Withania somnifera (Ashwagandha): Um Adaptógeno com Potencial Terapêutico


Withania somnifera (Ashwagandha): Um Adaptógeno com Potencial Terapêutico


Introdução

A Withania somnifera, popularmente conhecida como Ashwagandha ou ginseng indiano, é uma erva tradicionalmente utilizada na medicina ayurvédica. Reconhecida como um adaptógeno, a Ashwagandha tem sido investigada por sua capacidade de aumentar a resistência do corpo ao estresse, com potenciais benefícios para o sono, ansiedade, compulsão alimentar e termogênese.


Nomenclatura e Morfologia

A Withania somnifera é mais conhecida como Ashwagandha ou ginseng indiano. Seu nome em sânscrito, “ashva” (cavalo) e “gandha” (cheiro), reflete o odor de sua raiz e a crença de que ela confere a força e virilidade de um cavalo. A parte utilizada para fins terapêuticos é a raiz.


Compostos Bioativos e Mecanismo de Ação

A Ashwagandha contém uma rica variedade de compostos bioativos, incluindo alcaloides, flavonoides, glicosídeos, esteroides e lactonas esteroidais, sendo estas últimas conhecidas como witanolídeos. Os witanolídeos são considerados os principais responsáveis pela maioria dos benefícios da planta.

Uma teoria predominante para explicar os efeitos da Ashwagandha em humanos envolve sua influência no eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal (HPA), demonstrada por sua capacidade de afetar os níveis de cortisol. A maioria dos estudos relacionados ao estresse e condições associadas ao estresse (que estão frequentemente ligadas ao cortisol, outros hormônios neuroendócrinos e neurotransmissores) aponta para a atuação da Ashwagandha no eixo HPA. Pesquisas extensivas têm se dedicado a entender a capacidade da planta em mitigar os efeitos do estresse, o que, por sua vez, poderia impactar positivamente outros resultados e estados de saúde, como ansiedade, depressão, fertilidade, obesidade, sono, recuperação pós-exercício, saúde imunológica e cognição. A resposta do eixo HPA ao estresse também pode explicar a variabilidade observada nos resultados dos estudos, dado que a Ashwagandha pode afetar esse eixo de maneiras distintas em diferentes indivíduos e a relação entre estresse e condições de saúde é complexa. Vale ressaltar que, se o estresse não for o fator precipitante para um estado de saúde negativo, a Ashwagandha pode não ser um tratamento eficaz para tal condição.

A evidência mais robusta até o momento sugere que a Ashwagandha possui efeitos redutores de cortisol e corticosteroides. Em estudos onde o cortisol foi diminuído, outros resultados, como ansiedade, controle de peso, fertilidade, cognição, sono e/ou qualidade de vida, também apresentaram alguma melhora.


Posologia e Administração

A dosagem diária de extrato de raiz de Ashwagandha utilizada em estudos variou de 120 a 5000 mg. O protocolo de dosagem mais comum é de 600 mg por dia, divididos em duas doses, uma pela manhã com o café da manhã e outra à noite.

Como os witanolídeos são considerados o principal componente ativo, alguns extratos são padronizados para conter uma quantidade mínima ou específica. Ensaios clínicos utilizaram extratos padronizados com 1,5% a 35% de witanolídeos, mas muitos estudos não divulgam essa informação, e a quantidade ideal de witanolídeos ainda não está clara. É importante notar que variações nos métodos de extração, formulação ou composição podem afetar a resposta fisiológica, mesmo quando estudos utilizam extratos padronizados ou fórmulas proprietárias.

Evidências sugerem que 600 mg por dia são mais eficazes que doses mais baixas para melhorar o sono. Da mesma forma, 600-1000 mg por dia podem ser mais benéficos para atletas submetidos a regimes de exercícios intensos. Contudo, mais pesquisas são necessárias para confirmar se doses acima de 600 mg/dia proporcionam maiores benefícios.

Não se sabe se a Ashwagandha perde sua potência com o uso diário a longo prazo, mas, devido aos seus possíveis efeitos moduladores da neurotransmissão, essa possibilidade não pode ser descartada. Também não há informações sobre se pausas no uso ou consumo em dias alternados prolongam sua eficácia.

Posologia Específica

  • Extrato seco padronizado em 2,5% de witanolídeos: 200-600 mg/dia.
  • Extrato seco padronizado em 5% de witanolídeos totais: Até 1000 mg por 12 semanas.

Principais Indicações Clínicas

A Ashwagandha é mais conhecida por seus efeitos ansiolíticos e de alívio do estresse, além de reduzir os níveis de cortisol. Há um crescente corpo de evidências que suporta a eficácia da Ashwagandha para melhorar o tempo total e a qualidade do sono em indivíduos com e sem insônia. Dada a ampla gama de efeitos da resposta ao estresse no corpo humano, é possível que essa ação seja a base para a reputação da Ashwagandha como uma “cura para tudo”.

Há apoio crescente para o uso da Ashwagandha em estados de saúde que são tipicamente afetados por uma resposta crônica ao estresse. A pesquisa sobre a Ashwagandha em melhorias no desempenho cardiorrespiratório e musculoesquelético tem mostrado resultados promissores tanto para atletas quanto para não atletas. De forma similar, a Ashwagandha também pode melhorar a saúde imunológica, a saúde feminina, a saúde masculina e a saúde sexual. No entanto, devido a inconsistências nas pesquisas, tem sido difícil formar conclusões diretas.

Compulsão Alimentar

O extrato metanólico da Withania somnifera, por meio dos glicowitanolídeos, pode promover uma melhora no comportamento obsessivo-compulsivo, com um efeito comparável ao de medicamentos como a fluoxetina. Os pesquisadores sugerem que um dos possíveis mecanismos seria a inibição da recaptação de serotonina, melhorando sua neurotransmissão pós-sináptica (2).

Em outro estudo realizado com camundongos resistentes à leptina, a withaferina A (1,25 mg/kg) foi administrada por 21 dias, resultando em redução da ingestão alimentar e do peso corporal, ambos atribuídos à melhora da sensibilidade à leptina (3). Um estudo com 50 indivíduos sob estresse crônico, que utilizaram 300 mg de extrato de Withania somnifera duas vezes ao dia por 4 e 8 semanas, demonstrou uma redução acentuada das pontuações de “alimentação emocional” e “alimentação descontrolada” após esse período (4).

Termogênese

Um estudo em ratos avaliou o uso de 0,25% a 0,5% do extrato etanólico de Withania somnifera por 10 semanas. Observou-se redução do peso corporal e do tamanho dos adipócitos, além do aumento de proteínas e fatores de transcrição relacionados à biogênese mitocondrial, promovendo o escurecimento do tecido adiposo branco (1).


Contraindicações e Efeitos Adversos

A Ashwagandha parece ser segura, mas são necessárias mais pesquisas de longo prazo especificamente projetadas para avaliar sua segurança. A Ashwagandha pode causar sonolência leve e sedação em algumas pessoas. Alguns relatos de casos sugeriram que efeitos adversos, como erupção cutânea ou desregulação da tireoide, podem ocorrer com o uso de Ashwagandha, mas esses eventos adversos não foram refletidos em um estudo de segurança com uma amostra maior.

Vários relatos de casos também levantaram preocupações sobre a ocorrência rara de toxicidade hepática com o uso de Ashwagandha. Contudo, essa toxicidade não foi observada em ensaios clínicos de segurança. Nos relatos, a toxicidade hepática foi geralmente relatada dentro de 2 a 12 semanas de uso de Ashwagandha, e a função hepática retornou ao normal em todos os casos, exceto um, após suporte médico e interrupção da Ashwagandha. Um estudo in vitro sugeriu que a withanona (um tipo de witanolídeo na Ashwagandha) pode ter efeitos tóxicos no contexto de baixos níveis do antioxidante celular glutationa (GSH), que está envolvido na desintoxicação de drogas. No entanto, esta pesquisa está longe de ser conclusiva, e os mecanismos subjacentes a este possível efeito adverso não são claros.

Populações Específicas

Não há estudos conclusivos sobre a segurança da Ashwagandha em:

  • Gestantes
  • Lactantes
  • Crianças
  • Indivíduos com doenças renais e hepáticas

Contexto Histórico e Características Gerais

A Ashwagandha (Withania somnifera) é uma erva central na Ayurveda, o sistema de medicina tradicional da Índia. É classificada como um adaptógeno, uma substância que supostamente aumenta a resistência do corpo ao estresse.

Diversas partes da planta são utilizadas, mas a forma suplementar mais comum é um extrato de suas raízes. É importante notar que seu uso como parte do sistema ayurvédico geralmente envolve mais do que apenas a erva isolada.

Estudos em roedores e culturas de células sugerem que a Ashwagandha pode fornecer uma ampla gama de benefícios à saúde. No entanto, as evidências em estudos com humanos têm variado até o momento, dependendo do estado de saúde e da população de interesse estudada.


Referências Bibliográficas

  1. LEE, D.-H. et al. Withania somnifera Extract Enhances Energy Expenditure via Improving Mitochondrial Function in Adipose Tissue and Skeletal Muscle. Nutrients, v. 12, n. 2, p. 431, 7 fev. 2020. Disponível em: https://www.mdpi.com/2072-6643/12/2/431. Acesso em: 24 jun. 2025.
  2. KAURAV, B. P. et al. Influence of Withania somnifera on obsessive compulsive disorder in mice. Asian Pac J Trop Med, v. 5, n. 5, p. 380–4, mai. 2012. Disponível em: http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1995764512600637. Acesso em: 24 jun. 2025.
  3. LEE, J. et al. Withaferin A is a leptin sensitizer with strong antidiabetic properties in mice. Nat Med, v. 22, n. 9, p. 1023–32, 1 set. 2016. Disponível em: http://www.nature.com/articles/nm.4145. Acesso em: 24 jun. 2025.
  4. CHOUDHARY, D.; BHATTACHARYYA, S.; JOSHI, K. Body Weight Management in Adults Under Chronic Stress Through Treatment With Ashwagandha Root Extract. J Evid Based Complementary Altern Med, v. 22, n. 1, p. 96–106, 23 jan. 2017. Disponível em: http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/2156587216641830. Acesso em: 24 jun. 2025.

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