Manejo Nutricional na Fibrose Cística: Otimização da Absorção de Nutrientes
Introdução
A fibrose cística (FC) é uma doença genética multissistêmica que impacta significativamente o estado nutricional dos pacientes. A complexidade de sua fisiopatologia exige uma abordagem terapêutica abrangente, com destaque para a intervenção nutricional como pilar fundamental no manejo clínico. Este documento aborda os princípios da conduta nutricional, visando otimizar a absorção de nutrientes e, consequentemente, melhorar o prognóstico e a qualidade de vida dos indivíduos acometidos.
Fisiopatologia da Fibrose Cística e Implicações Nutricionais
A fibrose cística é um distúrbio genético caracterizado por uma disfunção das células exócrinas em múltiplos órgãos. Esta disfunção resulta na produção de um muco anormalmente espesso e aderente, que obstrui glândulas e ductos. As principais manifestações incluem complicações pulmonares e gastrointestinais, além de um risco aumentado para infecções respiratórias recorrentes.
A insuficiência pancreática exócrina, observada em aproximadamente 90% dos casos, é uma das principais causas da má absorção de nutrientes. A redução na liberação de enzimas digestivas no intestino delgado compromete a digestão de macronutrientes. Além disso, a fibrose cística pode levar à resistência à insulina e ao desenvolvimento de diabetes mellitus.
Adicionalmente, a Síndrome de Obstrução Intestinal Distal (SOID) é uma complicação comum, necessitando de intervenções como laxantes e lavagens intestinais. O muco espesso também pode revestir as vilosidades intestinais, contribuindo para a má absorção de nutrientes.
Conduta Clínica e Recomendações Nutricionais
O objetivo primordial da terapia nutricional na fibrose cística é otimizar a absorção de nutrientes, visando a manutenção ou o ganho de peso adequado. A avaliação do Gasto Energético Total (GET) pode ser estimada pela fórmula:
GET=TMB×1,5
Onde TMB corresponde à Taxa Metabólica Basal.
Deficiências de Vitaminas Lipossolúveis
Pacientes com fibrose cística frequentemente apresentam deficiências de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) devido à má absorção de gorduras. As implicações dessas deficiências são:
- Vitamina A: Prejuízo na mobilização hepática e comprometimento da visão e função imune.
- Vitamina D: Prejuízos no metabolismo ósseo, com risco aumentado de osteopenia e osteoporose.
- Vitamina E: Risco de anemia hemolítica e disfunções neurológicas.
- Vitamina K: Prejuízos na mobilização hepática e coagulopatias.
A suplementação dessas vitaminas é crucial no manejo da fibrose cística.
Recomendações Dietéticas
A dieta para pacientes com fibrose cística deve ser hipercalórica, hiperproteica e hiperlipídica, com um teor normoglicídico. As proporções recomendadas para macronutrientes são:
- Hiperproteica: 15% – 20% do total de calorias.
- Hiperlipídica: 30% – 40% do total de calorias.
- Normoglicídica: O restante das calorias, adaptado às necessidades individuais.
Essa abordagem nutricional visa fornecer a energia e os substratos necessários para combater a desnutrição e as altas demandas metabólicas impostas pela doença.