Condropatia Patelar: Etiopatogenia, Classificação e Manejo Clínico


Condropatia Patelar: Etiopatogenia, Classificação e Manejo Clínico


Introdução

Embora os termos condromalácia patelar e condropatia patelar sejam frequentemente utilizados de forma intercambiável na prática clínica para designar afecções da cartilagem patelar, é fundamental estabelecer a distinção nosológica entre ambas. A condromalácia patelar refere-se especificamente ao amolecimento e consequente desgaste da cartilagem articular. Em contrapartida, a condropatia patelar constitui uma terminologia mais abrangente, englobando um espectro variado de lesões cartilaginosas da patela, o qual inclui a própria condromalácia como um subconjunto.


Etiologia e Fatores de Risco

A fisiopatologia da condropatia patelar é multifatorial, podendo decorrer de disfunções biomecânicas, eventos traumáticos ou processos degenerativos. Os principais fatores etiológicos incluem:

  • Alterações anatômicas e estruturais: incongruências que comprometem a interface articular patelofemoral, exacerbando a pressão nas zonas de contato;
  • Sobrecarga mecânica: atividades de alto impacto (como corridas, saltos e crossfit) ou exercícios com carga excessiva que geram estresse repetitivo;
  • Condições sistêmicas subjacentes: artrites e patologias multifatoriais que induzem alterações articulares;
  • Processos degenerativos: prevalentes na população geriátrica, embora passíveis de ocorrência em indivíduos jovens;
  • Desalinhamento patelar: frequentemente associado a predisposição genética;
  • Erros de treinamento: execução inadequada da mecânica do exercício;
  • Déficits de flexibilidade: redução da extensibilidade muscular (encurtamento);
  • Disfunções biomecânicas: fraqueza muscular ou desequilíbrios que alteram a área de contato patelofemoral;
  • Fatores antropométricos: sobrepeso e obesidade, que aumentam a força de reação articular.

Estadiamento da Lesão Condral

A condropatia patelar manifesta-se em diferentes graus de severidade, estratificados conforme a profundidade e extensão do comprometimento tecidual:

  • Grau I: Amolecimento (edema) da cartilagem sem evidência de fissuras;
  • Grau II: Presença de fissuras superficiais, acometendo menos de 50% da espessura condral;
  • Grau III: Fissuras profundas que comprometem mais de 50% da espessura da cartilagem;
  • Grau IV: Erosão completa da espessura da cartilagem com exposição do osso subcondral adjacente.

Quadro Clínico

A sintomatologia caracteriza-se predominantemente por algia e comprometimento funcional:

  • Artralgia funcional: dor ao realizar agachamentos;
  • Sensibilidade térmica: exacerbação da sensibilidade em baixas temperaturas;
  • Creptação articular: presença de ruídos internos durante a movimentação;
  • Déficit funcional: dificuldade para subir e descer escadas;
  • Gonalgia anterior: dor que pode manifestar-se ao ajoelhar, durante ortostatismo prolongado ou uso de calçados com salto elevado;
  • Dor relacionada ao esforço: causada por atividades físicas ou pela manutenção prolongada da posição sentada (sinal do cinema);
  • Sinais inflamatórios: edema e hipersensibilidade na região patelar;
  • Instabilidade: sensação de falseio ou fraqueza muscular.

Abordagem Terapêutica

O manejo da condropatia patelar é multimodal, dependendo do estágio da lesão e da resposta clínica, podendo envolver terapia medicamentosa, reabilitação física e intervenção cirúrgica.

Tratamento Medicamentoso

Visa o controle sintomático e a modulação inflamatória:

  • Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs): para analgesia e controle da inflamação;
  • Corticosteroides: infiltrações intra-articulares indicadas para casos refratários;
  • Condroprotetores: suplementação com condroitina e glucosamina.

Tratamento Cirúrgico

Indicado na falha das abordagens conservadoras, compreendendo:

  • Artroscopia: para desbridamento de fragmentos cartilaginosos livres e regularização da superfície articular;
  • Realinhamento patelar: correção cirúrgica da trajetória da patela;
  • Técnicas regenerativas: transplante de cartilagem ou microfraturas para estímulo da condrogênese.

Fisioterapia

A fisioterapia é essencial para o fortalecimento muscular, otimização biomecânica, analgesia e restauração da função articular. As condutas são adaptadas à gravidade dos sintomas e à etiologia subjacente.

Treinamento de Equilíbrio e Propriocepção: O desenvolvimento do reconhecimento espacial corporal visa melhorar a estabilidade articular e prevenir recidivas de lesões.

Terapia Manual: Técnicas manuais, incluindo massagem, manipulação e liberação miofascial, são empregadas para promover analgesia, melhorar a perfusão tecidual e auxiliar na recuperação tecidual.

Cinesioterapia de Fortalecimento: Exercícios direcionados aos músculos do quadríceps, isquiotibiais e glúteos objetivam aumentar a estabilidade do joelho, aprimorar a biomecânica e reduzir a carga sobre a patela.

Alongamento e Mobilização: Indicados para restaurar a flexibilidade das estruturas tendíneas e musculares periarticulares, bem como para potencializar a mobilidade articular.

Reabilitação Gradual: Instituição de um programa progressivo, iniciando com exercícios de baixa intensidade com aumento gradual de carga, conforme a evolução da força e resistência do paciente.


Prevenção

Medidas profiláticas são recomendadas para evitar o desenvolvimento ou agravamento da condropatia:

  • Utilização de calçados adequados à biomecânica da atividade física;
  • Correção de desequilíbrios musculares e alinhamento biomecânico;
  • Controle da carga de treinamento, evitando aumentos abruptos de volume ou intensidade;
  • Manutenção da flexibilidade da musculatura isquiotibial e gastrocnêmia;
  • Adesão a um programa de fortalecimento muscular com ênfase no complexo lumbopélvico (core) e quadríceps.

Referências Bibliográficas:

1-