Inflamação: Mecanismos, Consequências Sistêmicas e Relação com a Nutrição


Inflamação: Mecanismos, Consequências Sistêmicas e Relação com a Nutrição


Introdução

A inflamação é uma resposta fisiológica essencial do sistema imune a alterações estressantes que causam dano celular ou tecidual. Embora crucial para a defesa e reparo, a manutenção prolongada desse processo pode tornar-se prejudicial ao próprio organismo, culminando em diversas doenças inflamatórias crônicas.


Definição e Classificação da Inflamação

A inflamação é definida como uma resposta biológica a uma alteração estressante no organismo que cause danos a células ou tecidos (2). Essas agressões podem ser causadas por fatores físicos (como queimaduras, radiação, contusões), químicos (ácidos, alérgenos, alcalinos) e bioquímicos (parasitas, microrganismos, endotoxinas) (2).

Geralmente, a inflamação é classificada em dois tipos principais:

Inflamação Aguda

Na inflamação aguda, as células do sistema imune são ativadas e migram rapidamente para o local do dano, liberando fatores de crescimento, citocinas, espécies reativas de oxigênio (ROS) e espécies reativas de nitrogênio (RNS) (2). Esta é uma resposta de curta duração, fundamental para iniciar o processo de reparo e eliminar o agente agressor.

Inflamação Crônica

A inflamação crônica ocorre quando a inflamação aguda não é totalmente resolvida (2). Essa condição inflamatória persistente participa da patogênese de uma série de doenças crônicas debilitantes, incluindo asma, aterosclerose, câncer, doença de Alzheimer e doença de Parkinson (2).


Vias de Sinalização Associadas à Inflamação

Diversas vias de sinalização celular têm sido associadas ao processo inflamatório, destacando-se:

  • NF-κB (Fator Nuclear kappa B) (2)
  • AP-1 (Proteína Ativadora 1) (2)
  • PPAR (Receptores Ativados por Proliferadores de Peroxissomos) (2)
  • Nrf2 (Fator Nuclear Eritroide 2 relacionado ao Fator 2) (2)
  • MAPKs (Proteínas Quinases Ativadas por Mitógenos) (2)
  • PTKs (Tirosina Quinases) (2)
  • PI3K/Akt (Via da Fosfoinositídeo 3-quinase/Proteína Quinase B) (2)
  • Ubiquitin-proteasome system (Sistema Ubiquitina-Proteassoma) (2)

Inflamação Sistêmica e Resposta de Fase Aguda

Quando a produção de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α (Fator de Necrose Tumoral alfa), IL-1 β (Interleucina 1 beta) e IL-6 (Interleucina 6) é elevada em um sítio de inflamação, os níveis séricos dessas citocinas aumentam, deflagrando efeitos sistêmicos (1). Dentre esses efeitos estão febre, mal-estar, dores musculares e diminuição do apetite (1).

Além disso, essas citocinas atuam sobre os hepatócitos, aumentando a síntese de proteínas de fase aguda positiva, como ferritina, PCR (Proteína C Reativa) e MBL (Lectina Ligadora de Manose), e diminuindo a síntese das proteínas de fase aguda negativa, que incluem albumina e proteína ligadora de retinol (RBP) (1).

O ferro ligado à transferrina diminui como resultado da síntese aumentada de hepcidina (1). A hepcidina, por sua vez, bloqueia a reciclagem normal do ferro ligado à transferrina pelos macrófagos, o que leva a um aumento dos níveis intracelulares de ferro e, consequentemente, a uma diminuição dos níveis séricos de ferro (1). A inflamação crônica pode resultar em anemia da doença crônica devido à diminuição da disponibilidade de ferro para a eritropoiese (1). Os níveis séricos de zinco também diminuem durante a resposta de fase aguda (1).

O metabolismo de macronutrientes é igualmente afetado durante a resposta de fase aguda, com níveis elevados de triglicerídeos séricos, diminuição da β-oxidação e aumento da gliconeogênese (1).


Alimentação e Inflamação

A inflamação pós-prandial faz parte da resposta normal do organismo ao estresse gerado nas células com a ingestão de alimentos (3). Curiosamente, os nutrientes parecem capazes de modular o status inflamatório dos seres humanos (3). De fato, a maioria das doenças inflamatórias crônicas é extremamente influenciada pela nutrição. Isso destaca a importância de considerar a dieta como um fator chave na prevenção e manejo de condições inflamatórias.


Referências Bibliográficas

  1. ROSS, A. C. et al. Nutrição Moderna de Shills na Saúde e na Doença. 11. ed. São Paulo: Manole, 2016. 1642 p.
  2. BHARGAVA, P. et al. Experimental Evidence for Therapeutic Potentials of Propolis. Nutrients, v. 13, n. 8, p. 2528, 2021.
  3. BORDONI, A. et al. Dairy products and inflammation: A review of the clinical evidence. Crit Rev Food Sci Nutr, v. 57, n. 12, p. 2497–2525, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1080/10408398.2014.967385.

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