Cobre: Essencialidade, Funções Fisiológicas e Implicações Clínicas


Cobre: Essencialidade, Funções Fisiológicas e Implicações Clínicas


Introdução

O cobre é um micronutriente essencial, cuja importância para a saúde humana foi estabelecida em 1928 (1). Atuando como cofator de diversas enzimas vitais, o cobre desempenha papéis cruciais na formação de tecidos, metabolismo energético, função neurológica e defesa antioxidante. Este documento explora sua absorção, metabolismo, distribuição no organismo, métodos de avaliação do status nutricional, e as manifestações de sua deficiência e toxicidade.


Absorção, Metabolismo e Excreção

Absorção

A absorção do cobre ocorre no duodeno a uma taxa de aproximadamente 50%, sendo os 50% restantes excretados nas fezes (1). Estima-se que são absorvidos diariamente entre 1-1,6 mg/dia (1). O mecanismo de transporte envolve difusão não mediada na borda em escova e uma transferência saturável dependente de energia através da membrana basolateral (1). A absorção de cobre é inversamente proporcional à quantidade ingerida, enquanto sua excreção endógena varia diretamente com a ingestão (1).

Metabolismo

Após a absorção, o cobre é transportado principalmente ligado à albumina e à transcupreína, sendo captado em sua maior parte pelos rins e fígado (1). Um organismo adulto (~70 kg) contém cerca de 110 mg de cobre, distribuídos por todos os órgãos, com concentrações significativas nos ossos (46 mg), músculos (26 mg) e fígado (10 mg), entre outros (1).

Excreção

A excreção do cobre ocorre principalmente via bile, sendo menos reabsorvido do que outras secreções gastrointestinais (1).


Recomendações Nutricionais e Fontes

Recomendações Dietéticas

  • RDA (Recommended Dietary Allowance) para Homens e Mulheres adultos: 900 mcg/dia.
  • RDA para Gestantes: 1000 mcg/dia.
  • RDA para Lactantes: 1300 mcg/dia.
  • UL (Upper Limit): 1100 mcg/dia.

Fontes Alimentares

As principais fontes alimentares de cobre incluem: grãos, produtos à base de chocolate, frutas, vegetais e carnes (1). Exemplos específicos são castanha de caju, semente de girassol, castanha do Brasil, farinha de soja, amendoim, cacau, chocolate amargo, aveia, cevada e lentilha.


Funções no Organismo

O cobre exerce diversas funções essenciais no organismo, atuando como cofator em importantes enzimas:

  • Citocromo-C-oxidase (1).
  • Superóxido dismutase (1).
  • Ceruloplasmina (1).
  • Lisil oxidase (1).
  • Tirosinase (1).
  • Monoamina oxidase (1).
  • Diamina oxidase (1).
  • Dopamina-beta-mono-oxigenase (1).

Além disso, o cobre é necessário na formação e manutenção da bainha de mielina, composta principalmente por fosfolipídios, cuja síntese é dependente da citocromo-C-oxidase (1).

Cobre e Estresse

O estresse pode levar ao aparecimento de cabelos brancos, pois o cobre e o manganês são nutrientes utilizados no combate ao estresse e são responsáveis pela coloração.

Cobre e Resposta Alérgica

O cobre atua na modulação da histamina, sendo cofator para a diamina oxidase, enzima que inativa a histamina.

Cobre e Função Cognitiva

A essencialidade do cobre na formação da bainha de mielina indica seu papel crucial na função cognitiva.

Cobre e Saúde Óssea

Desempenha um papel vital na formação óssea, na mineralização esquelética e na integridade do tecido conjuntivo. Atua também na formação de células da medula óssea e é cofator enzimático da lisil oxidase.


Avaliação Bioquímica do Cobre

A avaliação do status de cobre pode ser realizada por meio de:

  • Cobre sérico:
    • Homem: 70-140 mcg/dL (1).
    • Mulher: 85-155 mcg/dL (1).
    • Gestantes: 118-132 mcg/dL (1).
    • Em crianças, não há distinção de gênero (1).
    • Observa-se que os níveis de cobre diminuem com a idade e aumentam em gestantes (1).
  • Ceruloplasmina sérica:
    • Adultos: 22-60 mg/dL (1).
  • Cobre Eritrocitário:
    • Útil em pacientes com doenças inflamatórias agudas, pois reflete o estoque de cobre antes da inflamação (1).

Elevação de cobre/ceruloplasmina pode ocorrer em diversas condições, como período gestacional, uso de anticoncepcional oral, doença hepática, neoplasias, doenças inflamatórias, infarto do miocárdio e doenças infecciosas. Essas condições podem mascarar uma possível deficiência (1).


Deficiência de Cobre

Embora a deficiência de cobre seja rara em humanos, ela pode ocorrer devido a três motivos principais:

  1. Erros inatos do metabolismo (1).
  2. Baixa ingestão alimentar (1).
  3. Aumento da excreção (1).

Diagnóstico e Situações de Risco

O diagnóstico da deficiência de cobre é geralmente feito a partir das manifestações clínicas (1). As situações em que a deficiência é mais frequentemente descrita incluem:

  • Prematuridade: devido a menor estoque ao nascimento e maior necessidade para o crescimento (1).
  • Alimentação exclusiva com leite de vaca: que contém menor quantidade e tem absorção reduzida de cobre (1).
  • Síndromes de má absorção: com aumento da perda gastrointestinal (1).
  • Pós-bariátrica (1).
  • Ingestão elevada de zinco: geralmente associada ao uso de suplementação (1).
  • Anemia não responsiva ao ferro: a insuficiência de cobre leva à menor atividade da ceruloplasmina (1).
  • Nutrição parenteral prolongada sem a devida reposição (1).

Manifestações Clínicas da Deficiência

A deficiência de cobre pode se manifestar de diversas formas:

  • Medula Óssea: Alterações megaloblásticas e/ou sideroblastos anelados (1).
  • Sangue: Anemia hipocrômica e normo/microcítica (não responsiva ao ferro), neutropenia (1).
  • Músculos: Hipotonia (1).
  • Ossos: Sinais de rarefação óssea (osteoporose) (1).
  • Sistema Nervoso: Distúrbios de marcha com parestesia de membros, ataxia e/ou espasticidade sensorial (desmielinização) (1).
  • Sistêmico: Aumento da prevalência de infecções (1), cansaço e fadiga, flacidez, palidez, queda de cabelo, cabelos ralos e finos, inchaço nos joelhos, cotovelos e punhos.
  • Pode gerar baixa saturação de transferrina.

Doenças Relacionadas ao Cobre

Doença de Wilson e Síndrome de Menkes

No tratamento da Doença de Wilson (acúmulo de cobre) e da Síndrome de Menkes (deficiência de cobre devido a defeito no transporte), a diminuição do consumo de alimentos ricos em cobre e o aumento do consumo de alimentos ricos em zinco (que compete com o cobre na absorção) podem auxiliar o tratamento (1).


Suplementação e Toxicidade

Suplementação Nutricional

A suplementação de cobre pode ser formulada como sulfato, gluconato ou quelato, com doses e tempos de tratamento variados (1).

Toxicidade

Os sintomas mais comuns de toxicidade por cobre são náuseas, vômitos e dores abdominais (1). Em casos graves, podem-se observar necrose hepática, hemólise e coma (1).


Referências Bibliográficas

  1. BRAGA, J. A. P.; AMANCIO, O. M. S. Deficiências Nutricionais – Manual para diagnóstico e condutas. 1. ed. Santana de Parnaíba: Manole, 2022. 216 p.

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