Hypericum Perforatum: A Erva de São João na Prática Clínica


Hypericum Perforatum: A Erva de São João na Prática Clínica


Introdução

O Hypericum perforatum, conhecido popularmente como Erva de São João, é uma planta com longa história de uso na medicina tradicional. Reconhecida por suas propriedades no manejo de transtornos do humor, como depressão leve a moderada, ansiedade e insônia, esta revisão técnica aborda seus componentes bioativos, mecanismos de ação e as considerações clínicas essenciais para seu uso em profissionais de saúde.


Aspectos Botânicos e Fitoquímicos

Nomenclatura

O nome científico da planta é Hypericum perforatum. É amplamente conhecida por nomes populares como Erva de São João, hipericão, milfurada e alecrim-bravo (1).

Parte Utilizada e Composição Química

A flor do Hypericum perforatum é a parte mais utilizada para fins medicinais (1). A riqueza de seus efeitos terapêuticos está associada à presença de diversos compostos bioativos, incluindo:

  • Naftodiantronas: com destaque para a hipericina e pseudo-hipericina (1).
  • Flavonoides: como hiperosídeo, hiperina, rutina, quercitrina e quercetina (1).
  • Óleo essencial: composto por N-alcanos (1).
  • Taninos: especificamente catequinas (1).
  • Ácido cafeico (1).
  • Pectina (1).
  • Ácido nicotínico (1).
  • Colina (1).
  • Xantonas: notavelmente a hiperforina (1).

Indicações Clínicas e Mecanismos de Ação

Principais Indicações

O Hypericum perforatum é indicado para as seguintes condições clínicas:

  • Depressão: especialmente em casos de intensidade leve a moderada (1).
  • Menopausa (1).
  • Ansiedade (1).
  • Insônia (1).

Ação Antidepressiva

A ação antidepressiva do Hypericum perforatum parece resultar da interação com múltiplos receptores, levando à inibição da recaptação de neurotransmissores no sistema nervoso central (SNC) (1). Observa-se uma afinidade significativa por receptores GABAA, GABAB, glutamato e adenosina (1). Embora o mecanismo de ação completo ainda não esteja totalmente elucidado, diversos estudos têm corroborado seus efeitos benéficos em quadros de depressão leve a moderada (1). A hipericina, um dos compostos ativos, é capaz de inibir a monoaminoxidase A e B (MAO) e reduzir a captação sináptica de serotonina, dopamina e norepinefrina (1).

Impacto no Climatério e Menopausa

Alguns estudos demonstraram que a administração de extrato de Hypericum perforatum em mulheres na menopausa foi eficaz na mitigação de sintomas como fogachos e ansiedade (1).


Posologia e Recomendações de Uso

Dosagens Sugeridas

As posologias recomendadas variam conforme a apresentação do Hypericum perforatum:

  • Planta seca: 2 a 4 g/dia (1).
  • Infusão: 15 a 30 g/L, administrada em 2 a 3 xícaras ao dia (1).
  • Extrato fluido (1:1): 25-50 gotas, 2 a 3 vezes ao dia (1).
  • Tintura (1:5, álcool 60%): 10 a 30 mL/dia (1).
  • Extrato seco padronizado (0,3% hipericina): 600-900 mg/dia (1).
  • Extrato seco (5:1): 600-900 mg/dia (1).

Contraindicações e Cuidados

Segurança Geral

De maneira geral, o Hypericum perforatum é considerado seguro e bem tolerado (1).

Contraindicações e Interações Medicamentosas

É crucial estar atento às seguintes contraindicações e cuidados:

  • Gravidez e lactação: o uso é contraindicado devido à falta de dados de segurança adequados (1).
  • Interações medicamentosas: o Hypericum perforatum estimula as enzimas hepáticas responsáveis pela metabolização de diversos fármacos. Portanto, é contraindicado ou requer extrema cautela em pacientes que utilizam varfarina, digoxina, teofilina, ciclosporina e indinavir, pois pode reduzir a eficácia desses medicamentos (1).
  • Síndrome serotoninérgica: deve-se ter cautela ao utilizar Hypericum perforatum concomitantemente com inibidores da MAO (IMAO) e inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), a fim de evitar a síndrome serotoninérgica, uma condição potencialmente grave (1).

Referências Bibliográficas

  1. SAAD, G. A. de; OLIVEIRA, P. H. de; MANZALI, I. S.; SEIXLACK, A. C. Fitoterapia contemporânea: tradição e ciência na prática clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.

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