Hiperplasia Prostática Benigna (HPB): Fisiopatologia, Tratamento Médico e Abordagens Complementares


Hiperplasia Prostática Benigna (HPB): Fisiopatologia, Tratamento Médico e Abordagens Complementares


Introdução

A Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) é uma condição comum em homens mais velhos, caracterizada pelo crescimento não-maligno da glândula prostática, que pode levar a sintomas urinários incômodos. A compreensão de sua fisiopatologia, incluindo fatores de risco e mecanismos hormonais, é crucial para o desenvolvimento de estratégias de tratamento eficazes, que abrangem desde a farmacologia convencional até abordagens fitoterápicas e nutricionais complementares.


Fisiopatologia

A Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) é uma condição complexa influenciada por múltiplos fatores (1):

  • Genéticos: Há uma predisposição genética para o desenvolvimento da HPB.
  • Envelhecimento: Com o avanço da idade, observa-se um desequilíbrio entre fatores de crescimento e a morte celular programada (apoptose), contribuindo para o aumento do volume prostático.
  • Síndrome Metabólica: A HPB é considerada um componente da síndrome metabólica, sugerindo uma ligação entre o metabolismo e o crescimento prostático.
  • Alterações Hormonais: Valores aumentados de di-hidrotestosterona (DHT) são encontrados nos tecidos prostáticos. Nas células-alvo, a testosterona é convertida em DHT pela enzima 5-α-redutase. O DHT, então, se liga a receptores androgênicos e ativa a transcrição de genes essenciais para a caracterização masculina desde a vida uterina. Assim, fatores que inibem a 5-α-redutase são capazes de retardar ou até mesmo reduzir o crescimento excessivo da glândula prostática.
  • Inflamação: A inflamação crônica na próstata induz o crescimento fibromuscular prostático, exacerbando a HPB.

Conduta Clínica: Tratamento Médico

Farmacologia

Os inibidores da 5-α-redutase são a principal classe de fármacos utilizados no tratamento da HPB:

  • Finasterida
  • Dutasterida

Esses inibidores são capazes de:

  • Melhorar os sinais e sintomas urinários.
  • Aumentar o fluxo urinário.
  • Reduzir o volume prostático.
  • Prevenir sintomas como a retenção urinária aguda.
  • Prevenir a necessidade de intervenções cirúrgicas.

Abordagens Complementares e Terapia Nutricional

Diversas plantas medicinais e intervenções nutricionais têm sido investigadas por seu potencial no manejo da HPB.

Plantas Medicinais

  • Saw Palmetto (Serenoa repens):Uma revisão abrangendo 3000 homens sugere que o saw palmetto proporciona uma melhora leve a moderada nos sintomas urinários e na medida de fluxo (1). Foi observado que ele pode melhorar os sintomas de forma semelhante à finasterida, com a vantagem de estar associado a menos efeitos adversos (1). No entanto, seus efeitos de longo prazo, segurança e capacidade de prevenção de complicações da HPB ainda não são completamente conhecidos (1).
  • Chá Verde (Camellia sinensis):Algumas catequinas específicas do chá-verde demonstraram a capacidade de inibir a 5-α-redutase, e a epigalocatequina-3-galato (EGCG), em particular, inibiu o crescimento da próstata em ratos (2).
  • Urtiga (Urtica dioica):As raízes da urtiga são de particular interesse na HPB. Um estudo em humanos utilizou o extrato fluido das raízes (100 mg/mL), administrando 120 mg de urtiga (1,2 mL) três vezes ao dia, durante 6 meses (3). Nesse estudo, foi encontrada uma diminuição dos sinais e sintomas, um aumento do fluxo urinário máximo e uma diminuição do resíduo urinário pós-miccional (3). Contudo, não houve alterações no tamanho da próstata, no PSA sérico ou nos níveis de testosterona (3). O estudo não encontrou efeitos adversos e concluiu que a urtiga pode ser utilizada em conjunto com outras terapias medicamentosas (3). Quanto ao seu mecanismo de ação, alguns autores sugerem que ela possa inibir a 5-α-redutase (embora não haja consenso), enquanto outros apontam para uma ação anti-inflamatória, pela modulação do NF-κB (4). Além disso, a urtiga é capaz de inibir a aromatase, prevenindo o feedback negativo do estrógeno e seu consequente estímulo para a produção de DHT (4).
  • Pygeum (Prunus africana):Foi observado que o pygeum promove melhora da histologia da próstata e do fluxo urinário, além de apresentar propriedades antimutagênicas, tornando-o interessante na prevenção do câncer de próstata (5). É utilizado desde 1969 na França para aliviar os sintomas da HPB (5). Acredita-se que sua ação ocorra por: inativação de receptores androgênicos via inibição de translocação nuclear (6); inibição de fatores de crescimento celular, como fibroblastos e fatores de crescimento epidérmicos (7); e por suas propriedades anti-inflamatórias (8).
  • Espécies do Gênero Prunus:Um estudo demonstrou melhora do quadro de HPB com o uso de extratos de espécies de Prunus, incluindo amêndoas (P. amygdalus), damasco (P. armeniaca), pêssego (P. persica) e ameixa de jardim (P. domestica) (9). Isso se deve à presença de beta-sitosterol, docosil ferulato e ácido ursólico nessas plantas (9). Todas as espécies exibiram melhoras nos sintomas (induzidos por testosterona) em ratos, com destaque para os resultados histopatológicos, imunoquímicos e bioquímicos da Prunus domestica (9).
  • Semente de Abóbora (Cucurbita pepo):Uma revisão sobre a semente de abóbora e sua influência na HPB mostrou atividade anti-inflamatória e antiandrogênica, com redução do crescimento da próstata. Estudos clínicos também indicaram melhorias na qualidade de vida, no fluxo urinário e nos sinais e sintomas (10).
  • Cúrcuma (Curcuma longa):Em ratos, a cúrcuma apresentou um efeito similar ao da Finasterida na proteção contra o aumento do volume e peso da próstata (11). O mecanismo para isso ocorreu através da diminuição da expressão de VEGF, TGF-β1 e IGF-1 (11).

Recomendações Nutricionais Gerais

Além das plantas medicinais específicas, a dieta pode ter um papel coadjuvante no manejo da HPB. Incluir pêssego, amêndoas e damasco na alimentação pode ser benéfico (9). A semente de abóbora (10) também é uma recomendação relevante.


Referências Bibliográficas

  1. TACKLIND, J. et al. Serenoa repens for benign prostatic hyperplasia. Cochrane Database Syst Rev, 2012. Disponível em: https://doi.wiley.com/10.1002/14651858.CD001423.pub3.
  2. LIAO, S. S.; HIIPAKKA, R. A. Selective-Inhibition of Steroid 5 α-Reductase Isozymes by Tea Epicatechin-3-Gallate and Epigallocatechin-3-Gallate. Biochem Biophys Res Commun, v. 214, n. 3, p. 833–8, 1995. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0006291X85723625.
  3. SAFARINEJAD, M. R. Urtica dioica for treatment of benign prostatic hyperplasia: a prospective, randomized, double-blind, placebo-controlled, crossover study. J Herb Pharmacother, v. 5, n. 4, p. 1–11, 2005. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16635963.
  4. DHOUBI, R. et al. Screening of pharmacological uses of Urtica dioica and others benefits. Prog Biophys Mol Biol, v. 150, p. 67–77, 2020. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0079610719300987.
  5. ANDRO, M.-C.; RIFFAUD, J.-P. Pygeum africanum extract for the treatment of patients with benign prostatic hyperplasia: A review of 25 years of published experience. Curr Ther Res, v. 56, n. 8, p. 796–817, 1995. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/0011393X95850635.
  6. ISHANI, A. et al. Pygeum africanum for the treatment of patients with benign prostatic hyperplasia: a systematic review and quantitative meta-analysis. Am J Med, v. 109, n. 8, p. 654–64, 2000. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0002934300006045.
  7. LAWSON, R. K. Role of growth factors in benign prostatic hyperplasia. Eur Urol, v. 32, n. Suppl. 1, p. 22–7, 1997.
  8. PAUBERT-BRAQUET, M. et al. Effect of Pygeum africanum extract on A23187-stimulated production of lipoxygenase metabolites from human polymorphonuclear cells. J Lipid Mediat Cell Signal, v. 9, n. 3, p. 285–90, 1994.
  9. JENA, A. K. et al. Amelioration of testosterone induced benign prostatic hyperplasia by Prunus species. J Ethnopharmacol, v. 190, p. 33–45, 2016. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S037887411630335X.
  10. DAMIANO, R. et al. The role of Cucurbita pepo in the management of patients affected by lower urinary tract symptoms due to benign prostatic hyperplasia: A narrative review. Arch Ital di Urol e Androl, v. 88, n. 2, p. 136, 2016. Disponível em: http://www.pagepressjournals.org/index.php/aiua/article/view/aiua.2016.2.136.
  11. KIM, S. K. et al. Inhibitory effect of curcumin on testosterone induced benign prostatic hyperplasia rat model. BMC Complement Altern Med, v. 15, n. 1, p. 380, 2015. Disponível em: http://bmccomplementalternmed.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12906-015-0825-y.

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