Endometriose: Diagnóstico, Fisiopatologia e Abordagens Terapêuticas


Endometriose: Diagnóstico, Fisiopatologia e Abordagens Terapêuticas

Introdução

A endometriose é uma doença inflamatória crônica e estrogênio-dependente, caracterizada pela proliferação de células endometriais fora da cavidade uterina (9). Essas células podem se localizar em diversas regiões ectópicas, como peritônio pélvico, ovários e septo retovaginal (2, 7, 11). Acredita-se que todas as mulheres desenvolvam endometriose em algum grau, mesmo que microscopicamente (8).

A doença afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva, sendo encontrada em 25-40% das mulheres com infertilidade e em 40-87% das mulheres com dores pélvicas crônicas (5).

Fisiopatologia

O desenvolvimento da endometriose envolve a interação de processos endócrinos, imunológicos, pró-inflamatórios e pró-angiogênicos (2, 8). No entanto, ainda não está claro se esses fatores são patogênicos (causais) ou apenas relativos ao processo fisiopatológico da doença (2).

A proliferação dos depósitos endometrióticos requer estradiol, que é fornecido tanto pelo sistema hormonal quanto localmente, devido ao aumento da expressão de aromatases e de proteínas reguladoras agudas de esteroidogênicos, além da diminuição da expressão de 17β-hidroxiesteroide desidrogenase 2 pelas lesões endometrióticas (2).

São descritos três tipos de endometriose na literatura: peritoneal, ovariana e “endometriose infiltrada profunda” (1). A apresentação da doença varia desde lesões superficiais de cores variadas até cistos nos ovários (endometrioma) e nódulos com penetração superior a 5mm (profunda) (2). Não há evidências suficientes sobre uma progressão ordenada das lesões no endométrio (2).

Teorias de Origem

As origens postuladas do tecido endometriótico são: a menstruação retrógrada, a metaplasia celômica e metástases linfáticas e vasculares (2). A menstruação retrógrada é o modelo mais aceito, visto que é a mais observada entre as pacientes (11). A menstruação retrógrada é o refluxo de resíduos menstruais contendo células endometriais viáveis através das trompas de Falópio para a cavidade peritoneal (2, 11). É importante ressaltar que todos os fatores que estimulam o fluxo menstrual também são fatores de risco para a endometriose, incluindo menarca precoce, ciclos menstruais curtos e ciclos menstruais longos ou com ciclos obstruídos (2, 11).

Inflamação e Estresse Oxidativo

A endometriose é uma doença inflamatória crônica, estrogênio-dependente, caracterizada pelo aparecimento da mucosa uterina, incluindo a submucosa e células glandulares, além da cavidade uterina, predominantemente na cavidade peritoneal e nos ovários, mas podendo ocorrer também no diafragma, fígado e até na parede abdominal (1, 3, 11).

A proliferação dos depósitos endometrióticos estimula a formação de grandes quantidades de prostaglandinas, promovendo a inflamação e, consequentemente, contrações dolorosas (4). Durante a progressão da doença, as mudanças resultam em reações imunes anormais, contribuindo para o aumento de agentes pró-inflamatórios (4).

Mulheres com endometriose apresentam níveis aumentados de marcadores de peroxidação lipídica no sangue e no fluido peritoneal, o que promove a adesão de células e a ativação dos macrófagos. Como consequência, há a liberação de oxigênio reativo e espécies de nitrogênio, levando ao estresse oxidativo (4). As células endometrióticas geram uma resposta inflamatória e imune localizada, produzindo citocinas, quimiocinas e prostaglandinas (2). A disfunção do sistema imune inato é evidente, mas ainda não está claro se essa disfunção inicia a endometriose ou se é uma consequência dela (2). A resposta inflamatória envolve monócitos e macrófagos, neutrófilos, células T e eosinófilos, atraídos pelas quimiocinas CC e CXC produzidas pelo endométrio ectópico (2).

Relação com Outras Condições

Devido a todas essas alterações, existe um risco aumentado para câncer ovariano e, com menor evidência, também para melanoma, linfoma não Hodgkin, câncer tireoidiano e endometrial (2). Em adição a isso, uma meta-análise mostrou um aumento significativo no risco para diversas doenças autoimunes. No entanto, os estudos utilizados foram de baixa qualidade (2).

A deficiência nutricional (ácido fólico, vitamina B12, zinco e colina) pode interferir com a metilação do DNA, resultando em anormalidades epigenéticas (4). Dietas deficientes nesses nutrientes mostraram alterações no metabolismo lipídico e no estresse oxidativo (4).

Fatores de Risco

  • Baixo peso ao nascer (2)
  • Menarca precoce (2)
  • Período menstrual curto (2)
  • Baixo IMC (2)
  • Baixa relação cintura/quadril (2)
  • Baixa paridade (menor fertilidade?) (2)

É necessário ter cautela ao analisar esses riscos, pois ainda não é claro se são causas ou consequências da endometriose (2).

Fenótipos da Endometriose

  • Lesões peritoneais superficiais (SUP): Menos severa, com lesões endometriais superficiais no peritônio (tecido que reveste a cavidade pélvica) (11).
  • Endometriomas ovarianos (OMA): Massas císticas de tecido endometrial ectópico que crescem dentro do ovário (11). Flutuações hormonais (estrogênio e progesterona) e a ovulação são cruciais para o desenvolvimento (11).
  • Endometriose infiltrativa profunda (DIE): Fenótipo mais grave, definida por lesões subperitoneais que penetram o tecido mais profundamente (mais de 5 mm sob a superfície peritoneal) ou que infiltram a muscular própria dos órgãos circundantes (bexiga, intestino, ureter) (11). Nódulos DIE raramente são isolados, apresentando geralmente uma distribuição multifocal (11).

Estágios da Doença

A revised American Society of Reproductive Medicine (rASRM) divide a doença em 4 estágios conforme a avaliação cirúrgica do tamanho, localização e severidade da lesão do tecido endometriótico, além da extensão das adesões (11). O estágio I é definido com um número limitado de lesões e adesões, que podem gerar dor severa, infertilidade ou ambos. Já o estágio IV é caracterizado por um número extenso de lesões e endometrioma, com adesões profundas que podem ser assintomáticas (2).

Endometriose é uma Doença Autoimune?

As evidências disponíveis mostram diversas similaridades entre a endometriose e doenças autoimunes, como doença de Crohn, psoríase e artrite reumatoide (8). Entre essas similaridades, destacam-se os níveis elevados de citocinas, como TNF-α, e os efeitos fisiopatológicos dessa produção aumentada (8).

Sintomas e Dor Associada

Os principais sintomas da endometriose incluem:

  • Dismenorreia (cólicas menstruais) (2, 7, 8)
  • Dispareunia (dor genital durante/pós-sexo) (2, 7)
  • Disquezia (dificuldade para evacuar) (2)
  • Dor pélvica (7, 8, 11)
  • Irregularidade menstrual (7)
  • Infertilidade (7, 11)

Aproximadamente 50% das mulheres terão a recorrência dos sintomas independentemente do tratamento em um prazo de 5 anos (2). É mais comum que mulheres com endometriose apresentem outras condições coexistentes do que aquelas sem endometriose (2).

Dor Relacionada à Endometriose

Diversos mecanismos são propostos para explicar a dor. Um deles sugere que, após a menstruação retrógrada, células endometriais localizadas fora do útero estimulam a infiltração de células imunes, como macrófagos e mastócitos, nas lesões, secretando mediadores pró-inflamatórios e resultando em um microambiente peritoneal inflamado (11).

A inflamação do fluido peritoneal na endometriose pode levar à estimulação e sensibilização de nervos periféricos (11). Além disso, o estímulo persistente contribui para a sensibilização central e para dor miofascial (11). Por isso, sintomas relacionados à dor devem ser tratados rapidamente para evitar alterações no sistema nervoso central. A dor pélvica crônica não responsiva aos tratamentos convencionais é comum em aproximadamente 30% dos pacientes (2).

Diagnóstico

O exame diagnóstico padrão é a laparoscopia, sendo sugerida a coleta de material para exame histopatológico (1, 2). Outro método utilizado como diagnóstico é a colonoscopia, que pode visualizar o “foco” da endometriose, além do exame físico (1). De qualquer forma, um diagnóstico definitivo requer visualização cirúrgica (2). Ainda não existem biomarcadores para detectar a endometriose (2).

Alterações Bioquímicas

  • Vitamina D: Níveis geralmente baixos. Embora não haja relação direta com a causa da doença, é importante avaliar (2).

Conduta Clínica

O tratamento da endometriose foca na supressão local ou sistêmica do estrogênio, na inibição da proliferação do tecido e na inflamação (2). É importante ressaltar que os tratamentos existentes não curam a doença, sendo comum a recorrência após a intervenção (3).

Tratamento Médico Farmacológico

Terapia Hormonal

  • Contraceptivos orais: Contraceptivos de progestina ou combinados são geralmente a primeira linha de tratamento para dismenorreia e dor pélvica, com ou sem presunção de endometriose (2, 12).
  • GnRH (Hormônio Liberador de Gonadotrofinas): É a segunda linha de tratamento, responsável por diminuir os níveis sistêmicos de estrogênio (2).

Observação: O tratamento hormonal não é indicado para mulheres que desejam engravidar (2). Pode ser interessante considerar baixas doses de estrogênio para diminuir os efeitos da menopausa, como a perda da densidade óssea (2).

Analgesia

A dor relacionada à endometriose é frequentemente manejada com uma combinação de acetaminofeno e anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) (2). A dor é influenciada por fatores emocionais, hormonais, entre outros. Nesse sentido, tratamentos farmacológicos para a dor podem incluir analgésicos, ansiolíticos, antidepressivos, estabilizadores de membrana, entre outros.

Tratamento Cirúrgico

A remoção cirúrgica das lesões endometrióticas não afeta a patologia da endometriose em si, por isso, as lesões tendem a reaparecer (11). Idealmente, a paciente deve realizar o procedimento cirúrgico apenas uma vez durante toda a vida com endometriose, sendo proposto por alguns autores que o melhor momento para isso é quando a paciente deseja engravidar (11).

Terapia Nutricional e Suplementação

Alimentação

  • Alimentação baseada em alimentos anti-inflamatórios: Uma alimentação com foco anti-inflamatório parece ser benéfica para a doença (2, 3, 6).
  • Redução do consumo de gorduras trans: O consumo de gorduras trans foi associado a um padrão alimentar inflamatório, relacionado ao aumento de citocinas pró-inflamatórias como o TNF-receptor, IL-6 e PCR (4, 6).
  • Redução do consumo de carnes vermelhas: A carne vermelha é associada a maiores concentrações de estradiol e sulfato de estrona, e seu consumo contribui para níveis aumentados de hormônios esteroides (há um aumento nas concentrações séricas de estrogênio), colaborando para o desenvolvimento da doença (4, 10). Outro problema da carne vermelha é o alto teor de ácido araquidônico (Ômega-6), que, em excesso, aumenta a proliferação de substâncias pró-inflamatórias (4). No entanto, o problema da carne vermelha não parece estar relacionado ao tipo de gordura (gordura saturada e ácido palmítico) (3). É proposta a substituição da carne vermelha por peixes, ovos e mariscos (3).

Suplementação Nutricional

  • Ômega-3: Estudos demonstram que o consumo de ômega-3 é capaz de reduzir o risco para o desenvolvimento da endometriose (1). A suplementação de Ômega-3 parece benéfica. O consumo de ômega-3 tem um papel importante na regulação das prostaglandinas e em algumas citocinas como IL-1, IL-2, IL-6 e TNF (6). O ômega-3 (ácido eicosapentaenoico e ácido docosaexaenoico) é um substrato para a síntese de mediadores químicos da série “odd” (PGE3 e LTB5) com menor atividade inflamatória (4, 12). É proposta uma razão entre 2:1 e 4:1 de ômega-6:ômega-3 (4). O aumento da razão ômega-6/ômega-3 é associado ao aumento da dor menstrual e da desordem autoimune em mulheres (4). Tem sido observado que a suplementação de ômega-3 pode diminuir o crescimento do endométrio, reduzindo a dor e a inflamação, e melhorando a qualidade de vida de pacientes com estágio III e IV de endometriose (4, 9). Alguns estudos têm relacionado esses efeitos principalmente ao EPA (4). Os PUFAs (ácidos graxos poli-insaturados) são provavelmente os suplementos mais estudados para a endometriose (12). Alguns estudos demonstram que mulheres com níveis elevados de EPA são menos propensas a desenvolver a endometriose (12).
  • Zinco: Um estudo com pacientes com artrite reumatoide mostrou que a baixa concentração de zinco plasmática está associada a níveis elevados de TNF e IL-1, resultado importante considerando a fisiopatologia da endometriose (12). Embora não haja estudos com a suplementação de zinco e a endometriose, alguns pesquisadores encontraram que pessoas sem endometriose consumiam maiores quantidades de zinco do que aquelas com a doença (12).
  • Magnésio: Alguns autores observaram que as tubas uterinas de mulheres com endometriose se contraem de forma irregular e mais espasmódica (12). O magnésio tem a capacidade de relaxar músculos lisos e, como resultado, pode afetar a menstruação retrógrada, considerada a principal causa da endometriose (12). Com isso, é possível discutir sobre o papel do magnésio na diminuição do risco para endometriose, principalmente com o consumo alimentar de magnésio (12). Outros autores estudaram as mudanças no fator de crescimento endotelial vascular no tecido uterino com a suplementação de magnésio em animais e concluíram que o magnésio pode ser útil em doenças ginecológicas onde a angiogênese é parte da fisiopatologia (12).
  • Vitamina D: A vitamina D é um regulador clássico das vias inflamatórias e tem sido amplamente estudada (1). É demonstrado que o consumo de vitamina D está inversamente relacionado à endometriose (1). A deficiência de Vitamina D pode aumentar os riscos para doenças inflamatórias. Níveis séricos elevados de Vitamina D e um maior consumo de lácteos estão conectados a um menor risco de desenvolvimento da endometriose (1, 12). A vitamina D aumenta a expressão de citocinas anti-inflamatórias, como TGF e IL-4, e reduz a síntese de citocinas pró-inflamatórias, como IL-2, IL-6, TNF20 e as prostaglandinas, através da supressão da COX-2 (4, 9). Altas concentrações de 1,25(OH)D são capazes de inibir os receptores das prostaglandinas (4, 12). Um estudo mostrou que a suplementação de 300.000 UI de vitamina D antes do ciclo menstrual gerou uma redução da dor (4, 9). No entanto, um estudo com 50.000 UI/semana por 12 semanas não encontrou melhora da dor (9). É fundamental observar a adequação da Vitamina D.
  • Resveratrol: O resveratrol é um polifenol encontrado na casca de uvas escuras e da jabuticaba, demonstrando ação antineoplásica, anti-inflamatória e antioxidante (4). Em modelos animais, a administração de 10 mg/kg/dia foi capaz de reduzir o tamanho dos implantes endometriais, assim como os níveis do fator de crescimento vascular endotelial (VEGF) no plasma, no fluido peritoneal, e do monocyte chemotactic protein (MCP-1) no fluido peritoneal (4). Um estudo mostrou que 400 mg de resveratrol por 12-14 semanas atenuou os níveis de genes e proteínas de VEGF e TNF-α no endométrio ectópico (9). No entanto, os estudos ainda são controversos (10). Alguns estudos falharam em mostrar a superioridade do resveratrol em relação ao placebo no que diz respeito à dor gerada pela endometriose (12).
  • Chá-verde: Um estudo avaliando a suplementação de EGCG (epigalocatequina-3-galato), presente no chá-verde, encontrou mudanças no tamanho das lesões, na intensidade da dor, na qualidade de vida e nos efeitos colaterais da endometriose (10).
  • N-acetilcisteína (NAC): Estudos mostram que a NAC pode efetivamente reduzir a inflamação e aliviar os sintomas da endometriose (9). Alimentos ricos em NAC, como cebola, alho, gérmen de trigo e brócolis, parecem capazes de controlar a proliferação celular e o estresse oxidativo em células endometrióticas (9, 12). A NAC, forma acetilada da cisteína, quando suplementada, conseguiu reduzir o tamanho do endometrioma, substituindo um padrão proliferativo para um padrão de diferenciação, diminuindo a inflamação e a atividade “invasiva” (4). A suplementação de 1800 mg/dia de NAC, dividida em 3 tomadas (600 mg/dose), foi capaz de diminuir o diâmetro e o volume do endometrioma (4). Um estudo encontrou que alimentos ricos em N-acetilcisteína (pigmentos vermelhos, alho, cebola, brócolis, aveia e gérmen) conseguiram regular a proliferação e a ativação de células de ERK1/2 nas células endometrióticas, reduzindo assim a produção de peróxido de hidrogênio pelo estresse oxidativo (4). Alguns pesquisadores reportaram que a NAC foi capaz de diminuir o tamanho do endometrioma, sendo útil no tratamento e prevenindo a recorrência dos sintomas (12). Um possível mecanismo para isso é a diminuição sérica e peritoneal de TNF-α e da enzima COX2 (12). A diminuição da expressão da COX2 reduz a disponibilidade de estrogênio no tecido endometrial ectópico através da diminuição da PGE2 (um potente estimulador da aromatase) (12).
  • Vitaminas C e E: A suplementação de vitamina C e E foi associada a uma diminuição nos marcadores de estresse oxidativo, porém, sem melhora nas taxas de fecundidade (10). Pacientes que receberam a suplementação apresentaram menos dor, menos quadros de dismenorreia e menor dispareunia (10). Em um estudo, pacientes que receberam a suplementação combinada de vitamina E (1200 UI ou 3x 400 mg) e vitamina C (2x 500 mg) obtiveram melhora na dor pélvica, na dismenorreia e na dispareunia. A suplementação foi utilizada por apenas 2 meses, sendo sugerido que seu uso por tempo prolongado pode ser benéfico (5). Agentes antioxidantes já são utilizados para aliviar a dor em diversas condições. Seu uso independente ou em combinações com analgésicos mostram-se capazes de diminuir a nocicepção (estímulos geradores de dor) mediada por radicais livres (5). Alguns estudos encontraram que a suplementação de Vitamina C foi capaz de reduzir significativamente o volume e o peso dos cistos endometrióticos de maneira dose-dependente (12). Estudos in vivo demonstraram que os níveis de vitamina E são menores em pacientes com endometriose. Pacientes com endometriose parecem apresentar maiores níveis de peroxidação lipídica e menores concentrações de selênio, vitamina E e superóxido dismutase quando comparados ao controle (12).
  • Selênio: Estudos in vitro mostraram que o selênio é capaz de modular a função de proteínas reguladoras na transdução de sinais, conferindo benefícios em doenças inflamatórias (12).
  • Quercetina: Estudos em animais demonstraram que a quercetina age no eixo HPA, diminuindo os níveis dos hormônios LH e FSH (9). Foi observado que a quercetina inibe a proliferação e induz a parada do ciclo celular das células endometrióticas (12). Além disso, a quercetina é capaz de promover a apoptose através da produção de ROS, fragmentação do DNA e perda do potencial de membrana mitocondrial, tanto em estudos in vitro quanto in vivo (12).
  • Curcumina: Um estudo in vitro mostrou que a curcumina pode melhorar a foliculogênese. Além disso, a curcumina pode levar a uma redução da produção de estrogênio, inibindo assim o desenvolvimento da endometriose (12). Alguns estudos demonstraram uma diminuição do tamanho dos implantes endometrióticos ou atraso no desenvolvimento após a suplementação de curcumina (12). Estudos em humanos reportaram uma downregulation da sinalização do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e uma diminuição dos níveis séricos de CA125 e PGE2 (12).
  • Própolis: Estudos in vitro mostraram que a crisina, um componente do própolis, estimula um aumento na apoptose e diminui a proliferação de células endometrióticas humanas (12). No entanto, até o momento não há estudos em animais ou em humanos utilizando o própolis na endometriose (12).
  • Ácido Alfa Lipoico (α-LA): Em adição ao tratamento médico, o uso de α-LA pode ser uma opção para diminuir os sintomas e aumentar a qualidade de vida, principalmente em pacientes com dor (12).
  • L-Carnitina: Alguns estudos têm demonstrado que a suplementação de L-carnitina tem dois lados na endometriose (9). Alguns estudos mostraram que a L-carnitina intensificou as lesões endometrióticas quando as células expressavam receptores estrogênicos (9). Em contraste, outros estudos encontraram que, quando as células não apresentavam receptores estrogênicos, a L-carnitina apresentava efeito benéfico (9).

Ambiente Intestinal

  • Melhora do ambiente intestinal: Um microbioma saudável pode ser benéfico para a endometriose (2). É comum a disbiose em pacientes em estado grave (12). Um dos maiores benefícios do uso de probióticos na endometriose é a produção bacteriana de vitaminas do complexo B, que geralmente se encontra diminuída nesses pacientes (12).
  • Alimentos e estrogênio: É plausível assumir que fontes dietéticas que interferem nos níveis sanguíneos de estrogênios podem ter um papel importante na etiologia da doença (1). Além de suas propriedades antioxidantes, as frutas e vegetais favorecem a excreção do estrogênio, contribuindo para a regulação hormonal, visto que esses alimentos apresentam grandes quantidades de fibras (4).

Hábitos Alimentares e Sintomas

A dor gerada pela endometriose influencia os hábitos alimentares das mulheres, afetando o apetite e, consequentemente, a escolha alimentar (4).

Outras Intervenções Terapêuticas

Além do tratamento médico e nutricional, terapias complementares podem ser úteis:

  • Fisioterapia pélvica: Pode ser necessária para o manejo da dor (2).
  • Terapia cognitiva comportamental: Pode ser necessária para o manejo da dor, considerando a influência de fatores emocionais e hormonais (2).
  • Ervas medicinais chinesas: O uso de ervas medicinais chinesas faz parte do tratamento padrão de alívio da dor na endometriose (5).

Referências Bibliográficas

  1. JURKIEWICZ-PRZONDZIONO, J. et al. Influence of diet on the risk of developing endometriosis. 2017;88(2):96–102.
  2. ZONDERVAN, K. T.; BECKER, C. M.; MISSMER, S. A. Endometriosis. N Engl J Med, v. 382, n. 13, p. 1244–56, 26 mar. 2020. Disponível em: http://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMra1810764.
  3. SIMMEN, R. C. M.; KELLEY, A. S. Seeing red: diet and endometriosis risk. Ann Transl Med., v. 6, n. S2, p. S119–S119, 2018.
  4. HALPERN, G.; SCHOR, E.; KOPELMAN, A. Nutritional aspects related to endometriosis. Rev Assoc Med Bras., v. 61, n. 6, p. 519–23, 2015.
  5. SANTANAM, N. et al. Antioxidant supplementation reduces endometriosis-related pelvic pain in humans. Transl Res, v. 161, n. 3, p. 189–95, mar. 2013. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3624763/pdf/nihms412728.pdf.
  6. PARAZZINI, F. et al. Diet and endometriosis risk: A literature review. Reprod Biomed Online., v. 26, n. 4, p. 323–36, 2013.
  7. BURNEY, R. O.; GIUDICE, L. C. Pathogenesis and pathophysiology of endometriosis. Fertil Steril, v. 98, n. 3, p. 511–9, 2012. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.fertnstert.2012.06.029.
  8. NOTHNICK, W. B. Treating endometriosis as an autoimmune disease. Fertil Steril., v. 76, n. 2, p. 223–31, 2001.
  9. CIEBIERA, M. et al. Nutrition in gynecological diseases: Current perspectives. Nutrients, v. 13, n. 4, p. 1–33, 2021.
  10. AFRIN, S. et al. Diet and nutrition in gynecological disorders: A focus on clinical studies. Nutrients, v. 13, n. 6, p. 1–24, 2021.
  11. CHAPRON, C. et al. Rethinking mechanisms, diagnosis and management of endometriosis. Nat Rev Endocrinol, v. 15, n. 11, p. 666–82, 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/s41574-019-0245-z.
  12. BAHAT, P. Y. et al. Dietary supplements for treatment of endometriosis: A review. Acta Biomed., v. 93, n. 1, p. 1–1, 2022.

Deixe um comentário0