Transplantados – Implicações físicas dos transplantes


Transplantados – Implicações físicas dos transplantes


Introdução:

Os avanços terapêuticos na prevenção e tratamento da rejeição em pacientes submetidos a transplantes de órgãos sólidos (TOS) culminaram em uma significativa extensão da sobrevida. Contudo, essa longevidade expõe uma nova vulnerabilidade, com as doenças cardiovasculares (DCV) emergindo como a principal causa de mortalidade nessa população. A dislipidemia é um fator de risco cardiovascular altamente prevalente no contexto do transplante, demandando uma estratégia de manejo especializada.


Dislipidemia em pacientes transplantados:

Com os progressos nas terapêuticas anti-rejeição, a sobrevida dos indivíduos submetidos a transplante aumentou consideravelmente, elevando as doenças cardiovasculares (DCV) à posição de principal etiologia de mortalidade nessa população. (1)

A dislipidemia demonstra elevada prevalência em pacientes pós-transplante de órgãos sólidos, com incidência estimada em até 80% nos receptores renais, 70% nos hepáticos e 50% nos cardíacos, superando significativamente a prevalência de aproximadamente 35% na população geral. (1)

O principal fator etiológico reside na utilização de imunossupressores, particularmente os inibidores de calcineurina (como ciclosporina e tacrolimo) e os corticosteroides. Tais agentes estão implicados na elevação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e dos triglicerídeos (TG), além de estarem associados ao desenvolvimento de hipertensão arterial sistêmica, resistência à insulina, hiperglicemia e Diabetes Mellitus (DM). (1)

A dislipidemia induzida é caracterizada por um perfil semelhante ao causado pelos corticosteroides, porém com um incremento mais acentuado do LDL. As DCV figuram como a principal causa de óbito após transplantes cardíacos e renais, e a segunda após transplantes hepáticos. (1)

Embora não sejam automaticamente categorizados em uma classe de risco específica, os pacientes transplantados (notadamente de órgãos sólidos como rim, coração e fígado) exibem um risco cardiovascular significativamente elevado. (1)

Em virtude disso, o emprego de estatinas é veementemente recomendado, excetuando-se o período inicial de 1 a 2 meses após o transplante hepático. Sugere-se o início com doses baixas devido ao risco de interações farmacológicas. É imperativo ressaltar que o uso de sinvastatina, lovastatina e pitavastatina deve ser evitado em pacientes que utilizam ciclosporina. (1)

A ezetimiba é considerada uma alternativa terapêutica segura. Até o momento, as terapias anti-PCSK9 não foram avaliadas nessa população, apesar de, teoricamente, apresentarem ausência de interações medicamentosas relevantes. (1)

O manejo da dislipidemia em indivíduos transplantados exige individualização, uma vez que os fármacos essenciais para a prolongação da sobrevida são os mesmos que desencadeiam o distúrbio lipídico. (1)

O controle prioritário da dislipidemia é fundamental, pois a negligência desse aspecto pode comprometer a sobrevida a longo prazo. (1)


Referência Bibliográfica:

1- RACHED, Fabiana Hanna et al. Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2025. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 122, n. 9, e20250640, 2025. DOI: 10.36660/abc.20250640.