Hidradenite Supurativa: Aspectos Clínicos, Diagnóstico e Abordagens Terapêuticas


Hidradenite Supurativa: Aspectos Clínicos, Diagnóstico e Abordagens Terapêuticas


Introdução

A hidradenite supurativa (HS) é reconhecida como uma dermatose inflamatória crônica do folículo piloso e estruturas anexas, caracterizada por um processo semelhante à acne, com predileção por áreas intertriginosas como axilas, virilhas e regiões perimamilar e perianal, resultando em formação de cicatrizes. A inflamação folicular, seguida por oclusão, culmina na ruptura folicular e no desenvolvimento de abscessos, trajetos fistulosos e fibrose cicatricial.


Etiopatogenia e Manifestações Clínicas

A HS é uma doença inflamatória crônica do folículo piloso e das estruturas associadas. O mecanismo patogênico envolve inflamação folicular e subsequente oclusão, levando à ruptura do folículo e ao desenvolvimento de abscessos, fístulas e cicatrizes.

Clinicamente, desenvolvem-se massas edemaciadas e sensíveis, que mimetizam abscessos cutâneos, sendo frequentemente estéreis. Em estágios crônicos, observa-se dor, flutuação, formação de trajetos fistulosos e drenagem de secreção. Nestes casos avançados, podem ocorrer infecções bacterianas secundárias nos abscessos profundos e nas fístulas. Quando localizada nas axilas, a cronicidade pode levar à coalescência dos nódulos inflamatórios, formando cordões palpáveis fibróticos. Devido à dor e ao odor fétido associado à drenagem de secreção, a doença pode ser significativamente incapacitante.


Diagnóstico e Estadiamento

O diagnóstico da hidradenite supurativa é primariamente clínico. Em pacientes com doença crônica, é recomendada a obtenção de culturas de abscessos profundos e fístulas, embora patógenos frequentemente não sejam isolados.

O sistema de estadiamento de Hurley é amplamente utilizado para classificar a gravidade da doença:

  1. Estágio I: Caracteriza-se pela formação de abscessos, que podem ser únicos ou múltiplos, sem evidência de trajetos fistulosos ou formação de cicatrizes.
  2. Estágio II: Presença de abscessos recorrentes, únicos ou múltiplos e esparsamente separados, com formação de fístulas e/ou cicatrizes.
  3. Estágio III: Envolvimento difuso ou quase difuso da região afetada, com múltiplos abscessos e fístulas interconectados em toda a área.

Abordagens Terapêuticas

Os objetivos do tratamento da hidradenite supurativa são a prevenção de novas lesões, a redução da inflamação e a remoção dos trajetos fistulosos. O regime terapêutico é escalonado de acordo com o estágio da doença, conforme o sistema de Hurley.

Estágio I (Doença Leve)

O tratamento típico inclui:

  • Tópicos: Solução de clindamicina a 1% (2 vezes ao dia) ou creme de resorcina tópico a 15% (uma vez ao dia).
  • Sistêmicos: Gliconato de zinco oral (90 mg uma vez ao dia).
  • Intralesional: Corticoides intralesionais, como 0,1 a 0,5 mL de solução de acetonida de triancinolona de 5 a 10 mg/mL (1 vez por mês).
  • Antibioticoterapia Oral (Curta Duração): Cursos breves de 7 a 10 dias de tetraciclina, doxiciclina, minociclina ou eritromicina, até a resolução das lesões.
  • Pode-se utilizar a lavagem da pele com peróxido de benzoíla.

Regimes terapêuticos podem incluir um tratamento tópico e um antibiótico oral, mas todas as modalidades podem ser utilizadas isoladamente ou em combinação, conforme a avaliação clínica.

Estágio II (Doença Moderada)

O manejo envolve cursos mais longos (p. ex., 2 a 3 meses) dos mesmos antibióticos orais utilizados no estágio I.

  • Antibioticoterapia Oral (Longa Duração): Se a resposta for incompleta, a combinação de clindamicina e/ou rifampicina pode ser adicionada ao regime.
  • Terapia Antiandrógena: Em mulheres, a adição de terapia antiandrógena pode ser benéfica, utilizando estrogênio oral ou contraceptivos orais combinados, espironolactona, acetato de ciproterona (não disponível nos Estados Unidos) ou finasterida.
  • Procedimentos Cirúrgicos Localizados:
    • Incisão e Drenagem: Podem aliviar a dor de um abscesso, mas são insuficientes para o controle da doença a longo prazo.
    • Desbridamento por Punção: Preferível para lesões inflamatórias agudas não excessivamente profundas (excisão com instrumento de punção de 5 a 7 mm, seguida de desbridamento digital e curetagem).
    • Destelhamento e Desbridamento: Essenciais para o tratamento de trajetos fistulosos.
  • Pacientes com lesões mais profundas devem ser encaminhados para avaliação com um cirurgião plástico para considerar excisão e enxertia.

Estágio III (Doença Grave)

O tratamento, tanto conservador quanto cirúrgico, deve ser mais agressivo.

  • Terapia Biológica: A eficácia na redução da inflamação é mais robusta para o infliximabe. Alternativamente, pode-se administrar adalimumabe ou secuquinumabe, que também demonstrou ser eficaz.
  • Retinoides Orais: Isotretinoína (por 4 a 6 meses) ou acitretina (por 9 a 12 meses) foram eficazes em alguns pacientes.
  • Cirurgia Excisional Ampla: Se a doença persistir, a excisão cirúrgica ampla, seguida de reparo e enxertia de pele das áreas afetadas, é frequentemente necessária.
  • Laser Ablativo: O tratamento com laser ablativo (CO2 ou erbium:YAG) é uma alternativa à intervenção cirúrgica.
  • Outros: A depilação a laser também demonstrou algum sucesso.

Medidas Adjuvantes

As seguintes medidas adjuvantes são recomendadas para todos os pacientes com hidradenite supurativa:

  • Manter uma boa higiene da pele.
  • Minimizar traumas na área afetada.
  • Fornecer suporte psicológico.
  • Considerar evitar dietas com alto índice glicêmico.

Referências Bibliograficas:

1-