Apolipoproteínas A1 e B: Funções, Indicações e Risco Cardiovascular
Introdução
As apolipoproteínas são componentes proteicos essenciais das lipoproteínas, atuando no transporte de lipídios no plasma sanguíneo. As apolipoproteínas A1 (apoA1) e B (apoB) são biomarcadores cruciais na avaliação do metabolismo lipídico e do risco de doenças ateroscleróticas.
Definição e Distribuição
As apolipoproteínas são componentes proteicos que se associam aos lipídios para formar as lipoproteínas, cuja principal função é o transporte de lipídios na corrente sanguínea (1).
Apolipoproteína A1 (apoA1)
A apoA1 é a principal proteína componente das lipoproteínas de alta densidade (HDL), compreendendo aproximadamente 90% de sua estrutura proteica (1). Ela também é encontrada em menor proporção nos quilomícrons (3). A apoA1 desempenha um papel fundamental no transporte reverso do colesterol, auxiliando na remoção do colesterol dos tecidos periféricos e seu retorno ao fígado.
Apolipoproteína B (apoB)
A apoB é o principal componente proteico das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e possui um papel crucial na regulação da síntese e do metabolismo do colesterol (1). A forma mais abundante, apoB-100, é sintetizada no fígado e é um constituinte estrutural essencial das VLDL (lipoproteínas de muito baixa densidade), IDL (lipoproteínas de densidade intermediária) e LDL (3). Cada partícula de VLDL, IDL e LDL contém uma única molécula de apoB-100, o que a torna um excelente marcador do número total de partículas aterogênicas.
Indicações Clínicas
A dosagem das apolipoproteínas é indicada principalmente para:
- Avaliar o risco de doenças ateroscleróticas, como a doença arterial coronariana (1).
- Auxiliar na detecção de doenças genéticas raras do metabolismo lipídico, como a Doença de Tangier (1).
Apolipoproteína A1 (apoA1)
Valores de Referência
- Homens: 94-178 mg/dL (1)
- Mulheres: 101-199 mg/dL (1)
Valores Elevados
Níveis elevados de apoA1 podem ser associados a:
- Hiperalfalipoproteinemia familiar (distúrbio genético raro) (1).
- Dislipidemia familiar (3).
- Exercício físico crônico vigoroso (3).
- Consumo moderado de álcool (3).
Valores Diminuídos
A diminuição dos níveis de apoA1 pode indicar:
- Hipoalfalipoproteinemia familiar (3).
- Doença de Tangier (3).
- Pancreatite (3).
- Hipertrigliceridemia (3).
- Nefrose e insuficiência renal crônica (1).
- Diabetes mellitus não controlado (1).
- Doença hepatocelular (1).
- Doença de Parkinson (1).
- Níveis baixos de apoA1 estão associados a um maior risco de desenvolvimento de aterosclerose (3).
Apolipoproteína B (apoB)
Em geral, menor quantidade de apoB é preferível, pois um alto número de partículas contendo apoB está associado a um maior risco de mortalidade por eventos cardiovasculares.
Valores de Referência
- Homens: 55-140 mg/dL (1) ou 70-160 mg/dL (3)
- Mulheres: 55-125 mg/dL (1) ou 60-150 mg/dL (3)
Valores Aumentados
Elevações nos níveis de apoB podem ser observadas em:
- Doença hepática (1).
- Hiperlipoproteinemia tipos IIa, IIb e V (1).
- Síndrome de Cushing (1).
- Porfiria (1).
- Síndrome de Werner (1).
- Diabetes mellitus (1).
- Hiperlipidemia combinada familiar (1).
- Hipotireoidismo (1).
- Síndrome nefrótica e insuficiência renal (1).
Valores Diminuídos
A diminuição dos níveis de apoB pode ser indicativa de:
- Doença de Tangier (1).
- Hiperparatireoidismo (1).
- Hipobetalipoproteinemia (1).
- Deficiência de Apo C-II (1).
- Desnutrição (1).
- Síndrome de Reye (1).
- Cirurgia (1).
- Abetalipoproteinemia (1).
- Cirrose (1).
Razão APOB/APOA1: Um Indicador de Risco Cardiovascular
A razão APOB/APOA1 é um indicador de risco cardiovascular de grande valor, pois a literatura sugere que ela possui maior sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de doença arterial em comparação com a avaliação isolada de cada lipídio ou lipoproteína (1).
Indicativos da Razão APOB/APOA1
- Metade do risco médio:
- Homem: 0,4 (1)
- Mulher: 0,3 (1)
- Risco médio:
- Homens: 1,0 (1)
- Mulheres: 0,9 (1)
- Duas vezes o risco médio:
- Homem: 1,6 (1)
- Mulher: 1,5 (1)
Limitações e Considerações
É importante notar que os níveis de apoA1 estão inversamente associados à doença arterial cardiovascular prematura e à doença vascular periférica (1).
Para a avaliação do perfil lipídico, incluindo as apolipoproteínas, recomenda-se que o paciente mantenha um estado metabólico estável e a dieta habitual. Um período de jejum de 12 horas não representa o estado metabólico normal do indivíduo (2). Além disso, o jejum não é estritamente necessário para a dosagem dessas partículas, pois o estado pós-prandial não interfere significativamente em suas concentrações (2).
Referências Bibliográficas
- Willimson MA, Snyder LM. Wallach – Interpretação de Exames Laboratoriais. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. 1225 p.
- Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 109, n. 2, supl. 1, p. 1-76, ago. 2017.
- Calixto-Lima L, Reis NT. Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Rubio; 2012. 490 p.