Abordagem Terapêutica e Fisiopatológica das Alopecia
Introdução à Alopecia
A alopecia refere-se à perda de cabelo e pode se manifestar em diferentes tipos, cada um com sua fisiopatologia e abordagens terapêuticas específicas. Existem dois tipos principais: a alopecia androgênica (de padrão masculino) e a alopecia areata. Além dessas, o líquen plano pilar representa uma forma de alopecia cicatricial primária.
Tipos de Alopecia
Alopecia Androgênica (AAG)
A alopecia androgênica (AAG), conhecida como calvície de padrão masculino ou feminino, é a forma mais comum de queda de cabelo, afetando aproximadamente 40-80% dos homens e 20-40% das mulheres (2). É uma doença multifatorial com um forte componente genético, sendo sua herdabilidade estimada em até 85% dos casos (2). Geralmente, a queda capilar se inicia entre os 20 e 30 anos, acentuando-se progressivamente com a idade (2).
A fisiopatologia da AAG está primariamente ligada à elevação dos níveis de andrógenos, especialmente a di-hidrotestosterona (DHT), que são as principais responsáveis por desencadear a queda capilar (1, 2). A enzima 5-alfaredutase converte a testosterona em DHT. A DHT se liga ao receptor de andrógenos (AR) no folículo capilar, resultando no encurtamento da fase anágena (crescimento) e na extensão da fase telógena (ejeção dos fios). Esse processo leva à miniaturização do folículo capilar (2). Embora os andrógenos inibam o crescimento do cabelo no escalpo, eles estimulam o crescimento de pelos em outras regiões do corpo, como face, tórax e dorso (1).
Alopecia Areata
A alopecia areata é uma doença autoimune altamente prevalente, que resulta em perda de cabelo desfigurante (1, 2). É caracterizada por alterações imunológicas do folículo piloso, com um subsequente ataque autoimune (1, 2). A perda de cabelo é classificada como não cicatricial e pode se iniciar com manchas bem circunscritas que podem coalescer, progredindo para todo o couro cabeludo (alopecia totalis) ou até mesmo para todo o corpo (alopecia universalis) (1, 2).
O fenômeno de “branqueamento súbito do cabelo” é atribuído ao início agudo da alopecia areata em momentos de estresse, medo ou luto (2). Apesar das alterações significativas no folículo piloso, não há destruição permanente dos órgãos, e é possível que o cabelo se regenere (2). Evidências científicas também associam a alopecia areata com a doença inflamatória intestinal (DII), principalmente devido à expressão de genes relacionados a condições como colite ulcerativa e doença de Crohn, que estão ligadas a processos inflamatórios (2).
Líquen Plano Pilar (LPP) – Alopecia Cicatricial Primária
O líquen plano pilar (LPP) é um tipo de alopecia cicatricial primária (2). Nesse tipo de alopecia, o processo inflamatório está diretamente ligado ao folículo capilar, o que provavelmente causa perda capilar permanente ao induzir a destruição do folículo na região do bulbo capilar (2).
Avaliações imuno-histoquímicas e análises de expressão gênica sugerem a participação de células T-helper (Th-1) como agentes importantes na fisiopatologia do LPP (2). Além disso, a ação do PPAR-gama (receptor ativado por proliferador de peroxissoma gama) parece ser limitada nas células do bulbo de portadores de LPP, mas ativada na síndrome metabólica. Em modelos animais, a deleção do gene que codifica o PPAR-gama resulta em um fenótipo de alopecia (2).
Tratamento da Alopecia
O tratamento da alopecia pode envolver abordagens farmacológicas e nutricionais, visando estimular o crescimento capilar, modular respostas hormonais ou controlar processos inflamatórios.
Tratamento Farmacológico
- Minoxidil: Este fármaco é um vasodilatador que, quando aplicado topicamente, é convertido nos folículos pilosos em seu metabólito mais potente, o sulfato de minoxidil (1). Acredita-se que o minoxidil estimule o crescimento de novos pelos e a progressão do folículo ao longo das fases do ciclo celular, possivelmente devido ao aumento do fluxo sanguíneo para os folículos pilosos (1). Seu uso pode, inicialmente, levar a uma perda de cabelo, na qual folículos “paralisados” caem para dar lugar a novos folículos que crescem rapidamente (1).
- Finasterida: Atua como um inibidor da enzima 5-alfaredutase e tem demonstrado ser benéfica para indivíduos com alopecia androgênica (2).
Terapia Nutricional
A terapia nutricional para alopecia foca na inclusão de princípios ativos de origem vegetal que exercem papel protetor na pele e, consequentemente, nos folículos pilosos. Entre os mais importantes, destacam-se:
- Licopeno
- Luteína
- Catequinas
- Resveratrol
- Isoflavonas
- Vitaminas E e C (2)
Para o Líquen Plano Pilar (LPP), especificamente:
- Tratamentos com agonistas de PPAR-gama têm sido sugeridos para melhorar o quadro inflamatório (2).
- O consumo de alimentos ricos em ômega-3, mais precisamente EPA e DHA, ou sua suplementação, parece ter efeitos positivos na modulação da resposta pró-inflamatória mediada pelo PPAR-gama (2).
Referências Bibliográficas
- RITTER, J. M. et al. Rang & Dale Farmacologia. 9. ed. Guanabara Koogan, 2020. 789 p.
- COMINETTI, C.; COZZOLINO, S. Bases Bioquímicas e Fisiológicas da Nutrição nas Diferentes Fases da Vida, na Saúde e na Doença. 2. ed. Manole, 2020. 1369 p.