da noite) do terror noturno (sono profundo, primeiro terço da noite). (1)

Quando há recorrência de pesadelos extremamente disfóricos, com sensação de ameaça à sobrevivência ou à integridade física, e a experiência causa sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas da vida do indivíduo, o DSM-5 propõe denominar transtorno do pesadelo. (1)


Referências Bibliográficas:

  1. DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.