Esclerose Múltipla: Abordagens Terapêuticas e Nutricionais


Esclerose Múltipla: Abordagens Terapêuticas e Nutricionais


Introdução

A esclerose múltipla (EM) é uma condição neurodegenerativa crônica do sistema nervoso central (SNC), caracterizada pela desmielinização e formação de cicatrizes (esclera) em múltiplas áreas, como nervos ópticos, medula espinal e cérebro. Esta patologia resulta em deterioração neurológica progressiva e é o transtorno desmielinizante mais comum do SNC, afetando aproximadamente 2,5 milhões de indivíduos globalmente (3). A etiologia precisa da EM ainda não está totalmente elucidada, porém, fatores como dieta e localização geográfica são considerados relevantes em sua fisiopatologia (3).


Fisiopatologia e Diagnóstico

A esclerose múltipla é uma condição desmielinizante crônica que afeta o sistema nervoso central, levando à deterioração neurológica progressiva (2). Caracteriza-se pela destruição da bainha de mielina, essencial para a transmissão dos impulsos elétricos (3). Em múltiplas áreas do sistema nervoso, a mielina é substituída por tecido cicatricial, um processo conhecido como “esclerose” (3).

O diagnóstico da EM não se baseia em um único exame confirmatório (3). No entanto, os critérios de McDonald são amplamente utilizados na prática clínica para auxiliar na sua identificação (3). À medida que a doença avança, déficits neurológicos e disfagia podem se manifestar, decorrentes de lesões nos nervos cranianos (3).


Fatores de Risco

Embora a causa exata da EM seja desconhecida, alguns fatores dietéticos e geográficos têm sido implicados na sua fisiopatologia (3). Dietas caracterizadas por alto teor de:

  • Gorduras animais (2)
  • Açúcares (2)
  • Gordura hidrogenada (2)

Estão associadas a um maior risco.


Abordagens Terapêuticas e Farmacologia

Atualmente, não existe um tratamento comprovado que modifique o curso da esclerose múltipla, previna crises futuras ou impeça a deterioração neurológica progressiva (3). A recuperação inicial de recaídas costuma ser quase completa; no entanto, com o tempo, déficits neurológicos tendem a persistir (3).

Espasticidade

Para o manejo da espasticidade, a terapia medicamentosa pode ser iniciada com doses baixas, aumentando-se cautelosamente até que se observe a resposta terapêutica desejada (3).

Hormônios Esteroides

A terapia com esteroides é empregada no tratamento de exacerbações agudas da EM, sendo o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e a prednisolona as medicações de escolha (3). No entanto, a eficácia desse tratamento não é consistentemente garantida e tende a ser mais benéfica em casos com menos de cinco anos de duração (3). Os efeitos adversos de curto prazo associados ao uso de esteroides incluem aumento do apetite, ganho ponderal, retenção hídrica, nervosismo e insônia (3). Pacientes que receberam altas doses de esteroides apresentaram redução dos níveis séricos de vitamina B12 e folato, além de diminuição do volume do líquido cefalorraquidiano (3).


Terapia Nutricional

A intervenção nutricional desempenha um papel coadjuvante crucial no manejo da esclerose múltipla, visando a otimização da qualidade de vida e a minimização de sintomas.

Ajustes Nutricionais

Recomenda-se ajustar os níveis de vitamina D, otimizar o consumo hídrico e regular a ingestão de fibras para auxiliar no manejo dos sintomas gastrointestinais e urinários frequentemente associados à EM. A vitamina D é um nutriente de grande importância.

Glúten

Até o momento, não há evidências científicas suficientes que justifiquem a exclusão de glúten da dieta em pacientes com esclerose múltipla (1).

Cafeína

Em modelos animais, a administração de cafeína demonstrou um efeito neuroprotetor. Este efeito é mediado pelo aumento da expressão do receptor de adenosina A1R, que atua na prevenção de injúrias neurotóxicas induzidas pelo excesso de secreção de glutamato.

Um estudo conduzido na Bélgica evidenciou que um maior consumo de café estava associado a uma diminuição na progressão da doença, de forma aparentemente dose-dependente (2). Indivíduos que consumiam café diariamente apresentaram um maior intervalo de latência da doença (2).

Vitamina D

Estudos epidemiológicos têm correlacionado a incidência de esclerose múltipla com a localização geográfica e a exposição solar. Essa observação sugere um possível envolvimento da vitamina D na fisiopatologia da doença, indicando-a como um potencial alvo terapêutico para inibir a sua progressão (3).

Hidratação

A bexiga neurogênica, caracterizada por incontinência, urgência e frequência urinária, é uma complicação comum na esclerose múltipla (3). Para mitigar esses sintomas, a distribuição uniforme de líquidos durante as horas de vigília do paciente, com restrição antes do período de sono, pode ser benéfica (3).

Consumo de Fibras

A bexiga neurogênica pode manifestar-se tanto com constipação quanto com diarreia, sendo a incidência de impactação fecal ainda mais elevada em pacientes com esclerose múltipla (3). Portanto, a regulação da função intestinal, por meio de um consumo adequado de fibras, é de fundamental importância (3).


Outros Tratamentos

Além das intervenções medicamentosas e nutricionais, a fisioterapia e a terapia ocupacional são pilares no tratamento da esclerose múltipla. Essas modalidades são padronizadas para abordar uma série de sintomas, incluindo fraqueza muscular, espasticidade, tremores e falta de coordenação, entre outros (3).


Referências Bibliográficas

  1. THOMSEN, H. L.; JESSEN, E. B.; PASSALI, M.; FREDERIKSEN, J. L. The role of gluten in multiple sclerosis: A systematic review. Mult Scler Relat Disord, v. 27, p. 156–163, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.msard.2018.10.019.
  2. SHARIF, K. et al. Coffee and autoimmunity: More than a mere hot beverage! Autoimmun Rev, v. 16, n. 7, p. 712–721, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.autrev.2017.05.007.
  3. MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S.; RAYMOND, J. L. Krause Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 1227 p.

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