Natação: Aspectos Fisiológicos, Nutricionais e de Treinamento


Natação: Aspectos Fisiológicos, Nutricionais e de Treinamento


Introdução

A natação competitiva é um esporte de alto desempenho caracterizado por uma demanda metabólica e fisiológica elevada, exigindo do atleta um perfil físico e nutricional específico para otimizar a performance.


Visão Geral do Esporte

A natação é um esporte composto por provas de diferentes durações e distâncias, variando de 50 a 1500 metros, e por diversos estilos, como livre (ou crawl), costas, peito e borboleta. No contexto olímpico, a natação abrange 32 provas oficiais. A classificação dos atletas é realizada de acordo com a faixa etária e a especialidade, definida pelas provas em que o nadador alcança seus melhores resultados. (1)

Tabela 1: Categorias etárias (1)

ClassesIdade
Mirim 19 anos
Mirim 210 anos
Petiz 111 anos
Petiz 212 anos
Infantil 113 anos
Infantil 214 anos
Juvenil 115 anos
Juvenil 216 anos
Junior 117 anos
Junior 218/19 anos
Sênior20 anos

Tabela 2: Especialidades por prova (1)

CaracterísticasProvas
Fundista800 e 1500 m Livre
Meio-fundista400 m Livre e Medley; 200 m Livre, Borboleta, Peito, Costas e Medley
Velocista50 e 100 m

Fisiologia do Exercício na Natação

O gasto energético na natação é consideravelmente elevado em comparação com outras modalidades. Esse dispêndio se justifica pela necessidade de o atleta manter a flutuação, superar a resistência da água, otimizar a eficiência mecânica, absorver oxigênio globalmente e se adaptar à temperatura do meio aquático, especialmente em águas frias. A energia despendida para nadar uma determinada distância é aproximadamente quatro vezes maior do que a necessária para percorrer a mesma distância em corrida. (1)

Mulheres apresentam uma economia energética cerca de 30% maior devido a um percentual de gordura corporal superior, que contribui para a flutuação. Essa vantagem hidrodinâmica é mais evidente em provas de longa distância, onde as diferenças de tempo entre homens e mulheres são menores. (1)

Tabela 3: Predominância dos sistemas energéticos (1)

Distância ATP-CP e Glicólise AnaeróbiaGlicólise Anaeróbia e Sistema AeróbioSistema Aeróbio
50m90%5%5%
100m80%15%5%
200m30%65%5%
400m20%40%40%
1500m10%20%70%

Composição Corporal e Treinamento

Nadadores tipicamente possuem um perfil físico característico, marcado por estatura e envergadura elevadas e musculatura proeminente na parte superior do tronco. O percentual de gordura corporal ideal varia entre 8-15% para homens e 15-22% para mulheres. Embora uma baixa quantidade de gordura seja vantajosa para diminuir a carga a ser movida na água, uma distribuição adequada de tecido adiposo pode beneficiar a flutuabilidade. (1)

A rotina de treinamento varia de seis a doze sessões semanais, com duração de 2 a 3 horas por dia. Atletas de elite podem chegar a dois ou três treinos diários, totalizando 6 horas. A distância percorrida em cada sessão depende da fase do treinamento. (1)

Tabela 4: Fases de treinamento (1)

FaseCaracterísticas e fundamentosPeríodos (semana)Distância / treino
BaseGrande volume, baixa intensidade125-6km
EspecíficoVolume e intensidade adaptados à característica do nadador, foco na técnica64-5km
PolimentoRedução de volume e intensidade, foco no descanso e técnica22-3km

Nutrição no Esporte Aquático

A nutrição para nadadores apresenta desafios específicos, como o aumento do apetite após o exercício (em contraste com o efeito anorexígeno da corrida) e a dificuldade de hidratação e ingestão de alimentos durante as sessões na piscina. (1)

Necessidade Energética

A demanda energética para nadadores é elevada e deve ser monitorada. Estudos de Sherman e Maglischo indicam que nadadores que treinam 4 horas por dia necessitam de 4.000-5.400 kcal/dia para homens e 3.400-4.000 kcal/dia para mulheres. Outras pesquisas, como a de Trappe et al., apontam para um gasto diário de aproximadamente 5.600 kcal. Grandjean e Ruud estimaram as necessidades energéticas entre 50-68 kcal/kg para homens e 35-62 kcal/kg para mulheres. Sato et al. observaram que o gasto energético aumenta significativamente com a intensidade do treino, passando de 496 kcal/dia para 995 kcal/dia em homens, e de 361 kcal/dia para 819 kcal/dia em mulheres, nos períodos de preparação e treinos intensos, respectivamente. (1)

É comum que, em períodos de alta intensidade e volume, a ingestão energética seja inferior ao gasto calórico, o que pode levar à perda de gordura subcutânea, mesmo com a manutenção da massa corporal. Portanto, é recomendado que atletas com alta demanda energética aumentem o fracionamento das refeições e consumam alimentos de alta densidade energética (como frutas secas, oleaginosas, pães e tubérculos) ou suplementos (bebidas esportivas, barras energéticas e hipercalóricos). (1)

Macronutrientes

Carboidratos: O consumo de carboidratos deve ser a prioridade nutricional para nadadores. Recomenda-se a ingestão diária de 5-8 g/kg ou 60-70% do valor energético total, totalizando pelo menos 600 g/dia. Durante o exercício, o consumo deve ser de 30-60 g por hora. (1)

Estratégias para garantir a ingestão incluem o uso de suplementos ou alimentos ricos em carboidratos na beira da piscina, como frutas secas, bebidas esportivas, maltodextrina e carboidrato em gel. A refeição pré-treino deve ser planejada para evitar desconforto gastrointestinal, priorizando lanches leves, ricos em carboidratos e com baixo teor de fibras, gorduras e laticínios, especialmente se o intervalo para o treino for menor que 3 horas. (1)

A reposição de glicogênio é crucial após o treino, e o consumo de carboidratos deve ocorrer preferencialmente até 1 hora após a sessão, priorizando a quantidade em relação ao tipo. (1)

Proteínas: A ingestão diária recomendada para atletas é de 1,2 a 1,6 g/kg. Embora estudos indiquem que nadadores geralmente atingem ou superam essa necessidade, o consumo excessivo de proteínas pode prejudicar a biodisponibilidade de cálcio e levar à desidratação. (1)

Micronutrientes

Nadadores podem requerer atenção especial à ingestão de ferro, cálcio e vitaminas antioxidantes, particularmente as mulheres. O ferro é vital para o desempenho esportivo. Em relação ao cálcio, muitos estudos mostram um consumo abaixo do recomendado, o que é preocupante, visto que o ambiente aquático não favorece a formação de massa óssea. (1)

De forma geral, a suplementação de vitaminas e minerais não é necessária se a ingestão energética for adequada e a dieta for variada. O uso de vitamina C pode ser considerado para reduzir o estresse oxidativo e os níveis de cortisol pós-exercício. A suplementação de creatina é tema de debate, com alguns estudos indicando que pode prejudicar a flutuabilidade devido ao aumento da massa corporal, enquanto outros mostram um aumento na velocidade em provas de curta distância. (1)


Hidratação

A hidratação é um dos pontos mais importantes na orientação nutricional de nadadores. O risco de desidratação é maior em piscinas aquecidas (> 28 °C), pois a troca de calor com o ambiente aquático é mais intensa. A imersão na água também dificulta a percepção da sudorese, limitando a reposição hídrica. (1)

Recomenda-se que os atletas mantenham garrafas com bebidas esportivas, maltodextrina ou água na beira da piscina, consumindo líquidos entre as séries de treino. A taxa de sudorese de nadadores varia entre 135 ml/km para homens e 105 ml/km para mulheres. Assim, um treino de 5000 m exigiria uma reposição de 525 a 675 ml. Contudo, devido à grande variabilidade individual, o monitoramento da perda de peso pós-treino é a forma mais precisa de avaliar as necessidades hídricas. (1)


Referências Bibliográficas:

1- DASKAL, Márcia. Nutrição esportiva: uma visão prática. 3. ed. Barueri: Manole, 2014.