Desenvolvimento Cognitivo e Psicossocial na Adultez Emergente


Desenvolvimento Cognitivo e Psicossocial na Adultez Emergente


Introdução

Para muitos cientistas do desenvolvimento, o período entre o final da adolescência e o final dos 20 anos, conhecido como “adultez emergente”, representa uma fase distinta do ciclo de vida em sociedades industrializadas (1). Durante esse tempo, o indivíduo não é mais um adolescente, mas ainda não se estabeleceu completamente no papel de adulto, caracterizando um período de transição e exploração.


Desenvolvimento Cognitivo na Adultez Emergente

Embora Piaget considerasse o pensamento operatório-formal como o auge do desenvolvimento cognitivo, alguns cientistas do desenvolvimento argumentam que as mudanças na cognição se estendem para além desse estágio (1). Duas linhas de pesquisa neopiagetianas exploram níveis mais avançados de pensamento: o pensamento reflexivo, ou raciocínio abstrato, e o pensamento pós-formal, que integra lógica, emoção e experiência prática para resolver problemas complexos e ambíguos (1).

Pensamento Reflexivo

Definido originalmente por John Dewey como a consideração ativa, persistente e cuidadosa de informações ou crenças, o pensamento reflexivo envolve questionar continuamente os fatos e estabelecer inferências e conexões (1). Expandindo o estágio operatório-formal de Piaget, pensadores reflexivos são capazes de criar sistemas intelectuais complexos que conciliam ideias ou considerações aparentemente conflitantes, por exemplo, unindo diversas teorias em uma única teoria geral (1).

Pensamento Pós-Formal

O pensamento pós-formal caracteriza-se pela capacidade de lidar com inconsistência, contradição e tolerância. É tanto um estilo de personalidade quanto um modo de pensar (1). Outra característica é sua flexibilidade: ele utiliza a intuição e a emoção, além da lógica, para auxiliar na resolução de situações como dilemas sociais, que frequentemente são menos estruturadas e carregadas de emoção (1).

Modelo de Desenvolvimento Cognitivo para o Ciclo de Vida (Schaie)

O modelo de desenvolvimento cognitivo para o ciclo de vida de K. Warner Schaie aborda o uso do intelecto em um contexto social (1). Ao longo da vida, as metas cognitivas mudam da aquisição de informações e habilidades para a integração prática do conhecimento e, posteriormente, para a busca de significado e propósito (1). Ele pode ser dividido em sete estágios:

  • Estágio Aquisitivo (Infância e Adolescência): Indivíduos adquirem informações e habilidades, principalmente por interesse próprio ou como preparação para a participação na sociedade (1).
  • Estágio Realizador (Final da Adolescência ao Início dos 30): Jovens adultos não adquirem mais conhecimento apenas por interesse próprio, mas o utilizam para atingir metas na carreira e na família (1).
  • Estágio Responsável (Final dos 30 aos 60): Pessoas de meia-idade utilizam suas capacidades mentais para resolver problemas práticos associados a responsabilidades com terceiros (1).
  • Estágio Executivo (Dos 30 à Meia-Idade): Indivíduos com responsabilidades em sistemas sociais lidam com relacionamentos complexos em múltiplos níveis (1).
  • Estágio Reorganizativo (Final da Meia-Idade e Início da Vida Adulta Tardia): Pessoas que entram na aposentadoria reorganizam suas vidas e energias intelectuais em torno de propósitos significativos que substituem o trabalho remunerado (1).
  • Estágio Reintegrativo (Vida Adulta Tardia): Adultos mais velhos podem experienciar mudanças biológicas e cognitivas e tendem a ser mais seletivos quanto às tarefas em que dedicarão esforços (1).
  • Estágio de Criação de Herança (Velhice Avançada): Pessoas muito idosas tendem a elaborar instruções para a distribuição de posses de valor, organizar o funeral, contar histórias oralmente ou escrever autobiografias (1).

Inteligência Emocional (IE)

Desenvolvida por Peter Salovey e John Mayer, a Inteligência Emocional (IE) refere-se a quatro habilidades inter-relacionadas: a capacidade de perceber, usar, entender e gerenciar ou regular as emoções (próprias e alheias) para alcançar objetivos (1). A IE exige a consciência do comportamento adequado em uma determinada situação (1). Para medi-la, psicólogos utilizam o teste de Inteligência Emocional de Mayer-Salovey-Caruso (MSCEIT) (1).

A IE afeta a qualidade dos relacionamentos pessoais. Estudos revelaram que estudantes universitários com altas pontuações no MSCEIT tendem a relatar relacionamentos mais positivos com pais e amigos (1). Homens em idade universitária com altas pontuações no MSCEIT relatam menor envolvimento com álcool e drogas e apresentam resultados mais elevados em medidas de bem-estar (1). Amigos íntimos de estudantes com boas pontuações no teste os avaliam como mais propensos a oferecer apoio emocional em momentos de necessidade (1). Em geral, mulheres tendem a ter pontuações mais altas em inteligência emocional do que homens (1).


Raciocínio Moral

Algumas evidências sugerem que a experiência pode levar os adultos a reavaliarem seus critérios em relação ao que é certo e justo. Por exemplo, estudantes que frequentam a igreja são menos propensos a colar em provas do que aqueles que a frequentam com menos regularidade (1). Por outro lado, pessoas expostas à guerra ou que desenvolveram transtorno do estresse pós-traumático como resultado de combate mostram uma tendência reduzida a alcançar os níveis mais altos de raciocínio moral de Kohlberg (1). Em suma, experiências pessoais podem influenciar a probabilidade de envolvimento em certos tipos de raciocínio moral (1).

Cultura e Raciocínio Moral

A cultura influencia a compreensão da moralidade. Culturas como a dos Estados Unidos tendem a enfatizar a autonomia individual, enquanto culturas como a da China se preocupam mais com a harmonia e a dinâmica de grupo (1).

Gênero e Raciocínio Moral

Pesquisas sobre diferenças de gênero no raciocínio moral são inconclusivas. Algumas indicam que, contrariando as previsões de Kohlberg, as mulheres raciocinam em um nível mais elevado do que os homens. Outras não encontraram diferenças de gênero consistentes, enquanto outras ainda argumentam que, embora as mulheres sejam mais propensas a pensar em termos de cuidado e os homens em termos de justiça, essas diferenças são pequenas (1). Em estudos de neuroimagem cerebral, observou-se que mulheres apresentaram maior atividade em áreas cerebrais associadas ao raciocínio baseado no cuidado (ínsula posterior, cingulada anterior e ínsula anterior), enquanto homens mostraram maior atividade em áreas associadas ao processamento baseado em justiça (sulco temporal superior) (1).


Educação e Trabalho

Ensino Superior (Faculdade)

Em geral, pesquisas sugerem que os resultados de aprendizagem são semelhantes para estudantes virtuais, híbridos ou tradicionais, embora uma série de variáveis possa afetar esses resultados (1).

Gênero, Nível Socioeconômico e Etnia

Diferenças de gênero são evidentes em alguns campos acadêmicos (1). Nos Estados Unidos, mulheres continuam sendo mais propensas a se especializar em áreas tradicionalmente femininas, como magistério, enfermagem, literatura e psicologia, e menos em matemática e ciências (1). As áreas relacionadas à matemática são as únicas em que as mulheres ainda não atingiram índices iguais aos homens (1). A influência dos estereótipos de gênero desempenha um papel relevante, e ainda existem diversos relatos de discriminação de gênero nas áreas com as maiores disparidades (1).

Adaptação à Universidade

Muitos calouros se sentem sobrecarregados pelas demandas da vida universitária. Nesse contexto, o apoio familiar é essencial para a adaptação. Uma relação de apego seguro na vida adulta parece auxiliar nesse processo (1). Características pessoais também são importantes: estudantes com alta autoestima e autoeficácia acadêmica, que são adaptáveis, conscienciosos, amáveis, extrovertidos e com maior propensão a usar estratégias de enfrentamento focadas no problema, tendem a se adaptar melhor e aproveitar mais a universidade (1). Construir uma rede social e acadêmica forte entre colegas e professores também é crucial (1).

Crescimento Cognitivo na Universidade

Os estudantes se modificam em resposta a:

  • Currículo: Oferece novas visões e maneiras de pensar.
  • Outros estudantes: Contestam visões e valores preexistentes.
  • Cultura estudantil: Diferente da cultura da sociedade em geral.
  • Membros do corpo docente: Apresentam novos modelos a serem seguidos (1).

Em termos de benefícios, tanto imediatos quanto de longo prazo, ingressar em uma universidade é mais importante do que o curso escolhido (1). Muitos estudantes chegam à universidade com ideias rígidas sobre o mundo, acreditando em uma única resposta “certa” a ser identificada e defendida. Ao encontrar maior diversidade de ideias e pontos de vista, são forçados a examinar seus pressupostos sobre a “verdade”. Com mais experiência e reflexão aprofundada a partir de um conjunto de conhecimentos acumulados, os estudantes começam a perceber que grande parte do conhecimento e muitos valores são, ao menos em parte, relativos (1). De forma geral, a exposição à diversidade, especialmente em relação à raça (frequentemente a dimensão mais evidente), leva a aumentos na complexidade cognitiva. Essa influência é maior quando assume a forma de interações interpessoais do que, por exemplo, cursos ou workshops (1).

Ingresso no Mundo do Trabalho

Combinando Trabalho e Estudos

O trabalho de meio período tem poucos efeitos, ou até positivos, sobre o desempenho acadêmico, desde que o estudante não trabalhe mais de 15 horas por semana. No entanto, aqueles que trabalham mais de 20 horas semanais sofrem um impacto negativo no desempenho (1).

Crescimento Cognitivo no Trabalho

Pesquisas indicam que as pessoas parecem crescer em empregos desafiadores, um tipo de trabalho cada vez mais prevalente. Essas pesquisas revelaram uma relação recíproca entre a complexidade substantiva do trabalho – o grau de reflexão e julgamento independente que ele requer – e a flexibilidade de uma pessoa para lidar com as demandas cognitivas (1). O crescimento cognitivo não precisa parar ao final do dia de trabalho. Conforme a hipótese do extravasamento, os ganhos cognitivos do trabalho se transferem para as horas de folga. Estudos apoiam essa hipótese: a complexidade substantiva do trabalho influencia fortemente o nível intelectual das atividades de lazer (1).

Rede Social

Estudos constataram que observar o conteúdo postado por outros, mas raramente comentar, está associado a ciúme, comparação social e piora no bem-estar. Contudo, o engajamento ativo com outros tende a aumentar a conexão social e o bem-estar (1).


Referências Bibliográficas

  1. PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento Humano. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2022. v. 1.