A Taurina na Performance, Cognição e Saúde Metabólica: Uma Análise Abrangente


A Taurina na Performance, Cognição e Saúde Metabólica: Uma Análise Abrangente


Introdução

A taurina, um ácido 2-aminoetanossulfônico, é o aminoácido livre mais abundante nos tecidos de mamíferos, compreendendo cerca de 50-60% do “pool” de aminoácidos livres (2, 5). Sendo o produto final do catabolismo da cisteína (Cys), foi isolada pela primeira vez da bile do touro em 1827 (1). Encontrada predominantemente em produtos de origem animal, sua presença é limitada em fontes vegetais (1, 3). A versatilidade da taurina tem levado à sugestão de diversas aplicações terapêuticas, incluindo o tratamento de condições como hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes, distúrbios hepáticos e renais, sepse e processos inflamatórios (1). Este documento detalha a fisiologia da taurina, suas recomendações de suplementação, com foco no exercício de endurance, cognição e metabolismo lipídico, bem como aspectos de segurança.


Fisiologia e Funções da Taurina

A taurina é derivada do metabolismo da cisteína e desempenha múltiplas funções biológicas. Sua única função plenamente compreendida é seu papel na conjugação dos ácidos biliares (1), um processo essencial para a digestão e absorção de gorduras.

Além disso, a taurina tem sido associada a:

  • Neuroproteção: Demonstra um papel neuroprotetor contra lesões excitotóxicas no sistema nervoso de mamíferos (1). Também oferece um efeito protetor contra a toxicidade de outras substâncias, como a cistina (1).
  • Antioxidante: Possui efeitos antioxidantes, contribuindo para a redução do estresse oxidativo no organismo (1).

Recomendações Nutricionais e Suplementação

Populações de Risco para Deficiência

Adultos veganos apresentam um risco aumentado de deficiência de taurina devido à sua baixa concentração em fontes vegetais.

Doses de Suplementação

Doses eficazes de taurina para diversas aplicações variam entre 0,5 e 2g/dia (3). A dose limite diária sem toxicidade estabelecida é de 3000 mg/dia (3).


Taurina e Exercício de Endurance

A suplementação de taurina tem demonstrado melhorar o desempenho em esportes de endurance. As dosagens utilizadas variaram entre 1 e 6g, porém, não foi identificada uma relação dose-resposta clara no desempenho (2). Os resultados obtidos indicaram apenas uma pequena melhora no desempenho (2).

Os mecanismos subjacentes a essa melhora ainda são objeto de especulação. Alguns estudos sugerem que a taurina pode aumentar a lipólise e reduzir a contribuição do metabolismo glicolítico, alterando a fonte de “combustível” utilizada durante o exercício e otimizando sua eficiência (2). Outras pesquisas associam os benefícios da taurina à sua capacidade antioxidante, atuando na matriz mitocondrial e melhorando a eficiência do turnover de ATP nas células musculares (2).

É importante notar que não foram observadas diferenças significativas entre a suplementação aguda ou crônica de taurina no desempenho esportivo (2). Além disso, diversos estudos indicam que a taurina não necessita da cafeína para promover a melhora do desempenho esportivo (2).

Termorregulação

A suplementação de 500 mg de taurina 2 horas antes do exercício pode auxiliar na termorregulação. Este efeito se manifesta pelo aumento da taxa de suor e melhor regulação da temperatura corporal, o que, consequentemente, pode prolongar o tempo até a exaustão durante o exercício (5).


Taurina e Cognição

A taurina, frequentemente combinada com cafeína e glucuronolactona em bebidas energéticas, tem sido comercializada por sua suposta capacidade de melhorar a concentração, o tempo de reação e o estado de alerta (4). Estudos que avaliaram a combinação desses três ingredientes nas concentrações típicas de uma lata de Red Bull (1g de taurina + 80 mg de cafeína + 600 mg de glucuronolactona) observaram efeitos positivos na cognição e no humor (4).

A taurina é reconhecida por modular o humor e por sua participação em processos de estresse e comportamento. Os mecanismos para essas ações possivelmente envolvem interações com os sistemas de neurotransmissores gabaérgicos, colinérgicos e adrenérgicos (4). A taurina é frequentemente associada à cafeína, pois pode atenuar picos de estímulos gerados pela cafeína, reduzindo potenciais efeitos colaterais. Este mecanismo ocorre via sistema gabaérgico (4).


Taurina e Metabolismo Lipídico

Estudos em animais de laboratório indicaram que a taurina pode induzir maior oxidação de ácidos graxos (3). Ela demonstrou uma modulação positiva do PPARα, um fator que induz a expressão de genes envolvidos na oxidação de lipídios no fígado, e um aumento na expressão proteica de CPT-1A, uma enzima chave no transporte de ácidos graxos para a mitocôndria (3).

A suplementação oral de taurina na dose de 6g/dia resultou em uma diminuição dos níveis de LDL (lipoproteína de baixa densidade) e colesterol total (1).


Segurança da Taurina

Atualmente, existe uma hipótese de que a taurina possa causar danos cardíacos; no entanto, esta hipótese ainda não foi confirmada pela literatura científica (3).


Referências Bibliográficas

  1. ROSS, A. C. et al. Nutrição Moderna de Shills na Saúde e na Doença. 11. ed. São Paulo: Manole, 2016. 1642 p.
  2. WALDRON, M. et al. The Effects of an Oral Taurine Dose and Supplementation Period on Endurance Exercise Performance in Humans: A Meta-Analysis. Sport Med, v. 48, n. 5, p. 1247–1253, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s40279-018-0896-2.
  3. LANCHA JR., A. H.; ROGERI, P. S.; PEREIRA-LANCHA, L. O. Suplementação Nutricional no Esporte. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. 266 p.
  4. SEIDL, R. et al. A taurine and caffeine-containing drink stimulates cognitive performance and well-being. Amino Acids, v. 19, n. 3–4, p. 635–642, 2000.
  5. KURTZ, J. A. et al. Taurine in sports and exercise. J Int Soc Sports Nutr, v. 18, n. 1, p. 1–20, 2021.

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