A Personalidade Humana: Uma Construção Multidimensional e Dinâmica


A Personalidade Humana: Uma Construção Multidimensional e Dinâmica


Introdução

A personalidade é um construto psicológico complexo que se refere ao modo como agimos, influenciando diretamente nossas experiências e as das pessoas ao nosso redor. Ela é definida como um conjunto de características que distinguem um indivíduo, abrangendo aspectos físicos, mentais, emocionais e sociais. A essência da personalidade reside no que nos torna únicos, refletindo nossas preferências, medos, virtudes, forças e fraquezas.


Conceitos Fundamentais da Personalidade

A personalidade pode ser compreendida sob três definições principais (1):

  1. O estado de ser de uma pessoa.
  2. As características e qualidades que formam o caráter distintivo de uma pessoa.
  3. A soma de todas as características físicas, mentais, emocionais e sociais de uma pessoa.

Em essência, personalidade é tudo o que define “quem você é” (1). A palavra “eu” encapsula essa totalidade de gostos, desgostos, medos, virtudes, pontos fortes e fracos, diferenciando cada indivíduo dos demais (1).

Na psicologia, traços de personalidade são consistentemente definidos como padrões relativamente duradouros de pensamentos, sentimentos e comportamentos que distinguem os indivíduos uns dos outros (1). Essas diferenças individuais se relacionam aos traços de personalidade e influenciam a consistência do comportamento ao longo do tempo. Embora os padrões sejam individuais e exibam propensão à estabilidade, podem mudar devido a traumas, uso de substâncias ou engajamento em novos comportamentos. Cada pessoa possui uma organização única de traços, resultando em uma personalidade singular.


Determinantes da Personalidade

A formação da personalidade é influenciada por uma complexa interação de fatores:

  • Fatores Genéticos: Acredita-se que aspectos genéticos, como temperamento e inteligência, contribuem para as principais diferenças individuais (1). O conceito de herdabilidade é uma medida estatística (em percentual) que indica a extensão da contribuição genética para as variações interpessoais em uma população. Características como a inteligência mostram maior influência genética, enquanto crenças e valores são menos expressivamente determinados por genes (1).
  • Fatores Ambientais: Abrangem influências que nos tornam semelhantes em certos aspectos, como família, cultura e grupos sociais (1). Poucos aspectos da personalidade podem ser compreendidos sem referência ao grupo de pertencimento do indivíduo. A experiência de cada pessoa com a realidade e suas interações são moldadas por sua história genética, processo de aprendizagem, aptidões e limitações herdadas, trocas sociais ao longo da vida, valores culturais e outras experiências (1).

Estabilidade da Personalidade

A personalidade é comumente definida pela ordem de classificação e consistência, indicando que a posição de um indivíduo em um traço de personalidade tende a permanecer estável em diferentes situações (1). Essa estabilidade permite reconhecer a essência de uma pessoa ao longo do tempo. Embora a personalidade não seja rígida ou imutável e possa variar conforme a situação, ela geralmente demonstra resistência a mudanças repentinas (1).


Pontos Importantes sobre a Personalidade

Alguns aspectos cruciais sobre a personalidade incluem (1):

  • Refere-se a diferenças em características psicológicas, e não em diferenças físicas ou biológicas (ex: TPM não é um traço de personalidade).
  • Descreve como as pessoas normalmente são, e não suas capacidades em momentos de pico.
  • Não considera estados temporários como fome, excitação ou humor como traços de personalidade.

Histórico da Psicologia da Personalidade

O campo da psicologia da personalidade foi oficialmente inaugurado por Gordon Allport em 1937 (1). Contudo, diversos teóricos anteriores já exploravam o tema, influenciando uns aos outros. Allport definiu a personalidade como “uma organização ativa dos sistemas psicofísicos que determinam os modos de pensar, agir e sentir, isto é, a individualidade social e pessoal de uma pessoa” (1). Dentro da psicologia, existem várias abordagens para o estudo da personalidade, incluindo a psicanalítica, humanista, comportamental, entre outras.


Conceitos Relacionados à Personalidade

Self

O Self pode ser entendido como a essência e a individualidade de uma pessoa, sua subjetividade.

  • Psicanálise: Para a psicanálise, o self é uma construção do ego, frequentemente referido como “representação de si” e não como uma entidade isolada. Compõe, junto com o ego, id e superego, a personalidade em geral (1).
  • Donald Winnicott: Conceitua o self como o “eu” em sua totalidade, baseado no processo de maturação. Ele também sugere que o self é formado por partes que se unem de uma direção interior, facilitado pelo ambiente (1).
  • Heinz Kohut: Descreve o self como um conjunto de representações narcísicas, onde o psicanalista pode atuar como um “reflexo” do self grandioso, que, em sua forma patológica, distorce a autoimagem do indivíduo (1).
  • Carl Jung: Para Jung, o self é um dos arquétipos que representa a união entre o consciente e o inconsciente, formando a mente como um todo. É o produto da individualização, o processo de integração da personalidade. O self é o ponto central da personalidade total, que inclui a consciência, o inconsciente e o ego. Jung postula um senso original de si mesmo desde o nascimento, com o ego se cristalizando a partir do sentimento de singularidade. Após a diferenciação do ego, a redescoberta do eu consciente é um novo processo, também chamado de individualização (1).
  • Marie-Louise von Franz: Considerava o self como o maior poder da mente, mas alertava que ele pode ser perigoso se levar à criação de fantasias ilusórias, desconectando a pessoa da realidade (1).

É comum que os processos de individualização ou de self se iniciem após um “ferimento na personalidade”, um impasse que leva o ego a buscar ajuda para reorganizar a personalidade (1).

Identidade

Na psicologia, identidade é o conjunto de atributos próprios que diferenciam indivíduos, animais, objetos e plantas.

  • Antropologia: A identidade é vista como uma soma de signos em constante construção, sempre ligada à alteridade (a necessidade do “outro” para se definir por diferença e comparação) (1).
  • Sociologia: A identidade é compreendida como o compartilhamento de ideias e ideais dentro de um grupo, com a noção de que os indivíduos constroem sua personalidade, mas também a recebem do meio social (1).
  • Direito: A identidade é o conjunto de características que tornam o indivíduo particular e individualizado, conferindo-lhe direitos e deveres (1).

Em síntese, a identidade é o conjunto total de características (físicas, psicológicas, culturais, etc.) que nos tornam únicos (1). Não existe uma identidade “sublime” ou “perfeita”, mas sim uma identidade mais ou menos adaptada ao ambiente. Não encontraremos identidades idênticas, embora possamos compartilhar semelhanças físicas, de personalidade ou culturais. A personalidade é um dos elementos que compõem a identidade (1).

Ego

O Ego é a faceta que nutre emoções e pensamentos de interesse próprio, baseados em estímulos sensoriais que moldam nossas opiniões e direcionam nossas ações, inclusive quando estas se opõem aos nossos instintos ou impulsos morais (1).

O termo “ego” originou-se na psicanálise e é, por vezes, considerado a “personalidade” de uma pessoa, relacionando-se ao caráter e à forma de pensar e agir. O ego é uma característica psíquica que integra as experiências, formando opiniões e orientando escolhas (1). O ego pode levar a padrões e hábitos que nos aprisionam em resultados similares, sejam eles favoráveis ou desfavoráveis. Compreender o ego é crucial para transcender a dependência exclusiva de instintos ou do passado (1).

Autoconceito

O autoconceito é a compreensão que temos de nós mesmos, sendo a base da teoria da personalidade de Carl Rogers (1). Segundo Rogers, as pessoas buscam convergência, consistência e equilíbrio, e o “eu” representa nossa personalidade interior. O autoconceito inclui:

  • Autoestima: A forma como a pessoa avalia e valoriza suas características.
  • Autoimagem: Como as pessoas se veem e se descrevem, influenciando seus pensamentos, sentimentos e ações.
  • Eu Ideal: As ambições em relação às próprias características, ações e valores (o que gostaríamos de ser). Quanto mais próxima a autoimagem do “eu ideal”, maior a coerência. Distorções na autoimagem podem gerar ansiedade e angústia.

As pessoas tendem a se comportar de acordo com sua autoimagem, refletindo no “eu ideal” (1). Em resumo, o autoconceito é o conhecimento pessoal sobre quem somos, abrangendo pensamentos e emoções sobre nós mesmos em níveis físico, pessoal e social. Inclui nossa compreensão de como agimos, nossas competências e características. Desenvolve-se mais rapidamente na primeira infância e adolescência, mas continua a se transformar ao longo da vida (1).

Temperamento

Para a psicologia, o temperamento é um aspecto único da personalidade, referindo-se às peculiaridades da forma como agimos, particularmente relacionadas aos três “As” da personalidade (1):

  • Afetividade
  • Atenção
  • Atividade

A conceituação de temperamento é complexa e frequentemente confundida com traços de personalidade. Alguns autores o definem com base em disposições que levam a experienciar emoções ou humores de forma frequente ou intensa (1).


Influências na Personalidade

Fatores Genéticos

Há crescentes evidências de que muitos traços ou dimensões da personalidade são herdados geneticamente, incluindo (1):

  • As dimensões de Eysenck (psicoticismo, neuroticismo e extroversão).
  • O Modelo dos Cinco Fatores (neuroticismo, extroversão, abertura à experiência, socialização e conscienciosidade).
  • Os três temperamentos de Buss e Plomin (Emotividade, Atividade e Sociabilidade).
  • O traço de busca de sensações proposto por Zuckerman.

No entanto, o que herdamos são disposições, não destinos; tendências, não certezas (1). A manifestação dessas predisposições genéticas dependerá das condições sociais e ambientais, especialmente na infância (1).

Fatores Ambientais

Pesquisas indicam que os efeitos genéticos são mais proeminentes na infância, enquanto os efeitos ambientais sobre a personalidade se tornam cada vez mais importantes com o avanço da idade adulta (1). Muitos teóricos da personalidade reconhecem a relevância do ambiente social (1).

  • Alfred Adler sugeriu que diferentes ambientes domésticos resultam em personalidades distintas (1).
  • Karen Horney acreditava que a cultura de origem influencia a personalidade e destacou as diferentes exposições sociais de meninos e meninas na infância, analisando a inferioridade feminina desenvolvida a partir do tratamento cultural em uma sociedade dominada por homens (1).
  • Allport observou que, embora a genética forneça a “matéria-prima”, o ambiente social “forja” a personalidade em seu produto final (1).
  • Raymond Cattell reconheceu que a hereditariedade é mais influente em alguns de seus 16 fatores de personalidade, mas que fatores ambientais, em última análise, influenciam todos eles (1).
  • Erik Erikson, apesar de seus oito estágios de desenvolvimento psicossocial serem inatos, considerava que o ambiente determina como esses estágios de base genética se desenvolvem (1).
  • Abraham Maslow e Carl Rogers sustentavam que a autorrealização é inata, mas reconheciam que fatores ambientais podem inibir ou estimular essa necessidade (1).

Eventos sociais de grande escala, como guerras e recessões econômicas, podem restringir escolhas de vida e influenciar a formação da identidade (1). Até mesmo a época de nascimento e criação pode moldar a personalidade (1). Padrões sociais, atitudes, preferências e a natureza das ameaças externas variam entre gerações, exercendo influência substancial na personalidade (1).

O ambiente de trabalho também pode afetar a personalidade. Um estudo que avaliou a personalidade aos 18 e 26 anos mostrou que aqueles com trabalhos satisfatórios e de alto status aos 26 anos apresentaram aumento da emocionalidade positiva (bem-estar, proximidade social, realização) e diminuição da emocionalidade negativa (agressividade, alienação, estresse) em comparação aos 18 anos, sugerindo que a natureza do ambiente de trabalho tem potencial para moldar traços inatos (1).

O contexto étnico e o pertencimento a uma cultura majoritária ou minoritária também podem determinar a personalidade (1). Crianças criadas em bairros economicamente desfavorecidos são mais propensas a desenvolver tendências de personalidade desadaptativas, como baixa resiliência e problemas comportamentais, que podem levar a dificuldades sociais e emocionais na vida adulta (1).

Fator Aprendizagem

A aprendizagem desempenha um papel fundamental na influência de praticamente todos os aspectos do comportamento e dos objetivos de vida (1). Todas as forças sociais e ambientais que moldam a personalidade o fazem através de métodos de aprendizagem (1). Mesmo as facetas herdadas da personalidade podem ser modificadas, destruídas, inibidas ou fomentadas pelo processo de aprendizagem (1).

  • Burrhus Frederic Skinner demonstrou o valor do reforço positivo, aproximação sucessiva e comportamentos supersticiosos, descrevendo a personalidade como uma acumulação de respostas aprendidas (1).
  • Albert Bandura introduziu a ideia da aprendizagem por observação de modelos, concordando que a maioria dos comportamentos é aprendida, e a genética desempenha um papel limitado (1).

Pessoas com elevada autoeficácia, que acreditam ter controle sobre suas vidas e possuem um locus de controle interno, não são caracterizadas por desamparo aprendido (1). Nas palavras de Martin Seligman, aqueles que acreditam não ter controle são pessimistas, enquanto os otimistas acreditam no controle (1). O controle é benéfico em múltiplos aspectos: está relacionado a melhores mecanismos de enfrentamento, menores efeitos de estresse, melhor saúde mental e física, perseverança, aspirações e autoestima mais elevadas, menor ansiedade, melhores notas escolares, maiores habilidades sociais e maior popularidade (1). É determinado por fatores sociais e ambientais e é adquirido na primeira infância, embora possa mudar posteriormente (1).

Fator Parental

A rejeição parental pode levar à insegurança, raiva e deficiência na autoestima (1). Karen Horney, a partir de sua própria experiência, descreveu como a falta de afeto parental pode minar a segurança de uma criança e gerar sentimentos de desamparo (1).

Comportamentos parentais podem determinar ou enfraquecer aspectos específicos da personalidade, como autoeficácia, locus de controle, desamparo aprendido, otimismo e bem-estar subjetivo (1). Comportamentos paternos podem influenciar traços herdados, como a busca de sensações. Pais negligentes e punitivos podem obstruir o desenvolvimento de traços como extroversão, sociabilidade, socialização e abertura à experiência (1).

Pais com estilo autoritário (afetivos, porém firmes) tendem a ter filhos mais competentes e maduros do que pais permissivos, rígidos ou indiferentes (1). A educação autoritária está consistentemente associada a vantagens psicológicas e sociais na adolescência e na infância intermediária, como melhor adaptação, desempenho escolar e maturidade psicológica (1).

Um estudo mostrou que pais com altos níveis de extroversão, socialização, conscienciosidade e abertura à experiência se comportam de maneira mais afetuosa e coerente com os filhos (1). Pais com alta socialização e baixo neuroticismo são mais solidários com a independência dos filhos (1). A pesquisa também indica que os pais são importantes no ensino de virtudes como bondade, atenção e prestatividade (1). Elogios parentais podem promover autonomia, padrões realistas, competência e autoeficácia, além de elevar a motivação intrínseca (1).

No entanto, comportamentos parentais negativos têm efeitos prejudiciais (1). Um estudo revelou que a infância de adultos depressivos e ansiosos estava ligada à inadequação parental, com pais mais desaprovadores, abusivos e menos afetuosos (1). Mães com emoções negativas e rispidez tendiam a ter filhos com mais rebeldia, raiva, desobediência e outros problemas comportamentais (1). Mães hostis criavam crianças também hostis (1).

Fatores genéticos podem ser responsáveis por até 40% do comportamento dos pais, e o comportamento dos filhos também influencia o dos pais, indicando uma interação bidirecional (1). É importante notar que ser cuidado por outra pessoa que não a mãe não demonstrou impacto negativo nas variáveis estudadas (1).

Uma controvérsia surgiu na década de 1990, sugerindo que as atitudes e comportamentos dos pais não teriam efeitos de longo prazo na personalidade da criança fora de casa, com a influência dos amigos sendo considerada mais significativa (1).

Fator Desenvolvimento

Embora a infância seja crucial para a formação da personalidade, pesquisas indicam que a personalidade continua a se desenvolver ao longo da vida (1). Teóricos como Cattell, Allport e Erikson, apesar de reconhecerem a importância da infância, concordavam que a personalidade pode ser modificada em estágios posteriores (1).

Algumas pesquisas sugerem que a base de disposições permanentes da personalidade (como os traços do Modelo dos Cinco Fatores) permanece estável por muitos anos, especialmente a partir dos 30 anos (1). Estudos mostraram que neuroticismo, extroversão e abertura diminuem da faculdade à meia-idade, enquanto socialização e realização aumentam (1). Outras pesquisas indicam que dominância e independência atingem o pico na meia-idade, e a personalidade continua a evoluir após os 20 anos (1).

Uma meta-análise revelou alta consistência em traços de personalidade em todas as idades, com o nível máximo de consistência atingido após os 50 anos (1). Outro estudo longitudinal confirmou que fatores normais e anormais podem atingir um pico de estabilidade por volta dos 30 anos, permanecendo razoavelmente estáveis (1). Na Suíça, descobriu-se que pessoas com mais de 60 anos tendem a se tornar menos neuróticas e extrovertidas com o envelhecimento (1). Um estudo com gêmeos de 64 a 90 anos observou redução em extroversão, conscienciosidade e controle percebido, além de aumento nos níveis de neuroticismo com o avanço da idade (1). Esses estudos confirmam que a personalidade muda da adolescência para a idade adulta (1).

Na Holanda, um estudo com homens e mulheres entre 40 e 49 anos mostrou que a adaptação a papéis sociais (sucesso na carreira e vida familiar) estava associada a pontuações mais altas nas dimensões do Modelo dos Cinco Fatores (1). Isso sugere que mudanças na personalidade estão ligadas a adaptações bem-sucedidas em desafios da meia-idade (1).

A personalidade pode continuar a se desenvolver em três níveis (1):

  • Traços de Disposição: Características herdadas que permanecem estáveis e relativamente imutáveis a partir dos 30 anos.
  • Preocupações Pessoais: Sentimentos, planos e objetivos conscientes (o que se quer, como buscar, sentimentos sobre as pessoas).
  • Narrativa de Vida: Desenvolvimento do self, aquisição de identidade e busca de um propósito unificado.

Essa perspectiva sugere que os traços subjacentes da personalidade permanecem constantes, enquanto os julgamentos conscientes sobre quem somos e quem gostaríamos de ser estão sujeitos a mudanças (1).

Fator Consciência

Quase todas as teorias da personalidade abordam, explícita ou implicitamente, os processos conscientes (cognitivos) (1).

  • Alfred Adler descreveu os seres humanos como conscientes e racionais, capazes de planejar e direcionar a vida, formulando esperanças, planos e sonhos (1).
  • Gordon Allport acreditava que indivíduos não neuróticos agem de forma consciente e racional, com consciência e controle das forças motivadoras (1).
  • Carl Rogers via as pessoas como seres primordialmente racionais, guiados por sua percepção consciente de si e do mundo (1).
  • George Kelly propôs que construímos “constructos” sobre o ambiente e outras pessoas, fazendo predições baseadas neles e testando-os com a realidade (1).
  • Albert Bandura creditou às pessoas a capacidade de aprender por meio de exemplos e reforços indiretos, o que exige a capacidade de antecipar e avaliar as consequências das ações observadas (1).

Há um amplo consenso sobre a existência e influência da consciência na personalidade, mas menor concordância sobre o papel ou a existência do inconsciente (1).

Fator Inconsciente

Alguns psicólogos encontraram evidências que apoiam a noção de Sigmund Freud de que pensamentos e memórias são reprimidos no inconsciente, e que a repressão (e outros mecanismos de defesa) pode operar nesse nível (1).

Pesquisadores contemporâneos focam nos processos cognitivos inconscientes, descrevendo-os como mais racionais do que emocionais. Este “inconsciente racional” é frequentemente chamado de não consciente para diferenciá-lo do inconsciente freudiano, descrito como um repositório de vontades e desejos reprimidos (1). A conclusão é que as pessoas podem ser influenciadas por estímulos que não conseguem ver ou ouvir, e que estímulos subliminares podem ter valor terapêutico, mesmo sem consciência da mensagem (1).


Personalidade e Mídias Sociais

Somos a Mesma Pessoa Online?

Pesquisas sugerem que a maioria das pessoas é honesta sobre sua autoapresentação online (1). Contudo, um estudo na Alemanha revelou que muitos se apresentam online como mais emocionalmente estáveis do que realmente são (1). Estudos posteriores indicaram que pessoas introvertidas, neuróticas, solitárias e socialmente desajustadas acham mais fácil expressar sua verdadeira personalidade online do que pessoalmente (1). Pessoas com dificuldade de expressar seu “eu” verdadeiro são mais ativas no Facebook e outras redes sociais (1).

Outra pesquisa mostrou que mulheres enviam mais selfies que homens, e o uso excessivo dessas fotos pode tornar a pessoa menos agradável e até reduzir a intimidade com amigos, pois pode reforçar a ideia de que a aparência é mais importante que o comportamento nas relações reais (1).

Como as Redes Sociais Influenciam a Personalidade

O uso de redes sociais pode moldar e refletir a personalidade (1). Um estudo com jovens chineses (13-18 anos) descobriu que o tempo excessivo de uso da internet resultou em níveis significativos de ansiedade e depressão em comparação a adolescentes com menor tempo online (1). Estudos em diversos países (Sérvia, Países Baixos, Hong Kong, Coreia do Sul) demonstraram que o uso excessivo de redes sociais está associado a maior solidão, introversão e menor autoestima (1).

Como a Personalidade Influencia o Uso das Redes Sociais

Adolescentes mais narcisistas tendem a atualizar seus status no Facebook com maior frequência (1). Indivíduos que relatam alto uso de redes sociais tendem a ser mais extrovertidos, mais abertos a novas experiências, menos conscientes, com menor autoestima e socialização, além de serem menos estáveis emocionalmente (1).

Outro estudo com adolescentes e adultos na Austrália mostrou que indivíduos extrovertidos e/ou com um forte senso de autoidentidade dedicam mais tempo a configurações de celular, como toques e planos de fundo (1). Pesquisas também apontaram que pessoas mais velhas tendem a blogar para ajudar e informar, enquanto blogueiros mais jovens são motivados pelo tédio (1).


O Papel da Cultura na Formação da Personalidade

A influência de forças culturais na personalidade é amplamente reconhecida. A personalidade é formada por influências genéticas e ambientais, sendo as influências culturais as mais importantes entre as ambientais (1).

Individualismo

Em culturas individualistas, o foco está na liberdade, escolha e ação pessoal, enquanto em culturas coletivistas, o foco está nas normas, valores e expectativas do grupo (1). Culturas ocidentais são tipicamente individualistas, e as asiáticas, coletivistas.

Membros de culturas individualistas exibem maior extroversão, autoestima, felicidade (bem-estar subjetivo), otimismo em relação ao futuro e crença na capacidade de controlá-lo (1). Um grande estudo em 63 países, com mais de 400 milhões de pessoas, revelou uma forte e regular relação entre o traço de personalidade do individualismo e o bem-estar positivo (1). O grau de concentração e incentivo ao individualismo de uma cultura tem um efeito poderoso na personalidade dos cidadãos (1).

Autovalorização

A autovalorização é a tendência de se promover agressivamente e se tornar conspícuo (1). Seu oposto, a autoanulação, é mais relacionada aos valores culturais asiáticos (1). Estudos mostraram que a autovalorização é mais prevalente entre estudantes canadenses, enquanto a autocrítica é mais evidente entre estudantes japoneses (1).

Pessoas com alta autovalorização são geralmente classificadas por outros como emocionalmente estáveis, socialmente atraentes e influentes (1). Além disso, pessoas com elevada autoestima e autovalorização tendem a buscar parceiros que compartilhem suas características, ou seja, tão “bons” quanto eles mesmos se consideram (1).


Referências Bibliográficas

  1. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. Teorias da Personalidade. 4. ed. CENGAGE, 2021.