Emoções Humanas: Conceituação, Neurobiologia e Implicações Comportamentais


Emoções Humanas: Conceituação, Neurobiologia e Implicações Comportamentais


Introdução:

As emoções são respostas instantâneas do corpo a estímulos, sejam eles externos (do ambiente) ou internos (pensamentos). Elas desempenham um papel crucial na orientação do comportamento, permitindo que os indivíduos ajam rapidamente diante das demandas do ambiente. A experiência emocional é inerentemente subjetiva e só existe se for percebida, seja pela própria pessoa ou por observadores que inferem seu estado afetivo e de humor. Todas as decisões são mediadas, em maior ou menor grau, pelas emoções. Por exemplo, a raiva pode se manifestar como agressividade e impulso de ataque, enquanto o medo está associado a comportamentos de fuga ou esquiva diante de uma ameaça real ou imaginária. A tristeza, por sua vez, é uma resposta universal a perdas, derrotas ou grandes adversidades.

As emoções são fenômenos complexos e multidimensionais, não se restringindo a aspectos cognitivos, neurofisiológicos ou socioculturais isolados. Embora teóricos possam divergir em sua definição e causas, há consenso de que as emoções possuem dimensões de quantidade e qualidade/valência. Diferentemente das emoções, os sentimentos referem-se a estados afetivos com dimensão subjetiva e cognitiva, implicando a experiência pessoal e a autorreflexão sobre eventos emocionais.


Conceito e Componentes da Emoção

A emoção é um campo de estudo que não estabelece uma separação estrita entre componentes somáticos (a vivência emocional no corpo), componentes cognitivos (processos avaliativos) e outras influências. A experiência emocional não é um fenômeno unitário, variando entre indivíduos e sendo o resultado de múltiplos eventos (1). Na sua forma mais simples, a emoção se manifesta por um ato motor de natureza motivacional, desencadeado por sensações de estímulos sensoriais do ambiente (1).

Além disso, a emoção pode envolver um conjunto de pensamentos e planos sobre eventos passados, presentes ou futuros, e manifestar-se por meio de expressões faciais características (1). Podem ocorrer também alterações endócrinas e autonômicas significativas, como boca e garganta secas, sudorese palmar e axilar, taquicardia, aumento da frequência respiratória, rubor facial, tremores nas extremidades e, em casos de intensa experiência emocional, incontinência urinária e intestinal (1).

Na literatura, a emoção é definida como um processo complexo e multidimensional que denota alterações fisiológicas e psicológicas. Essas alterações são experimentadas desde o desenvolvimento intrauterino e evoluem ao longo do ciclo vital, podendo se adaptar ou não ao meio (1). A experiência vivida, por sua vez, gera um significado particular para cada indivíduo. O desenvolvimento emocional, embora com base em uma disposição biológica, é fortemente moldado pela interação social.


Teorias da Emoção: Perspectivas Históricas e Atuais

As teorias da emoção, frequentemente focadas em aspectos específicos, fornecem subsídios importantes para a compreensão da neurobiologia da ansiedade (1).

Teoria de James-Lange

No início do século passado, William James e Carl Lange propuseram que as emoções consistem na percepção das alterações fisiológicas desencadeadas por um estímulo emocional (1). O cerne dessa teoria é que a resposta fisiológica precede a experiência emocional. Ou seja, o cérebro primeiro interpreta as reações corporais a um estímulo antes de gerar a emoção. Por exemplo, sentir medo seria a percepção de alterações autonômicas (taquicardia, piloereção) provocadas pelo estímulo emocional (1).

Em um contexto onde o conhecimento sobre interações neurais e comportamentais era limitado, a teoria de James-Lange poderia sugerir um paradoxo: “nós sentimos medo porque corremos, e não corremos porque sentimos medo” (1). Contudo, a percepção de respostas autonômicas pode, de fato, intensificar a sensação de ansiedade, uma vez que fármacos bloqueadores autonômicos, como o propranolol, aliviam a ansiedade (1).

Teoria de Cannon-Bard

Em 1928, Walter Cannon e Phillip Bard contestaram a teoria de James-Lange. Suas observações indicaram que animais com lesões medulares e vagotomizados ainda exibiam reações emocionais. Além disso, argumentaram que as alterações fisiológicas podem ser semelhantes, independentemente da emoção (ex: raiva ou medo) (1).

Cannon e Bard propuseram que a experiência emocional resulta da ativação de circuitos no Sistema Nervoso Central (SNC). A reação de luta ou fuga, associada a estados emocionais, seria resultado da ativação uniforme do sistema nervoso simpático, independentemente do tipo de estímulo emocional (1). Essa resposta adaptativa visa prover suporte energético para as reações corporais. Consequentemente, as respostas fisiológicas seriam as mesmas para diferentes estímulos emocionais, não podendo, portanto, determinar a especificidade das emoções, como sugeria James-Lange (1).

Posteriormente, Cannon propôs a teoria talâmica das emoções, que sugeria a coordenação emocional no tálamo e sua manifestação via hipotálamo (1). No entanto, o conhecimento atual carece de evidências concretas que associem a experiência emocional (exceto a dor) a substratos neurais exclusivos no tálamo (1).

Teoria de Lindsley

Esta teoria busca explicar as reações emocionais por meio de uma ativação cortical seletiva, originada no Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA), onde impulsos somáticos e viscerais seriam integrados no SNC (1). Lindsley via o hipotálamo como o centro primário da organização da expressão emocional, mas destacava o papel essencial do SARA no reconhecimento dos impulsos emocionais (1). Apesar de um papel regulador do SARA não poder ser descartado (lesões nesse sistema em animais resultam em sonolência e apatia), a teoria de Lindsley superestimava a função do SARA, pois atualmente sabe-se que estruturas como o hipotálamo possuem seus próprios sistemas de ativação (1).

Teoria de Papez

Em 1937, J. W. Papez levantou a hipótese de que as estruturas do lobo límbico constituiriam o substrato neural das emoções. Influenciado por experimentos que indicavam o papel crítico do hipotálamo e pela noção de que as emoções possuem um componente cognitivo, Papez postulou que a experiência subjetiva da emoção exige a participação do córtex, enquanto a expressão das emoções recruta circuitos hipotalâmicos (1). A ideia de um circuito neural como base anatômica das emoções foi bem aceita, especialmente em consonância com o pensamento freudiano que já apontava para a importância dos processos cerebrais na expressão do comportamento emocional (1). O Circuito de Papez propôs uma via de comunicação entre os centros corticais superiores e o hipotálamo (1).

Síndrome da Adaptação Geral (Selye) e o Conceito de Alostasia (McEwen)

O medo é um estado psicológico associado a um conjunto de respostas corporais a uma ameaça, iniciando uma resposta de estresse. O estresse, definido como um estado de alarme, induz alterações comportamentais, endócrinas e autonômicas que visam a autopreservação e a sobrevivência (1). A resposta ao estresse inclui a liberação de glicocorticoides do córtex adrenal e catecolaminas da medula adrenal e terminações nervosas, que fornecem feedback ao cérebro, influenciando estruturas neurais de controle emocional e cognitivo.

No entanto, Bruce McEwen formulou uma nova interpretação, baseada em evidências de que nem todos os estressores provocam a mesma resposta estereotipada (1). As respostas do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) variam conforme o tipo de estressor, com respostas fisiológicas distintas em termos de regulação neuroquímica e reatividade do organismo (ex: diferenças de sexo) (1).

Atualmente, reconhece-se que os mediadores do estresse podem ter efeitos protetores ou prejudiciais, dependendo de sua duração (1). A exposição prolongada a eventos aversivos pode ser deletéria. Nesse sentido, os termos alostasia e sobrecarga alostática foram cunhados para oferecer uma definição menos genérica de estresse (1).

  • Alostasia: Capacidade de modificar variáveis fisiológicas, dentro de certos limites, para permitir que o indivíduo se adapte ao ambiente (1). Diferencia-se da homeostase (sistemas essenciais que permanecem estáveis) por referir-se a sistemas que alcançam estabilidade por meio de alterações temporárias (ex: produção de energia, regulação hormonal, liberação de neurotransmissores, respostas defensivas) (1). Essa distinção permite diferenciar sistemas vitais (homeostase) daqueles que se adaptam às condições ambientais (alostasia) (1).
  • Estados Alostáticos: Resultam da produção excessiva de mediadores para equilibrar a produção inadequada de outros. Condições como hipertensão crônica, desequilíbrio na ritmicidade do cortisol, privação de sono ou produção de citocinas inflamatórias são exemplos (1). Esses estados referem-se a alterações adaptativas de mediadores primários (ex: glicocorticoides, aminas biogênicas) que integram processos energéticos e comportamentais em resposta a desafios ambientais. Teoricamente, são mantidos por curtos períodos para estabilizar parâmetros homeostáticos (1).
  • Sobrecarga Alostática: Ocorre quando fatores adicionais perturbam a fisiologia do organismo, comprometendo a vida do indivíduo ou animal (1).

Teoria Cognitivo-Fisiológica

Esta teoria integra as perspectivas de James e Cannon, reconhecendo que tanto a leitura das respostas fisiológicas (ex: aumento da pressão arterial, sudorese) quanto a experiência emocional subjetiva são determinantes das emoções (1). A ativação das respostas fisiológicas funciona como um sinal para o cérebro, alertando sobre uma situação incomum (1).

O elemento distintivo dessa teoria é o fator cognitivo, que media a inespecificidade do alerta emocional e a especificidade do estado emocional (1). A interpretação cognitiva do contexto físico e social, juntamente com mecanismos de memória e indicadores sociais, determina o rótulo atribuído ao estado emocional (medo, amor, alegria, raiva, tristeza) (1). A interpretação cognitiva é a avaliação mental do prejuízo ou benefício que uma situação pode gerar (1). Assim, as emoções são definidas como o sentimento expresso ao se aproximar do benéfico/prazeroso ou se afastar do prejudicial/perigoso (1). As implicações clínicas dessa abordagem são evidentes: interpretações mais realistas do ambiente podem aliviar reações emocionais alteradas subjacentes a psicopatologias (1).

Teoria de Henri Wallon

Para Henri Wallon, a emoção possui uma natureza tanto biológica quanto social.

Função da Emoção (Wallon):

  • Informar uma condição interna: As emoções comunicam o estado interno de uma pessoa.
  • Guiar o comportamento: Preparam o indivíduo para desafios, ativando ou inibindo sistemas como o cardiovascular, musculoesquelético, neuroendócrino e Sistema Nervoso Autônomo (SNA) (ex: sudorese, motilidade gastrointestinal, pressão arterial).

Efeitos Fisiológicos das Emoções

As emoções desencadeiam uma série de respostas fisiológicas, que podem ser imediatas ou prolongadas.

Respostas Imediatas

Os principais sinais fisiológicos das emoções resultam da estimulação do sistema simpático, particularmente da glândula suprarrenal (1). O sistema simpático é ativado em todas as situações de alerta, preparando o organismo para uma ação de emergência, como luta ou fuga (1). As alterações características incluem:

  • Aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, otimizando o bombeamento de oxigênio (1).
  • Contração do baço, liberando hemácias para o transporte de oxigênio (1).
  • Redistribuição do suprimento sanguíneo da pele e vísceras para o cérebro e músculos (1).
  • Dilatação dos brônquios e aumento da ventilação pulmonar (1).
  • Dilatação das pupilas para aumentar a acuidade visual (1).
  • Estimulação do sistema linfático para aumentar linfócitos circulantes e reparar danos teciduais (1).
  • Aumento da tensão muscular (1).
  • Piloereção e sudorese, que elevam a condutividade da pele (1).
  • Aumento do metabolismo e liberação de estoques de energia (1).
  • A liberação de adrenalina da medula adrenal mimetiza todos esses efeitos da estimulação simpática (1).

Respostas Prolongadas

Em contextos de vida moderna, onde as situações de perigo nem sempre resultam em fuga ou luta imediata, as respostas fisiológicas podem ser prolongadas (1). A exposição crônica a estímulos estressantes envolve a ação do córtex adrenal e da hipófise anterior, que controla a ativação do córtex adrenal (1).

A liberação de glicocorticoides (hidrocortisona, corticosterona, cortisol) nessas situações é controlada pelo ACTH, que, por sua vez, é regulado por fatores hipotalâmicos (1). O fator liberador de ACTH também promove a liberação de betaendorfina, um opioide endógeno que pode explicar a analgesia induzida pelo estresse ou medo condicionado (1).

Os glicocorticoides promovem a transformação de não açúcares em glicogênio, aumentando seu depósito no fígado e fornecendo fontes de energia mobilizáveis (1). Também facilitam a reação dos vasos sanguíneos à adrenalina e noradrenalina, intensificando a vasoconstrição e podendo levar a quadros hipertensivos (1).

Outros efeitos complicadores dos glicocorticoides incluem a redução da resistência a infecções (devido aos seus efeitos anti-inflamatórios), retardo na formação de tecido cicatricial, inibição da formação de anticorpos e diminuição de leucócitos (1). A produção de úlceras gástricas e duodenais também é frequente, devido ao papel permissivo dos glicocorticoides aos efeitos corrosivos do ácido clorídrico na mucosa gástrica (1).

Durante o estresse prolongado, ocorrem outras alterações hormonais, como a redução do hormônio somatotrófico e a depressão da atividade da glândula tireoide (1). Há também uma significativa redução das funções orgânicas associadas ao comportamento sexual e reprodutivo (1). Em homens, observa-se queda na produção de andrógenos e espermatozoides (1). Em mulheres, pode haver perturbação ou supressão completa do ciclo menstrual, redução do peso uterino, aumento de abortos espontâneos e alterações na lactação (1). Essas disfunções reprodutivas podem ser consequência da redução da secreção de hormônios gonadotróficos (FSH e LH) pela hipófise anterior, que estimulam os ovários a secretar estrógenos e progesterona, e os testículos a produzir espermatozoides e testosterona (1).


Classificação das Emoções

As emoções são frequentemente categorizadas em primárias (ou básicas) e secundárias.

Emoções Primárias (Básicas)

São inatas, evolutivas e universalmente partilhadas (1). Distinguem-se por:

  • Possuírem uma fisiologia característica, com padrões específicos de ativação do sistema nervoso autônomo.
  • Serem provocadas por uma avaliação automática de determinado evento.
  • Estarem presentes em outros primatas.
  • Constituírem uma experiência subjetiva peculiar.

As emoções básicas têm uma essência neurobiológica antiga, fruto da evolução, com um componente de sentimento e capacidade de expressão por meio de gestos corporais (1).

  • Alegria: Expressa por sorriso e gestos abertos; relacionada a empolgação, felicidade, entusiasmo. Sinaliza situações agradáveis, promovendo saúde e facilitando relações sociais.
  • Tristeza: Expressa por choro, declínio da vocalização e postura retraída. Relacionada a perdas, abandono, desvalorização. Leva à reflexão sobre vivências, mas em excesso pode conduzir à depressão.
  • Raiva: Expressa de maneira expansiva, com vocalização forte e intensa expressão corporal. Pode incluir fúria, irritação, inveja e rancor. Funciona como proteção contra ataques ou injustiças. A manifestação adequada promove autoestima e autonomia, mas o excesso pode levar a comportamentos agressivos e antissociais.
  • Medo: Expressa com olhos “saltados” e retraimento corporal. Pode gerar sensação de desproteção, fragilidade, vulnerabilidade. Preserva a vida e ativa a defesa ou fuga. O excesso de medo (de coisas incontroláveis) é prejudicial, impedindo enfrentamentos necessários. A ausência de medo pode ser perigosa.

Emoções Secundárias (Morais ou Sociais)

São de origem social, adquiridas por meio de um processo de aprendizagem (1). A consciência dessas emoções emerge por volta dos dois anos e meio de idade, associada a fatores maturacionais e cognitivos (1).

  • Culpa: Pode gerar agitação, remorso, tensão, ansiedade e necessidade de reparação de um comportamento percebido como violação moral.
  • Vergonha: Envolve sentimentos de desamparo e uma avaliação negativa de si mesmo. Manifesta-se como comportamento de submissão, podendo motivar o indivíduo a se esconder ou evitar eventos sociais.

Todas as emoções são importantes por nos conectar à nossa vida e aos outros. Podem ser vivenciadas de maneira positiva ou negativa, e ser adaptativas ou não ao contexto sociocultural e às expectativas ambientais.

Classificação Conforme a Dimensão

Na psicologia, a emoção pode ser caracterizada por três aspectos comportamentais:

  • Somático: Mudanças fisiológicas (ex: taquicardia, tremor).
  • Comportamental: Comportamentos expressos (ex: fuga em situação de perigo).
  • Sentimento: A experiência emocional subjetiva do indivíduo.

Estruturas Neurais Relacionadas à Emoção

Sistema Límbico

O sistema límbico controla as respostas físicas e emocionais a estímulos ambientais, categorizando a experiência emocional como agradável ou desagradável (1). Essa categorização modula neurotransmissores como dopamina, noradrenalina e serotonina, alterando a atividade cerebral e resultando em mudanças em movimentos, gestos e posturas corporais (1). As memórias emocionais são armazenadas nas estruturas do sistema límbico (1).

As principais estruturas límbicas são: amígdala, hipocampo, giro do cíngulo e hipotálamo (1). O sistema límbico é responsável pelas respostas emocionais (1). Atualmente, o sistema límbico é compreendido como dois sistemas distintos, mas harmoniosamente interligados:

  • Sistema Límbico Emocional: Abrange córtex orbitofrontal, amígdala e giro cingulado anterior.
  • Sistema Límbico Mnemônico: Formado por hipocampo, giro cingulado posterior, corpo mamilar e fórnix.

Amígdala

Relacionada ao processamento do medo e outras emoções, além de atuar no aprendizado, na resposta de luta e fuga, na memória de curto prazo e no reconhecimento de emoções (1). Alterações na amígdala podem resultar em comportamentos agressivos, perda de controle emocional, déficits na memória de curto prazo e no reconhecimento de emoções (1). É na amígdala que as memórias de medo são armazenadas; ela processa informações emocionais e as envia para estruturas corticais (1).

Hipotálamo

Responsável pela regulação de diversas atividades fisiológicas, incluindo funções autônomas e homeostase (1). Desempenha um papel crucial na ativação do sistema nervoso simpático, parte integrante de qualquer reação emocional (1).

Giro do Cíngulo (Cingulado)

Responsável pela regulação da dor, emoções e memória (1). Alterações nessa área foram associadas a prejuízos no aprendizado, expressão inapropriada de emoções, ausência de medo e dor (1).

Hipocampo

Relacionado à memória declarativa de longo prazo, ao armazenamento de memórias recentes, à orientação espacial e ao reconhecimento de eventos inesperados (1). Alterações podem levar à amnésia anterógrada (incapacidade de formar novas memórias declarativas) (1). No Alzheimer, o hipocampo é uma das principais áreas afetadas pela degeneração neural (1). Ele integra a experiência emocional com a cognição (1).

Tálamo

Serve como um centro de transmissão sensorial, projetando sinais para a amígdala e regiões corticais superiores para processamento posterior (1).


Respostas Emocionais Específicas

A amígdala desempenha um papel vital no controle de diversos comportamentos emocionais, como medo, raiva e ansiedade (1). A rede límbica anterior, incluindo córtex orbitofrontal e amígdala, é crucial na regulação dessas emoções (1).

Medo

As respostas de medo são produzidas pela estimulação do hipotálamo e da amígdala (1). A interação entre o hipocampo dorsal, a amígdala basolateral e o córtex pré-frontal medial é essencial no condicionamento contextual do medo (1).

Em uma situação de medo, a ativação do hipocampo dorsal independe do condicionamento prévio, sugerindo que ele codifica informações espaciais, mas não experiências emocionais (1). Em contraste, a ativação da amígdala basolateral ocorre apenas se o indivíduo for condicionado pelo medo específico, indicando que ela codifica propriedades emocionais (1). A disfunção do cíngulo anterior e do hipocampo na modulação da atividade da amígdala pode resultar em transtornos de ansiedade (1).

A resposta de fuga ou medo (resposta ao estresse agudo) é um mecanismo de sobrevivência que permite reagir rapidamente a situações de risco (1). O sistema límbico é fundamental nesse controle (1). Sinais neurais de estresse ativam a amígdala, que processa a informação e ativa o hipotálamo (1). O hipotálamo, então, envia descargas simpáticas para a glândula adrenal, liberando adrenalina e ativando respostas autonômicas de fuga ou susto (1). Após o pico inicial, o hipotálamo ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal para suprimir a descarga simpática (1).

Em estresse persistente, o hipotálamo secreta hormônio liberador de corticotropina (CRH), ativando a glândula pituitária para liberar hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) (1). O ACTH, por sua vez, ativa a glândula adrenal para secretar cortisol, mantendo o corpo em alerta máximo (1). Após a resolução do estresse, o hipotálamo ativa o sistema nervoso parassimpático para inibir a resposta ao estresse (1). A destruição da amígdala abole o medo e suas respostas autonômicas e endócrinas (1). A amígdala também está envolvida na aprendizagem do medo, que é bloqueada se a potenciação de longo prazo for interrompida nas vias para ela (1). Estudos de imagem mostram que a amígdala esquerda é ativada ao ver rostos amedrontadores (1).

Raiva e Placidez

Respostas de raiva a estímulos menores são observadas após a remoção do neocórtex (1). A destruição dos núcleos hipotalâmicos ventromediais e dos núcleos septais em animais com córtex intacto pode induzir raiva (1). A raiva também pode ser gerada pela estimulação de uma área que se estende do hipotálamo lateral até a substância cinzenta central do mesencéfalo (1). A destruição bilateral da amígdala em animais resultou em placidez (1). No entanto, a eliminação do núcleo ventromediano após a destruição da amígdala converte a placidez em raiva (1).

Respostas Autonômicas e Endócrinas à Emoção

A estimulação límbica provoca alterações na respiração e pressão arterial (1). A estimulação do giro cingulado e do hipotálamo pode gerar respostas autonômicas, embora a localização específica dessas respostas em circuitos límbicos ainda seja pouco evidenciada (1). As respostas autonômicas hipotalâmicas são desencadeadas por um fenômeno complexo mediado por impulsos e emoções processadas por estruturas corticais e límbicas (1). Medo e raiva, mediadas pelo sistema límbico, causam estimulação de várias partes do hipotálamo, especialmente as áreas laterais, e produzem descarga simpática difusa (1). O estresse, via conexões corticais e límbicas, causa liberação de CRH dos núcleos paraventriculares do hipotálamo, mediando respostas endócrinas e imunológicas (1).


Emoções em Perspectivas Psicológicas e Desenvolvimento Emocional

Abordagem Cognitivista

A abordagem cognitivista enfatiza a avaliação da situação como a principal característica da emoção, sendo essa avaliação uma atividade cognitiva consciente ou inconsciente (1). As emoções não são vistas como uma reação única, mas como um processo que envolve múltiplas variáveis, emergindo em experiências afetivas, provocando alterações fisiológicas e psicológicas, e despertando possibilidades de ação (1).

Denham (1998) destaca a importância das emoções e da competência emocional no desenvolvimento infantil, e a necessidade de adquirir habilidades emocionais como expressar, compreender e regular as emoções ao longo da vida (1). Essas habilidades são pilares das competências emocionais:

  1. Expressão: Gestos não verbais, demonstração de empatia, capacidade de expressar emoções autoconscientes e um estado emocional que pode diferir do interno (1). Na infância, a expressão emocional é crucial para comunicar afetos aos adultos (1). Expressões faciais são importantes nas relações de apego, fornecendo pistas emocionais para cuidadores (1).
  2. Compreensão: Discernimento do próprio estado emocional e o dos outros, e uso apropriado do vocabulário das emoções (1). Essencial para a construção de um significado para as emoções, compartilhado social e culturalmente (1).
  3. Regulação: Capacidade de lidar com situações emocionais adversas e usar estratégias adequadas para se autorregular (1). Considerada uma competência emocional essencial para o desenvolvimento saudável e bem-estar psicológico, a regulação emocional é um processo gradual, que se dá ao longo da vida (1). Na infância, transita de uma regulação externa (auxiliada por um adulto) para uma regulação interna/autorregulação (1).

Desenvolvimento, Estratégias e Importância da Regulação Emocional

A habilidade de regulação emocional desenvolve-se com a experiência individual e o contexto de interação (1). As características desse processo incluem a variação de processos automáticos/inconscientes a controlados/conscientes, efeitos em processos geradores da emoção, natureza intrínseca ou extrínseca, e foco nas valências emocionais (1).

Existem diversas estratégias de regulação, sem que haja necessariamente “boas” ou “más” (1). Os sistemas de autorregulação envolvem atenção, autoestima e recursos cognitivos (inteligência, enfrentamento, autocontrole), influenciados por pessoas e contexto (1). Assim, o indivíduo se autorregula e monitora suas ações com uma rede de fatores mediados socialmente e pela família, baseados em necessidades, objetivos e desejos (1).

Crianças são capazes de autorregular suas emoções com certa autonomia (1). Bebês de seis meses já reduzem a excitação emocional desviando a atenção ou fechando os olhos para se acalmar (autoconforto) (1). Outra estratégia inicial é a autodistração, que consiste no desvio do olhar de estímulos intensos (1). Por volta do primeiro ano, os pais influenciam a regulação emocional ao nomear e lidar com as expressões dos bebês (1). A autodistração continua sendo eficaz aos dois anos (1).

Entre três e cinco anos, as crianças demonstram maior competência, internalizando regras, manejando experiências emocionais e reconhecendo pistas de emoções nos outros (1). Ao longo da infância, as emoções se aprimoram, e as crianças se tornam mais hábeis em:

  • Consciência da experiência emocional.
  • Discernimento do estado emocional próprio e alheio.
  • Uso do vocabulário das emoções.
  • Compreensão das emoções alheias.
  • Regulação de emoções angustiantes e estressantes.
  • Compreensão da diferenciação entre estado emocional interno e externo.
  • Consciência da relação social definida pela comunicação das emoções.

Essas aquisições dependem da experiência individual e do desenvolvimento da criança, ocorrendo gradualmente conforme o contexto sociocultural e as interações sociais (1). A regulação emocional é uma ferramenta que organiza processos atencionais, facilita estratégias, empodera ações, auxilia na superação de obstáculos e mantém o bem-estar (1). Não é a valência da emoção, mas os processos complexos de sua relação com fatores cognitivos e comportamentais que levam aos resultados do desenvolvimento (1).

Há diferenças individuais na reatividade emocional, que podem influenciar a relação com cuidadores (1). Compreender e regular as emoções reduz a probabilidade de comportamento agressivo e diminui o risco de psicopatologias (1). Reações parentais não suportivas (punição, desmerecimento) empobrecem a regulação emocional e aumentam a labilidade, enquanto estratégias parentais acolhedoras favorecem o bem-estar psicológico e o desenvolvimento adequado da regulação emocional (1). A dinâmica da socialização emocional é bidirecional, com a criança influenciando as reações dos adultos (1).

Estratégias de Regulação Emocional e Reação dos Pais

Estratégia de Regulação EmocionalReação dos PaisComo Pode Ocorrer?
Reavaliação CognitivaOs pais se envolvem na reação emocional da criança.Os pais ajudam a criança a avaliar e reinterpretar situações emocionais de forma diferente da experimentada, indicando propósitos ou perspectivas distintas diante do episódio.
Redirecionamento AtencionalOs pais se envolvem na reação emocional da criança.Os pais podem apresentar um objeto ou brinquedo, conversar ou contar uma história que interesse à criança, ou fazê-la lembrar de um evento marcante para desviar o foco da emoção.
Conforto FísicoOs pais se envolvem na reação emocional da criança.Pegar no colo, verbalizar frases como “está tudo bem”, fazer carinho/afago, ou ter comportamentos que denotem calma e suporte, como dar as mãos e abraçar.
Supressão EmocionalOs pais não se envolvem na reação emocional da criança.Os pais podem não se engajar, desvalorizar, inibir ou até mesmo menosprezar a situação emocional da criança. Essa reação parental influencia as respostas emocionais futuras exibidas pelas crianças. (1)

A influência da interação social e do contexto é crucial, pois as reações dos adultos direcionam as respostas emocionais das crianças (1). As crianças participam ativamente da socialização, influenciando também as reações emocionais dos adultos (1).


Emoção vs. Sentimento

Os sentimentos são a experiência mental do que está ocorrendo no corpo após uma emoção, embora essa transição seja muito rápida (milissegundos) (1). Enquanto as emoções são visíveis no corpo, os sentimentos não são, permitindo que sejam disfarçados (1).

Damásio (2003) pontua que o sentimento refere-se à percepção de um estado corporal somado à assimilação de um modo de pensar ou avaliar uma situação (1). A manifestação do sentimento no cérebro parece levar à elaboração do pensamento (1). Para Piaget (1994), os sentimentos impulsionam a ação (1).

O sentimento é uma consequência mais duradoura da emoção (1). É experimentado e avaliado por funções executivas como pensamento e memória, sendo influenciado pelo humor e contexto vivencial (1). Diferentemente das emoções, os sentimentos são vivenciados de forma mais privada (1).

Abordagens psicopedagógicas consideram a afetividade (sentimentos e emoções) relevante para uma aprendizagem significativa (1). A psicologia positiva, que ganha destaque, considera a expressão de sentimentos e emoções essencial para as vivências relacionais (1).

Todos os aspectos do ser humano, funcionais ou não, são relevantes para compreender a saúde, adaptação ao meio, reações a episódios emocionais e relações sociais (1). A psicologia positiva foca em amplificar as forças humanas, não apenas corrigir fraquezas (1).

Em resumo, emoções, desde a infância, sejam básicas, morais ou sociais, dão origem aos sentimentos, que são aprendidos gradualmente (1). É essencial que o indivíduo aprimore as competências e habilidades nessa área ao longo do desenvolvimento (1).

Distinção entre Emoção e Sentimento (Paul Ekman, 2011)

Para Paul Ekman (2011), uma emoção é definida por:

  1. Um sinal característico e observável.
  2. Acionamento automático, em menos de 0,25 segundos.
  3. Um reduzido nível de consciência. Essa ausência de consciência é crucial, pois nem sempre é possível deliberar sobre a percepção (1).
  4. Caráter fugaz, desaparecendo tão rapidamente quanto surge, geralmente não durando mais que alguns segundos/minutos (1).

No entanto, a objetividade da sinalização da emoção ainda é debatida, pois a percepção da expressão facial pode variar entre observadores e emissores (1).

  • Emoção: Explícita, com importantes variações na atividade muscular que sinalizam o estado emocional ao outro (1).
  • Sentimento: Subjetivo, uma interpretação das mudanças corporais geradas pelas emoções (1).

Segundo o neurocientista António Damásio (2004), os sentimentos originam-se na interpretação de um estado corporal afetado pelas emoções, o que induz a comportamentos variados (1).

Emoções Básicas e Culturais

O modelo de Paul Ekman propõe sete emoções básicas (alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa, nojo, desprezo), inatas e reconhecidas universalmente (1). Outros autores sugerem a existência de mais de 20 emoções básicas (1). Além dessas, há emoções dependentes da cultura, que não são expressas nem compreendidas universalmente (1).

Medo como Emoção Básica

O medo é uma emoção básica reconhecida pela maioria dos autores, universalmente expressa e interpretada (1). Mesmo pessoas cegas de nascença manifestam expressões de medo semelhantes diante de ameaças (1).

Sinais físicos do medo incluem: pálpebras abertas ao máximo (especialmente a superior) e contração da pálpebra inferior, revelando a esclera em três pontos (esquerda, direita e superior). Quanto mais esclera visível, maior a percepção de medo e maior a ativação da amígdala cerebral (contaminação emocional) (1). Outras características faciais são: maxilar levemente aberto com contração horizontal da boca para trás, e narina dilatada ao máximo (1). Essa expressão física do medo potencializa a percepção visual e olfativa (1).

O medo é uma das emoções mais facilmente “contaminantes”: ao perceber alguém amedrontado, tendemos a compartilhar essa resposta, pois a ameaça percebida pode ser relevante para nós (1). A incerteza é a principal raiz do medo (1).

A Síndrome de Klüver-Bucy, causada pela extração cirúrgica dos lobos temporais, resulta em entorpecimento emocional (principalmente do medo), aumentando o risco de acidentes e eventos negativos, e abreviando significativamente a expectativa de vida do paciente (1).

Medo vs. Ansiedade

  • Ansiedade: Emoção que surge de uma ameaça ambígua ou incerta, que pode ser prevenida, e que persiste mesmo após a resolução da situação (1). É uma resposta emocional a uma ameaça potencial do futuro, frequentemente pouco definida (1).
    • Ansiedade de estado: Sentida em situações específicas (ex: antes de uma apresentação) (1).
    • Ansiedade de traço: Tendência a se sentir ansioso em muitas situações, quase um traço de personalidade (1).
  • Medo: Engatilhado por uma ameaça específica, iminente e inevitável, tendendo a desaparecer após a resolução do conflito (1). É uma resposta emocional a uma ameaça específica do presente (1).

Raiva e Agressividade

A raiva é uma emoção básica com um padrão característico de expressão facial (1). Diferente do medo, o olhar da raiva é fixo, sinalizando desaprovação ou desejo de causar dano a um alvo específico (1). As sobrancelhas se abaixam e se unem, formando um “V” (1). A boca pode estar semiaberta, revelando os dentes, ou fechada com lábios retesados lateralmente (1). Inclinar a cabeça para frente em 30º pode potencializar a truculência (1).

Estratégias de manejo da raiva, como respiração e afastamento da situação, são eficazes (1). O xingamento, embora contraintuitivo, pode aliviar a raiva e impedir sua escalada para níveis mais elevados, além de ter um efeito analgésico (1). Embora a violência física seja frequentemente precedida por agressão verbal, nem todo xingamento evolui para combate físico (1).

Agressividade

Segundo a APA, a agressividade é uma tendência à dominância social, a comportamentos ameaçadores ou hostilidade, podendo ser uma resposta a um evento ambiental ou um traço pessoal (1). A capacidade de agir agressivamente está presente em todos, mas alguns têm maior tendência à hostilidade (1). O álcool, ao reduzir o controle inibitório das funções executivas, pode favorecer a conversão de ideias agressivas em comportamentos agressivos (1). Curiosamente, o gosto amargo na boca tende a nutrir crenças mais hostis em relação aos outros (1).

Video Games e Agressividade

Não há consenso sobre a relação entre video games e agressividade (1). Alguns experimentos e meta-análises indicam que a exposição a conteúdo violento em video games não leva a comportamentos violentos reais (1). Outros estudos e meta-análises, contudo, sugerem que jogos podem influenciar o comportamento humano, tornando-o mais agressivo (1).

Relação entre Emoção e Memória

A emoção influencia poderosamente o aprendizado e a memória (1). A amígdala, juntamente com o córtex pré-frontal e o lobo temporal medial, está envolvida na consolidação e recuperação de memórias emocionais (1). Amígdala, córtex pré-frontal e hipocampo também participam da aquisição, extinção e recuperação de medos associados a pistas e contextos (1). O hipocampo é crucial para o armazenamento de memória declarativa de longo prazo (1).

  • Sistema de memória do lobo temporal medial: Inclui o hipocampo e o córtex adjacente (regiões parahipocampais, entorrinal e perirrinal), envolvido no armazenamento de novas memórias (1).
  • Sistema de memória diencefálica: Circuito composto por hipotálamo, corpo mamilar e núcleo dorsomedial do tálamo (1). Importante para o armazenamento da memória recente; sua disfunção resulta na Síndrome de Korsakoff (1).

Inteligência Emocional

Baseando-se em Gardner, Daniel Goleman popularizou o conceito de inteligência emocional na década de 1990 (1). Ele a definiu como a capacidade de monitorar as emoções e sentimentos próprios e alheios, usando essa informação para guiar pensamentos e ações (1).

Por exemplo, crianças que frequentam a escola desde cedo precisam aprender a se relacionar com seus pares, processar mudanças de excitação emocional e compreender informações para lidar com elas (1). A habilidade de avaliar as emoções de outras pessoas a partir de pistas situacionais também é um ponto de debate e desenvolvimento (1). Tanto crianças quanto adultos necessitam desenvolver habilidades para lidar com suas próprias emoções e as dos outros (1).


Referências Bibliográficas

  1. BRANDÃO, M. L. Psicofisiologia. 4. ed., v. 1. Atheneu, 2019.