Avaliação Nutricional e Fisiológica em Atletas: Implicações para o Desempenho e Saúde


Avaliação Nutricional e Fisiológica em Atletas: Implicações para o Desempenho e Saúde


Introdução

Em atletas, particularmente naqueles que praticam modalidades com elevada exigência de controle de peso, é comum observar uma ingestão energética e nutricional insuficiente. Esse cenário pode comprometer o estado nutricional, levando a fadiga, desidratação, atrasos no crescimento e diminuição da função imune, entre outras consequências (3).


Exames Bioquímicos de Interesse Clínico

Para uma avaliação abrangente do estado nutricional e de saúde de atletas, os seguintes exames bioquímicos são considerados relevantes:

  • Hemograma completo (1)
  • Colesterol e frações (1)
  • Triglicerídeos (1)
  • Glicemia de jejum (1)
  • T4 livre, TSH, anti-TPO, anti-TG (1)
  • Cortisol matinal e vespertino (1)
  • Testosterona total e livre (1)
  • CK total (1)
  • Vitamina D (1)
  • Vitamina B12, B9 (1)
  • Ferro sérico, ferritina (1)

Peso Corporal e Composição Corporal

Em esportes de contato, como futebol americano e rúgbi, um maior peso corporal é frequentemente considerado uma vantagem (2). Em contrapartida, em modalidades como ginástica, maratona e outras atividades que envolvem a sustentação do peso corporal, um peso menor e uma maior razão potência/peso são fatores cruciais (2). Quando há necessidade de perda de peso, é recomendado que essa perda seja limitada a 0,5 a 1 kg por semana (3).

Percentual de Gordura por Esporte

A tabela abaixo apresenta os percentuais de gordura (%G) típicos observados em atletas de diferentes modalidades (1, 2):

Modalidade%G Homens%G Mulheres
Futebol10–18%13-18%
Natação6-12%10-18%
Vôlei11-14%16-25%
Maratona5-11%10-15%
Fisiculturismo5-8%10-15%
Basquete6-12%20-27%
Tênis12-16%16-24%
Ginástica5-12%10-16%
Arremesso de peso16-20%20-28%
Patinação6-12%8-16%
Canoagem6-12%10-16%
Remo, categoria leve e aberta6-14%8-18%
Salto em altura e a distância7-12%10-18%
Ciclismo5-15%8-20%
Triatlo5-12%10-15%
Atletismo de fundo5-8%8-15%
Atletismo de velocidade6-10%9-20%
Atletismo, salto6-11%9-16%
Atletismo, lançamento8-18%10-20%
Hóquei no gelo e de campo8-15%12-18%
Levantamento de peso, categ. leve e médio5-10%8-14%
Levantamento de peso, categ. peso pesado8-18%10-20%
Judô, Tae Kwon Do e Caratê, categ. leve e médio5-10%8-14%
Judô, Tae Kwon Do e Caratê, categ. peso pesado8-18%10-20%
Boxe, Luta Livre, Greco-romana, categ. leve e médio5-10%
Boxe, Luta Livre, Greco-romana, categ. peso pesado8-18%
Futebol Americano (backs)9-12%
Futebol Americano (lineman)15-19%
Beisebol12-15%12-18%
Esqui nórdico, alpino ou de saltos7-15%10-18%
Esqui (cross-country)7-12%16-22%

Em atividades físicas que exigem translocação do peso corporal, seja vertical (salto) ou horizontal (corrida), observa-se uma relação inversa entre a massa adiposa e o desempenho (2). A massa adiposa tende a ser prejudicial por adicionar peso sem aumentar a capacidade de produção de força (2). Além disso, a aceleração é diretamente proporcional à massa (2). Dessa forma, um percentual de gordura relativamente mais baixo é mais vantajoso do ponto de vista mecânico e metabólico (2).


Recomendações Nutricionais e Aspectos Metabólicos

A maioria das diferenças nas respostas a estratégias nutricionais específicas, em função da idade ou sexo, são relativamente pequenas do ponto de vista prático (2).

Avaliação da Hidratação

Em atletas, é útil avaliar a coloração da urina utilizando a escala de Armstrong (cores de 1 a 8) (1). Segundo essa escala, a desidratação é indicada a partir do número 5 (1).

Metabolismo

Em adultos, a densidade de mitocôndrias no músculo esquelético é um dos principais determinantes do metabolismo de carboidratos e gorduras (2). Em geral, quanto maior o número e o tamanho das mitocôndrias, maiores são as taxas de oxidação de gordura durante o exercício (2).

Parece haver uma associação entre o tipo de fibra muscular e o metabolismo de substrato; um percentual maior de fibras do tipo I favorece o metabolismo de gorduras (2). Há também algumas diferenças no uso de substratos energéticos entre adultos e crianças: crianças possuem capacidades glicolíticas menores, capacidades oxidativas maiores e taxas mais elevadas de oxidação de gordura (2).


Micronutrientes Essenciais

Em mulheres atletas, os maiores riscos de deficiência estão relacionados ao cálcio, ferro e zinco (3).

Ferro

A depleção de ferritina reduz os níveis de mioglobina e citocromo, bem como de enzimas do sistema de transporte de elétrons e do ciclo do ácido tricarboxílico (3). Isso compromete o metabolismo aeróbio e limita a capacidade de se exercitar (3). Em adolescentes, a deficiência de ferro pode afetar não apenas o desempenho, mas também a função gastrointestinal, o humor, o funcionamento cognitivo e as funções imunológicas (3).

Zinco

O zinco desempenha um papel crucial no esporte, estando envolvido no processo respiratório (3). Além disso, sua deficiência é associada à anorexia (3).

Observação: O uso de suplementação não deve ser generalizado. Cada caso deve ser devidamente avaliado quanto à necessidade de uso (3).


Referências Bibliográficas

  1. RIBAS FILHO, D.; SUEN, V. M. M. Tratado de Nutrologia. 2. ed. Santana de Parnaíba: Manole, 2019. 646 p.
  2. JEUKENDRUP, A. E.; GLEESON, M. Nutrição no Esporte: Diretrizes Nutricionais e Bioquímica e Fisiologia do Exercício. 3. ed. São Paulo: Manole, 2021. 559 p.
  3. HIRSCHBRUCH, M. D. Nutrição Esportiva: Uma Visão Prática. 3. ed. Barueri: Manole, 2014. 496 p.