Manejo Clínico e Nutricional da Menopausa


Manejo Clínico e Nutricional da Menopausa


Introdução

A menopausa, caracterizada pela última menstruação e ocorrendo geralmente por volta dos 50 anos, marca a falência ovariana em responder aos estímulos das gonadotrofinas. Isso resulta em uma queda acentuada nos níveis de estrogênio e progesterona, desencadeando uma série de sintomas, em grande parte devido à diminuição do estradiol, da serotonina e ao aumento da predominância adrenérgica (5). Este documento técnico detalha as estratégias de manejo clínico e nutricional para profissionais de saúde.


Fisiopatologia da Menopausa e Implicações

A queda nos níveis de estrogênio e progesterona durante a menopausa afeta significativamente o metabolismo do cobre, aumentando suas concentrações no soro, fígado e rins (1). O estrogênio também influencia a concentração sérica de transferrina e os valores de ferro ao aumentar a transcrição do gene da transferrina (1). Embora os estudos sejam conflitantes, a administração de estrogênio geralmente demonstrou uma diminuição do zinco sérico (1). É observado que o pool de zinco e selênio diminui em mulheres idosas (1).

Sintomas Comuns da Menopausa

Os sintomas mais prevalentes da menopausa incluem (5):

  • Fogachos: Ondas de calor súbitas e intensas.
  • Sudorese noturna.
  • Sensação de calor na parte superior do corpo.
  • Vermelhidão facial.
  • Diminuição da libido.
  • Atrofia genital.
  • Secura vaginal e da pele (deficiência de líquidos).
  • Pulso rápido.
  • Língua vermelha com saburra ressecada.

Impacto da Serotonina nos Fogachos

Mulheres na menopausa apresentam menores concentrações de serotonina, um neurotransmissor diretamente envolvido na termorregulação (5). O estradiol também participa da síntese de serotonina e influência a dissipação de calor através da vasodilatação (5). Durante a menopausa, picos de liberação de Hormônio Luteinizante (LH) também contribuem para a ocorrência dos fogachos (5).


Estratégias de Tratamento Médico

Terapia de Reposição Hormonal (TRH)

A TRH na pós-menopausa envolve a administração cíclica ou contínua de doses reduzidas de um ou mais estrogênios, com ou sem um progestogênio (7).

Benefícios da TRH (curto prazo) (7):

  • Melhora dos sintomas vasomotores (fogachos e suores noturnos) e do ressecamento vaginal.
  • Prevenção e tratamento da osteoporose (embora existam outros fármacos preferíveis para osteoporose isolada).

A TRH é considerada a forma mais eficaz de tratar sintomas como suores noturnos e ondas de calor, especialmente para mulheres com menos de 60 anos ou que entraram na menopausa há menos de 10 anos (8). Quando iniciada e mantida por pelo menos cinco anos, a TRH pode desacelerar a perda óssea pós-menopausa (8).

Desvantagens e Riscos da TRH (7):

  • Sangramento cíclico intenso.
  • Efeitos adversos relacionados à progesterona.
  • Risco aumentado de câncer endometrial.
  • Risco aumentado de câncer de mama.
  • Risco aumentado de doença tromboembólica venosa.

Os estrogênios podem ser administrados oralmente (estrogênios conjugados, estradiol, estriol), vaginalmente (estriol), via discos transdérmicos (estradiol) ou com implantes subcutâneos (estradiol) (7). É importante ressaltar que a TRH não deve ser utilizada na prevenção de doenças, mas é apropriada para o manejo dos sintomas da menopausa em mulheres afetadas (8).


Terapia Nutricional e Fitoterapia

Saúde Óssea e Osteoporose

A diminuição da produção de estrogênio na menopausa está associada à perda acelerada de massa óssea (1). A baixa de estrogênio implica em diminuição da absorção de cálcio, persistente por até 40 anos após a menopausa (1). A suplementação de Vitamina D deve ser considerada para saúde óssea; no entanto, as necessidades de cálcio não são alteradas (1). É importante notar que a suplementação de cálcio em mulheres pós-menopausa foi associada a uma tendência de aumento de eventos cardiovasculares (1).

Nutrientes Importantes

  • Cálcio: Essencial para a saúde óssea.
  • Magnésio: Contribui para a densidade óssea e função muscular.
  • Vitamina D: Fundamental para a absorção de cálcio e saúde óssea.

Fitoterapia para o Manejo dos Sintomas da Menopausa

Isoflavonas

Aumentar o consumo de isoflavonas, encontradas em alimentos como a soja (Glycine Max) e o trevo-vermelho (Trifolium pratense), pode ser benéfico (4, 5). A suplementação de 25g de proteína de soja isolada (equivalente a 75 mg de isoflavonas) é uma opção (5). As isoflavonas também podem atuar significativamente na ansiedade e depressão, com 80 mg de trevo-vermelho, uma vez que os fitoestrógenos influenciam a síntese de serotonina (4).

Angelica sinensis (Dong Quai ou Angélica chinesa)

Com atividade estrogênio-símile, o extrato de Angelica sinensis (75 mg) pode reduzir o número e a intensidade dos fogachos, além de melhorar o sono e a fadiga (6).

Matricaria chamomilla (Camomila)

A Matricaria chamomilla (30 mg), atuando como um GABA-mimético, pode diminuir o número e a intensidade dos fogachos, além de melhorar o sono e a fadiga (6).

Trifolium pratense (Trevo-vermelho ou Red Clover)

O trevo-vermelho é frequentemente dosado com base no teor total de isoflavonas, sendo a dosagem mais comum de 40-80 mg de isoflavonas por via oral diariamente (9, 10). Pesquisas sugerem que 80 mg por dia podem ser mais eficazes (9, 10). O produto mais estudado é o Promensil, que é considerado equivalente ao Menoflavon, ambos contendo aproximadamente 50% de biochanina A, 35% de formononetina, 3% de genisteína e 1% de daidzeína (14).

É importante ressaltar que diferentes ambientes de cultivo e métodos de extração podem levar a variações na concentração e abundância relativa das isoflavonas no trevo-vermelho, o que pode impactar seus efeitos no organismo (11, 12, 13). Portanto, a composição da formulação deve ser considerada para replicar resultados de estudos.

Cimicifuga racemosa (Cimicífuga ou Black Cohosh)

A dosagem de extrato isopropanólico (Remifemin) é de 20-40 mg diários em doses de 20 mg (dose única diária ou duas vezes ao dia) (15, 17). Esta dosagem confere 1-2 mg de glicosídeos triterpenoides (15, 17). Extratos aquosos/etanólicos não Remifemin são utilizados em doses de 64-128 mg diários, geralmente divididas em duas doses (15, 17). Acredita-se que a cimicífuga atue ligando-se a receptores no sistema nervoso central responsáveis pela termorregulação, humor e sono (e.g., opioide mu, serotonina, dopamina, ácido gama-aminobutírico), sem influenciar os níveis de estrogênio, densidade ou proliferação do tecido mamário, espessura do endométrio ou citologia vaginal (15, 16, 17). Adicionalmente, o black cohosh demonstrou propriedades antiestrogênicas em estudos de câncer de mama in vitro, reduzindo o crescimento de células de câncer de mama responsivas ao estrogênio (18). Um mecanismo termorregulador não estrogênico do black cohosh que modula o sistema imunológico ao promover a produção de óxido nítrico (NO) em células tratadas com interferon gama (INF-γ) também foi observado in vitro (17). Não se sabe se precisa ser tomado com alimentos, embora seja recomendado fazê-lo por prudência.

Outras Plantas com Indicações na Menopausa

  • Dioscorea villosa (Inhame mexicano)
  • Glycyrrhiza glabra (Alcaçuz)
  • Salvia officinalis (Sálvia)
  • Vitex agnus-castus (Vítex)

Outros Tratamentos e Recomendações

  • Exercício físico: Contribui para a saúde geral e óssea, além de poder auxiliar no manejo de alguns sintomas.
  • Sono adequado: Essencial para a regulação hormonal e bem-estar geral.

Referências Bibliográficas

  1. COZZOLINO, S. Biodisponibilidade de Nutrientes. 6. ed. São Paulo: Manole, 2020. 934 p.
  2. VAN DE WEIJER, P. H. M.; BARENTSEN, R. Isoflavones from red clover (Promensil®) significantly reduce menopausal hot flush symptoms compared with placebo. Maturitas, v. 42, n. 3, p. 187–193, 2002.
  3. LIPOVAC, M. et al. Improvement of postmenopausal depressive and anxiety symptoms after treatment with isoflavones derived from red clover extracts. Maturitas, v. 65, n. 3, p. 258–261, 2010.
  4. GAWEESH, S. S. et al. Folic acid supplementation may cure hot flushes in postmenopausal women: A prospective cohort study. Gynecological Endocrinology, v. 26, n. 9, p. 658–662, 2010.
  5. SAAD, G. de A. et al. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na Prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.
  6. KUPFERSZTAIN, C. et al. The immediate effect of natural plant extract, Angelica sinensis and Matricaria chamomilla (Climex) for the treatment of hot flushes during menopause. A preliminary report. Clinical and Experimental Obstetrics & Gynecology, v. 30, n. 4, p. 203–206, 2003. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14664413.
  7. RITTER, J. M. et al. Rang & Dale Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. 789 p.
  8. PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento Humano. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2022. v. 1.
  9. VRIELING, A. et al. No effect of red clover-derived isoflavone intervention on the insulin-like growth factor system in women at increased risk of colorectal cancer. Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention, out. 2008.
  10. VRIELING, A. et al. Isolated isoflavones do not affect the circulating insulin-like growth factor system in men at increased colorectal cancer risk. Journal of Nutrition, fev. 2007.
  11. ATKINSON, C. et al. Red-clover-derived isoflavones and mammographic breast density: a double-blind, randomized, placebo-controlled trial ISRCTN42940165. Breast Cancer Research, 2004.
  12. ATKINSON, C. et al. Modest protective effects of isoflavones from a red clover-derived dietary supplement on cardiovascular disease risk factors in perimenopausal women, and evidence of an interaction with ApoE genotype in 49-65 year-old women. Journal of Nutrition, jul. 2004.
  13. BLAKESMITH, S. J. et al. Effects of supplementation with purified red clover (Trifolium pratense) isoflavones on plasma lipids and insulin resistance in healthy premenopausal women. British Journal of Nutrition, abr. 2003.
  14. CAMPBELL, M. J. et al. Effect of red clover-derived isoflavone supplementation on insulin-like growth factor, lipid and antioxidant status in healthy female volunteers: a pilot study. European Journal of Clinical Nutrition, jan. 2004.
  15. CASTELO-BRANCO, C. et al. Review & meta-analysis: isopropanolic black cohosh extract iCR for menopausal symptoms – an update on the evidence. Climacteric, abr. 2021.
  16. LISKE, E. et al. Physiological investigation of a unique extract of black cohosh (Cimicifugae racemosae rhizoma): a 6-month clinical study demonstrates no systemic estrogenic effect. Journal of Women’s Health & Gender-Based Medicine, mar. 2002.
  17. AMSTERDAM, J. D. et al. Randomized, double-blind, placebo-controlled trial of Cimicifuga racemosa (black cohosh) in women with anxiety disorder due to menopause. Journal of Clinical Psychopharmacology, out. 2009.
  18. MOLLÁ, M. D. J. et al. Cimicifuga racemosa treatment and health related quality of life in post-menopausal Spanish women. Gynecological Endocrinology, jan. 2009.
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