Hormônio do Crescimento (GH): Fisiologia, Efeitos Metabólicos e Implicações Clínicas


Hormônio do Crescimento (GH): Fisiologia, Efeitos Metabólicos e Implicações Clínicas


Introdução

O Hormônio do Crescimento (GH), também conhecido como Hormônio Somatotrópico ou Somatotropina, é uma proteína essencial que exerce influência generalizada em quase todos os tecidos do organismo. Além de seu papel primordial no crescimento esquelético, o GH modula o metabolismo de macronutrientes e apresenta implicações significativas em diversas condições clínicas, desde o envelhecimento até distúrbios endócrinos específicos e o desempenho esportivo.


Fisiologia e Efeitos no Organismo

O GH atua em praticamente todos os tecidos do organismo, sem um tecido-alvo específico (1). Sua principal função é promover o aumento de tamanho das células e a elevação do número de mitoses, causando a multiplicação e diferenciação específica de alguns tipos celulares, como as células de crescimento ósseo e as células musculares iniciais (1).

Crescimento Ósseo

O efeito mais evidente do GH é o aumento do crescimento esquelético (1). Isso ocorre através de múltiplos mecanismos:

  • Aumento da deposição de proteínas pelas células osteogênicas e condrocíticas, o que gera crescimento ósseo (1, 2).
  • Aumento da reprodução dessas células (1).
  • Efeito específico de conversão de condrócitos em células osteogênicas, ocasionando a deposição de osso novo (1).

O GH também induz o fígado a formar diversas proteínas, denominadas somatomedinas (ou IGFs – Fatores de Crescimento Semelhantes à Insulina), que aumentam todos os aspectos do crescimento ósseo (1). A mais importante delas é a somatomedina C (IGF-1) (1). É importante notar que, após a união das epífises ósseas, o crescimento adicional dos ossos não é mais possível, embora outros tecidos continuem a crescer ao longo da vida (1).

Efeitos Metabólicos

O GH apresenta diversos efeitos metabólicos complexos (1):

  • Aumento da síntese de proteínas na maioria das células do corpo (1). O GH eleva quase todos os aspectos da captação de aminoácidos e da síntese proteica pelas células, ao mesmo tempo em que reduz a destruição das proteínas (1). A capacidade da insulina de aumentar o transporte de alguns aminoácidos para as células é particularmente importante, assim como ela estimula o transporte de glicose (1).
  • Aumento da mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, elevando seus níveis nos líquidos orgânicos (1, 2). Essa mobilização exagerada pode, em muitos casos, provocar o acúmulo de gordura no fígado (1).
  • Aumento da utilização dos ácidos graxos como fonte de energia, o que reduz a degradação de glicose e de aminoácidos (1, 2).
  • Redução da captação de glicose pelos tecidos, como o músculo esquelético e adiposo (1).
  • Aumento da produção de glicose pelo fígado (1).
  • Aumento da secreção de insulina (1).
  • Indução de resistência à insulina, também conhecida como efeito diabetogênico (1). Isso se deve, em parte, ao aumento sérico de ácidos graxos, que diminuem a eficiência da ação da insulina (1).

Em resumo, o GH aumenta a quantidade de proteínas no corpo, utiliza as reservas de gordura e conserva os carboidratos (1).


Produção Natural e Envelhecimento

A secreção do hormônio do crescimento diminui com a idade, chegando a apenas 25% dos níveis de jovens em idades avançadas (1).

  • Crianças e adolescentes: aproximadamente 6 ng/ml (1).
  • Adultos 20-40 anos: aproximadamente 3 ng/ml (1).
  • Idosos > 40 anos: aproximadamente 1,6 ng/ml (1).

A secreção reduzida de GH é responsável por parte da diminuição da massa magra e pelo aumento da massa gorda que acompanham o envelhecimento (2). A suplementação de GH em idosos não demonstrou reverter os efeitos negativos do envelhecimento sobre medidas funcionais de força muscular e capacidade aeróbica (2). Além disso, homens que receberam o suplemento frequentemente apresentaram rigidez das mãos, mal-estar, artralgias e edema dos membros inferiores (2). Um estudo que acompanhou participantes dos 75 aos 90 anos com uso de GH por seis meses encontrou sérios efeitos colaterais, que afetavam entre 24% e 46% dos indivíduos. Esses efeitos incluíam pés e tornozelos edemaciados, dor articular, síndrome do túnel do carpo (tumefação da bainha tendínea que comprime o nervo no punho) e o surgimento de uma condição diabética ou pré-diabética (2).

Fatores que Estimulam e Inibem a Secreção de GH

Fatores que Estimulam a SecreçãoFatores que Inibem a Secreção
Diminuição da glicose sanguíneaGlicose sérica aumentada
Diminuição dos ácidos graxos livres no sangueAumento dos ácidos graxos livres no sangue
Aumento dos aminoácidos no sangue (arginina)Envelhecimento
Privação ou jejum, deficiência de proteínasObesidade
Traumatismo, estresse, excitaçãoHormônio inibidor do hormônio do crescimento (somatostatina)
ExercíciosHormônio do crescimento exógeno
Testosterona, estrogênioSomatomedinas (IGF)
Sono profundo (estágio II e IV)
Hormônio liberador do hormônio do crescimento, grelina

(1)


Distúrbios da Produção de GH

  • Produção excessiva de GH durante o crescimento esquelético causa o gigantismo, um distúrbio endócrino metabólico caracterizado pelo tamanho anormal ou crescimento excessivo de todo o corpo, ou de qualquer uma de suas partes (2).
  • Produção hormonal excessiva após a parada do crescimento (fechamento das epífises) resulta na acromegalia, que se manifesta por aumento das mãos, dos pés e das estruturas faciais (2).

GH e Exercício Físico

Poucos estudos bem controlados examinaram a maneira como os suplementos de GH afetam indivíduos sadios que realizam treinamento físico (2). O que se sabe até hoje é que as alegações de que o hormônio do crescimento aprimora o desempenho esportivo não são apoiadas pela literatura científica (2).

A evidência limitada disponível sugere que o GH pode causar um aumento da massa magra, mas pode não aprimorar a força; além disso, pode deteriorar a capacidade de exercitar-se e aumentar a ocorrência de eventos adversos (2). Crianças atletas que utilizam GH apresentam um maior risco de incidência de gigantismo, enquanto adultos correm maior risco de desenvolver a síndrome acromegálica (2). Outros efeitos colaterais menos óbvios incluem resistência à insulina, resultando em diabetes mellitus tipo 2, retenção hídrica e a síndrome de compressão do túnel do carpo, esta última causada pela indução do crescimento ósseo (2).


Referências Bibliográficas

  1. HALL, J. E.; GUYTON, A. C. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p.
  2. MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício – Nutrição, Energia e Desempenho Humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 1059 p.

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