Trifolium pratense: Potencial Terapêutico na Menopausa


Trifolium pratense: Potencial Terapêutico na Menopausa


Introdução

A Trifolium pratense, popularmente conhecida como trevo-vermelho, é uma planta herbácea cujas flores, parte aérea florida e folhas são utilizadas por suas propriedades medicinais. Amplamente estudada, essa planta tem despertado interesse, principalmente, devido ao seu potencial em aliviar os sintomas associados à menopausa, atribuído à presença de isoflavonas e outros compostos bioativos.


Aspectos Botânicos e Fitoquímicos

Nomenclatura e Partes Utilizadas

O nome científico da planta é Trifolium pratense, e é popularmente conhecida como trevo-vermelho. As partes utilizadas para fins terapêuticos incluem a flor, a parte aérea florida e a folha (1).

Compostos Bioativos

O trevo-vermelho é rico em uma variedade de compostos bioativos, destacando-se:

  • Isoflavonas: Daidzeína, genisteína, biochanina A e formonetina (1). Estas são consideradas fitoestrogênios devido à sua semelhança estrutural com o estrogênio (11, 12).
  • Óleo essencial (1).
  • Comestanas (1).
  • Glicosídeos cianogênicos: Lotaustralina e linamarina (1).
  • Flavonoides: Isoarmnetina, caempferol e quercetina (1).
  • Saponinas (1).
  • Outros polifenóis: Ácido cumárico e ácido ferúlico (13).

Ações Farmacológicas e Indicações Clínicas

Menopausa

A principal indicação do trevo-vermelho é para o manejo dos sintomas da menopausa. A atividade estrogênica da planta é atribuída principalmente às suas isoflavonas e, em menor grau, às comestanas, que possuem estruturas moleculares semelhantes às dos estrogênios (1).

As isoflavonas do trevo-vermelho (biochanina A, formononetina, genisteína e daidzeína) são fitoestrogênios que podem se ligar aos receptores de estrogênio no corpo, auxiliando na redução de alguns sintomas da menopausa decorrentes da deficiência estrogênica (11, 12). Existem dois subtipos de receptores de estrogênio: o receptor beta de estrogênio (ERβ) e o receptor alfa de estrogênio (ERα), que são distribuídos de forma diferente nos tecidos e possuem ações distintas (11, 12). Enquanto o estrogênio se liga a ambos os receptores igualmente, as isoflavonas do trevo-vermelho têm uma afinidade particular pelo ERβ e uma fraca afinidade pelo ERα, o que resulta em efeitos estrogênicos ligeiramente diferentes dos estrogênios endógenos (11, 12).

Outros compostos bioativos, como os polifenóis ácido cumárico, ácido ferúlico e quercetina, contribuem para os efeitos antioxidantes e antimicrobianos in vitro, mas seus efeitos como suplemento ainda não estão totalmente claros (13).

Estudos avaliando mulheres no climatério que utilizaram doses entre 40-160 mg/dia do extrato seco, em sua maioria, não encontraram diferença significativa entre os grupos placebo e os tratados (1). No entanto, um estudo que apresentou os melhores resultados utilizou 80 mg/dia do extrato, observando uma melhora dos fogachos, da dispareunia do trato genital, da secura vaginal e um aumento na libido (1).

Uma meta-análise de ensaios clínicos randomizados de 2021 concluiu que a suplementação com trevo-vermelho, administrada por 3 meses, resultou em uma média de 1,7 ondas de calor a menos por dia em comparação com o placebo, especialmente em mulheres pós-menopausais que sofriam de pelo menos 5 ondas de calor por dia (2). Contudo, esses efeitos não foram sustentados em ensaios com acompanhamento de 12 meses. Além disso, mais da metade dos ensaios foi pelo menos parcialmente financiada pelo fabricante do trevo-vermelho, o que poderia introduzir viés nos resultados (2).

O trevo-vermelho também pode reduzir ligeiramente o colesterol total e aumentar o colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL) em mulheres pós-menopausais sem outras condições de saúde, mas esses efeitos são tão pequenos que provavelmente não teriam impacto significativo na saúde cardiovascular geral (3).


Posologia e Apresentações Comerciais

A posologia para o extrato seco de trevo-vermelho 1:30, padronizado para um mínimo de 8% de isoflavonas das flores, é de 40-80 mg/dia (1). Alguns estudos sugerem que a dose de 80 mg é mais eficaz (1).

Alguns extratos de trevo-vermelho comercialmente disponíveis contêm quantidades padronizadas de isoflavonas. O produto mais estudado é o Promensil, que é considerado equivalente a outro extrato padronizado, o Menoflavon. Ambos contêm aproximadamente 50% de biochanina A, 35% de formononetina, 3% de genisteína e 1% de daidzeína (14).


Contraindicações e Toxicidade

Contraindicações

O trevo-vermelho é contraindicado para gestantes e lactantes (1), devido à falta de estudos que comprovem sua segurança nessas populações.

Toxicidade

Há relatos de intoxicação em gado e ovelhas com o consumo de trevo-vermelho, incluindo aborto, edema e infertilidade (1). No entanto, a suplementação com trevo-vermelho em humanos parece ser bastante segura quando utilizada por até 3 anos (4, 5). A maioria dos ensaios não encontrou efeitos colaterais significativos em comparação com o placebo (6, 7), embora ensaios clínicos maiores sejam necessários para uma avaliação mais adequada do risco de efeitos colaterais.

A concentração e o tipo de compostos ativos no trevo-vermelho podem variar dependendo de como a planta foi cultivada e processada, o que pode impactar seus efeitos no organismo (8, 9). Essa variabilidade pode resultar em efeitos inconsistentes ao usar diferentes extratos de trevo-vermelho (9). A variabilidade no efeito também pode ser observada entre os indivíduos devido a diferenças na genética e no microbioma intestinal, ambos os quais podem influenciar a forma como as isoflavonas são metabolizadas no corpo (10).


Referências Bibliográficas

  1. SAAD, G. de A. et al. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na Prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.
  2. GHANADI, A. et al. The Effect of Red Clover (Trifolium pratense) Supplementation on Hot Flashes in Postmenopausal Women: A Systematic Review and Meta-analysis of Randomized Controlled Trials. J Midlife Health, v. 12, n. 4, p. 325–334, out.-dez. 2021.
  3. CAMPBELL, M. J. et al. Effect of red clover-derived isoflavone supplementation on insulin-like growth factor, lipid and antioxidant status in healthy female volunteers: a pilot study. Eur J Clin Nutr., v. 58, n. 1, p. 165–172, jan. 2004.
  4. BABER, R. J. et al. Randomized placebo-controlled trial of an isoflavone supplement and menopausal symptoms in women. Climacteric, v. 2, n. 2, p. 119–126, jun. 1999.
  5. HIDALGO, L. A. et al. The effect of red clover isoflavones on menopausal symptoms, lipids and vaginal cytology in menopausal women: a randomized, double-blind, placebo-controlled study. Gynecol Endocrinol., v. 21, n. 5, p. 257–264, nov. 2005.
  6. TERZIC, M. M. et al. Influence of red clover-derived isoflavones on serum lipid profile in postmenopausal women. J Obstet Gynaecol Res., v. 35, n. 6, p. 1091–1096, dez. 2009.
  7. HOWES, J. B. et al. The effects of dietary supplementation with isoflavones from red clover on cognitive function in postmenopausal women. Climacteric, v. 7, n. 1, p. 74–82, mar. 2004.
  8. ATKINSON, C. et al. Red-clover-derived isoflavones and mammographic breast density: a double-blind, randomized, placebo-controlled trial ISRCTN42940165. Breast Cancer Res., v. 6, n. 3, p. R170–R179, 2004.
  9. BLAKESMITH, S. J. et al. Effects of supplementation with purified red clover (Trifolium pratense) isoflavones on plasma lipids and insulin resistance in healthy premenopausal women: a pilot study. Br J Nutr., v. 89, n. 4, p. 497–506, abr. 2003.
  10. IMHOF, M. et al. Effects of a red clover extract (MF11RCE) on endometrium and sex hormones in postmenopausal women. Maturitas, v. 55, n. 2, p. 162–170, 20 ago. 2006.
  11. KNIGHT, D. C.; HOWES, J. B.; EDEN, J. A. The effect of Promensil, an isoflavone extract, on menopausal symptoms. Climacteric, v. 2, n. 2, p. 135–142, jun. 1999.
  12. LIPOVAC, M. et al. The effect of red clover isoflavone supplementation over vasomotor and menopausal symptoms in postmenopausal women. Gynecol Endocrinol., v. 28, n. 3, p. 203–207, mar. 2012.
  13. HOWES, J. B. et al. The effects of dietary supplementation with isoflavones from red clover on the lipoprotein profiles of postmenopausal women with mild to moderate hypercholesterolaemia. Atherosclerosis, v. 152, n. 1, p. 229–238, set. 2000.
  14. IGF-1 – VRIELING, A. et al. No effect of red clover-derived isoflavone intervention on the insulin-like growth factor system in women at increased risk of colorectal cancer. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev., v. 17, n. 10, p. 2728–2734, out. 2008.

Deixe um comentário0