Mercúrio em Humanos: Absorção, Metabolismo, Toxicidade e Fontes de Exposição
Introdução
O mercúrio (Hg) é um metal pesado encontrado em diferentes formas químicas, com variada toxicidade e comportamento no organismo humano. Compreender sua absorção, distribuição, metabolismo e as fontes de exposição é crucial para a saúde pública, dada a sua capacidade de causar danos neurológicos e renais significativos.
Absorção e Distribuição do Mercúrio
A absorção gastrointestinal de compostos inorgânicos de mercúrio provenientes dos alimentos é inferior a 7% em homens (1). Em contraste, a absorção de metilmercúrio é substancialmente maior, atingindo cerca de 90-95% (1).
Os rins são os órgãos que retêm as maiores concentrações de mercúrio após a exposição a compostos inorgânicos ou ao vapor de mercúrio (1). Por outro lado, o metilmercúrio demonstra grande afinidade pelo cérebro, particularmente pelo córtex posterior (1).
Metabolismo do Mercúrio
Os compostos de maior interesse toxicológico são o mercúrio elementar e os sais de mercúrio bivalente (entre os inorgânicos), e os compostos fenilmercúricos e metilalquilmercúricos (entre os orgânicos) (1). Os compostos orgânicos de mercúrio não só são mais bem absorvidos, mas também exibem maior retenção e ligação mais forte aos tecidos (1). É importante notar que o mercúrio não possui um papel conhecido em sistemas biológicos, não apresentando funções vitais no organismo (1).
Interação com Outros Elementos
Mercúrio e Selênio
Alguns estudos sugerem que o selênio presente em peixes pode atenuar a toxicidade do metilmercúrio dietético (1). Pesquisas em animais indicaram que o selênio e a vitamina E reduziram a mortalidade após a exposição ao metilmercúrio, conferindo um efeito protetor (1). Uma alteração na distribuição do mercúrio devido ao selênio também foi verificada em suínos (1). Contudo, há escassez de informações relativas aos efeitos do selênio em humanos, e é fundamental ressaltar que o metabolismo do selênio difere entre humanos e a maioria dos animais (1).
Mercúrio nos Tecidos Humanos
O mercúrio é detectável em todos os tecidos humanos, com as concentrações mais elevadas encontradas na pele, unhas e cabelos (1). Entre os órgãos internos, os rins geralmente apresentam as maiores concentrações (1).
Fontes de Exposição ao Mercúrio
O mercúrio é um elemento de ocorrência natural, mas sua mobilização em ecossistemas aquáticos e terrestres tem sido diretamente influenciada por atividades humanas (1). A principal via de exposição humana é o consumo de peixes, em especial os peixes marinhos (1). Na natureza, o metilmercúrio é formado a partir do mercúrio inorgânico, como resultado da atividade microbiológica (1).
O mercúrio presente em peixes e alimentos de origem marinha ocorre predominantemente como metilmercúrio (1). Em alimentos de origem vegetal, o mercúrio geralmente está na forma de composto inorgânico, enquanto em carnes e laticínios, suas concentrações podem incluir pequenas proporções de metilmercúrio (1). A contribuição do mercúrio inalado é desprezível em comparação com a ingestão alimentar, exceto em situações de exposição ambiental específica (1).
Entre os alimentos marinhos, o atum é um dos que apresentam as maiores concentrações de mercúrio (1). O atum fresco contém, em média, 0,38 mg/kg, com variações de valores não detectáveis a 1,3 mg/kg (1). Em contraste, a sardinha e o salmão apresentam valores médios de 0,016 mg/kg e 0,014 mg/kg, respectivamente (1).
No Brasil, a ANVISA estabeleceu valores máximos para mercúrio de 0,5 mg/kg para peixes não predadores, moluscos cefalópodes, bivalves e crustáceos, e 1 mg/kg para peixes predadores (1). Esses limites estão em conformidade com as recomendações internacionais (1).
Toxicidade do Mercúrio
No passado, os compostos de mercúrio foram amplamente utilizados como fungicidas, mas atualmente estão proibidos (1). A excreção de mercúrio na urina e nas fezes varia de acordo com a forma química do mercúrio, a dose e o tempo após a exposição (1). A excreção fecal predomina inicialmente após a exposição ao mercúrio inorgânico, enquanto a excreção renal aumenta com o tempo (1). Cerca de 90% do metilmercúrio é excretado nas fezes após exposição aguda ou crônica (1).
As manifestações do envenenamento por mercúrio são, sobretudo, neurológicas, englobando tremores, vertigem, irritabilidade e depressão, frequentemente associadas a salivação, estomatite e diarreia (1). Quando sais inorgânicos são ingeridos, o fígado e os rins são os órgãos mais afetados (1). A dose letal em humanos é de aproximadamente 1 grama de sal de mercúrio (1). Em casos de intoxicação com dano renal, foram encontradas concentrações de mercúrio nos rins na faixa de 10-70 mg/kg (1).
Referências Bibliográficas
- COZZOLINO, S. M. F. Biodisponibilidade de Nutrientes. 6. ed. São Paulo: Manole, 2020. 934 p.