Vaccinium macrocarpum (Cranberry): Prevenção de Infecções Urinárias e Outros Benefícios


Vaccinium macrocarpum (Cranberry): Prevenção de Infecções Urinárias e Outros Benefícios


Introdução

O Vaccinium macrocarpum, popularmente conhecido como cranberry ou oxicoco, é uma fruta reconhecida por suas propriedades benéficas à saúde, especialmente na prevenção de infecções do trato urinário.


Nomenclatura e Morfologia

As espécies Vaccinium macrocarpum, V. oxycoccos e Oblongifolium são comumente referidas como cranberry ou oxicoco. Para fins terapêuticos, os frutos são a parte da planta utilizada.


Compostos Bioativos

Os frutos de cranberry são ricos em uma variedade de compostos bioativos, incluindo (5):

  • Ácidos orgânicos: Cítrico, málico, quínico.
  • Compostos Fenólicos: Ácido benzoico, p-cumárico, sinápico, cafeico, ferúlico, elágico.
  • Flavonoides: Quercetina, miricetina, epicatequina.
  • Antocianidinas: Proantocianidinas (PACs), cianidinas e peonidinas.

Principais Indicações e Evidências Terapêuticas

A principal indicação clínica do cranberry é a prevenção de infecções urinárias recorrentes (1, 2, 3, 5).

Infecção Urinária

Um estudo demonstrou que a suplementação de uma cápsula de 200 mg de extrato seco de cranberry, padronizado em 30% de fenóis, duas vezes ao dia, por 12 semanas, foi eficaz na prevenção de infecções do trato urinário (ITUs) em mulheres com infecções recorrentes (1). O mecanismo de ação do cranberry envolve a influência das proantocianidinas (PACs), que interferem na adesão de bactérias, como a E. coli, às células epiteliais do trato urinário (2, 5). Foi observado que essa atividade inibitória do cranberry atinge seu pico 4-6 horas após o consumo do suco, diminuindo posteriormente (2). É crucial ressaltar que a ação do cranberry se deve à bioatividade exclusiva da proantocianidina A, em contraste com a proantocianidina B, que não possui boa biodisponibilidade na urina (2).

Um estudo comparou o uso do cranberry com o antibiótico trimetoprim (100 mg). Foram utilizados 500 mg de extrato seco de cranberry, uma vez ao dia, ao deitar, por 6 meses. Embora o antibiótico tenha apresentado uma pequena vantagem no efeito, também exibiu mais efeitos colaterais (3). O autor desse estudo sugere que os pacientes discutam com seus médicos a melhor terapia, considerando que o produto natural tende a ser mais econômico e não apresenta o risco de superinfecção por bactérias resistentes (3).

Absorção de Vitamina B12

Foi observado que pacientes idosos que utilizam omeprazol, concomitantemente com o suco de cranberry, apresentaram uma melhor absorção da vitamina B12, diferentemente daqueles que utilizam apenas omeprazol e, sabidamente, têm a absorção prejudicada (5).


Posologia

As recomendações posológicas para o cranberry são diversas, dependendo da forma de apresentação (5):

  • Extrato seco padronizado em 25% antocianidinas: 50-160 mg/dia.
  • Frutos frescos: 30 g/dia.
  • Extrato seco padronizado: 500-1000 mg/dia.
  • Para infecções recorrentes: 400-1200 mg/dia, ou 950 mL de suco, ou 30 g de frutos/dia, por pelo menos 4 semanas.
  • Extrato seco solúvel: Dissolver 6 g (1 colher de sobremesa) em 200 mL de água.

Produtos Disponíveis no Mercado

No mercado, estão disponíveis:

  • Extrato seco padronizado a 25% de proantocianidinas.
  • Extrato seco solúvel.

Segurança e Contraindicações

O uso do cranberry geralmente é considerado seguro, inclusive durante a lactação e gestação (4). No entanto, algumas precauções são necessárias:

  • Existe uma hipersensibilidade cruzada com salicilatos (medicamentos com ácido salicílico), com potencial elevação das concentrações de salicilato no organismo.
  • Há possibilidade de interferência em terapias com anticoagulantes, especificamente com risco de sangramento quando usado em conjunto com a varfarina.

Referências Bibliográficas

  1. BAILEY, D. T. et al. Can a concentrated cranberry extract prevent recurrent urinary tract infections in women? A pilot study. Phytomedicine, [s. l.], v. 14, n. 4, p. 237–241, abr. 2007. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0944711307000086. Acesso em: 26 jun. 2025.
  2. HOWELL, A. B. et al. A-type cranberry proanthocyanidins and uropathogenic bacterial anti-adhesion activity. Phytochemistry, [s. l.], v. 66, n. 18, p. 2281–2291, set. 2005. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0031942205002499. Acesso em: 26 jun. 2025.
  3. MCMURDO, M. E. T. et al. Cranberry or trimethoprim for the prevention of recurrent urinary tract infections? A randomized controlled trial in older women. Journal of Antimicrobial Chemotherapy, [s. l.], v. 63, n. 2, p. 389–395, 19 nov. 2008. Disponível em: https://academic.oup.com/jac/article-lookup/doi/10.1093/jac/dkn489. Acesso em: 26 jun. 2025.
  4. SEELY, D. et al. Safety and efficacy of Panax ginseng during pregnancy and lactation. Canadian Journal of Clinical Pharmacology, [s. l.], v. 15, n. 1, p. 80–86, 2008.
  5. SAAD, G. A. et al. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na Prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.

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