Esforço Excessivo e Overtraining em Atletas: Implicações Fisiológicas e Nutricionais


Esforço Excessivo e Overtraining em Atletas: Implicações Fisiológicas e Nutricionais


Introdução:

O gerenciamento da carga de treinamento e da recuperação é crucial para o desempenho atlético e a saúde. O esforço excessivo, embora frequentemente considerado uma condição normal de recuperação em dias, pode representar um estágio inicial do overtraining (1). Ambas as condições surgem quando a soma dos estresses da vida, incluindo o exercício, excede a capacidade adaptativa do corpo (1).


Overreaching (Esforço Excessivo)

O overreaching é caracterizado pelo acúmulo de estresse, tanto relacionado quanto não relacionado ao exercício físico, resultando em uma queda de curto prazo na capacidade de desempenho (1). A recuperação, nesses casos, pode levar de alguns dias a algumas semanas para que a capacidade de desempenho retorne ao normal (1).

O diagnóstico do esforço excessivo pode ser estabelecido pela observação de uma queda no desempenho, acompanhada de perturbações contínuas no humor e uma incapacidade consistente de realizar o treinamento normal, mesmo após um período de recuperação prolongado (1).

Lesões por Esforço Repetitivo (LER)

As Lesões por Esforço Repetitivo (LER) apresentam diversas etiologias, frequentemente relacionadas a:

  • Planejamento inadequado do treino
  • Falta de alongamento
  • Períodos insuficientes de descanso
  • Movimentos biomecânicos incorretos (2)

Overtraining (Treino Excessivo)

A síndrome de overtraining é um estado mais severo e crônico de sobrecarga, manifestando-se como fadiga debilitante, depressão e lesões musculoesqueléticas (2). É o acúmulo de estresse, tanto relacionado ao exercício quanto não relacionado, que resulta em uma queda de desempenho a longo prazo (1). Nesses casos, a recuperação da capacidade atlética pode demorar semanas ou até meses para retornar aos níveis anteriores (1). Estima-se que entre 20% e 60% dos atletas já experimentaram os efeitos do overtraining em algum momento de suas carreiras (2).

Do ponto de vista bioquímico, o overtraining pode ser associado a diversas alterações, incluindo (2):

  • Alterações nos níveis de cortisol e testosterona
  • Variações nas transaminases (TGP e TGO)
  • Aumento da Creatina Quinase (CK) total
  • Elevação da ureia
  • Modificações em marcadores de resposta imune e inflamatória, como CD8+, imunoglobulinas e Proteína C-Reativa (PCR)

Contribuintes para o Estresse e Overtraining

Acredita-se que o esforço excessivo e, consequentemente, o overtraining, tenham origem em treinos de alta intensidade combinados com recuperação limitada (1). Esse cenário é, em parte, atribuído à diminuição dos níveis de glicogênio muscular (1).

Além da depleção de carboidratos, outros fatores nutricionais e metabólicos podem aumentar a resposta ao estresse e as variações hormonais, elevando o risco de overtraining:

  • Desidratação
  • Balanço energético negativo (1)

Glicogênio Muscular

Uma das teorias propostas para explicar o overtraining sugere que a proteólise acentuada, resultante da não reposição adequada das reservas de glicogênio, seria a responsável pelo alto grau de fadiga característico da síndrome (3).

Níveis diminuídos de glicogênio podem gerar perturbações no ambiente endócrino. A depleção do glicogênio muscular está associada a altos níveis de catecolaminas (norepinefrina e epinefrina), cortisol e glucagon, com níveis de insulina diminuídos (1). Essas alterações hormonais e nos níveis de glicogênio podem modificar a mobilização de substratos, estimulando, por exemplo, a lipólise e a liberação de ácidos graxos no sangue (1).

Vitamina C

A vitamina C desempenha um papel crucial na formação do colágeno, sendo indispensável para a biossíntese da tríplice hélice do colágeno (2). Sua presença é, portanto, essencial para a saúde articular e para a recuperação de lesões (2), auxiliando na prevenção e no manejo das lesões frequentemente associadas ao esforço excessivo e overtraining.


Referências Bibliográficas

  1. JEUKENDRUP, A. E.; GLEESON, M. Nutrição no esporte – Diretrizes nutricionais e bioquímica e fisiologia do exercício. 3. ed. São Paulo: Manole, 2021. 559 p.
  2. RIBAS FILHO, D.; SUEN, V. M. M. Tratado de Nutrologia. 2. ed. Santana de Parnaíba: Manole, 2019. 646 p.
  3. HIRSCHBRUCH, M. D. Nutrição esportiva – Uma visão prática. 3. ed. Barueri – SP: Manole, 2014. 496 p.

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