Abordagem Nutricional na Lipodistrofia Ginoide (Celulite)
Introdução
A lipodistrofia ginoide, popularmente conhecida como celulite, é uma condição multifatorial que afeta predominantemente mulheres, caracterizada por alterações na estrutura do tecido subcutâneo. O manejo dessa condição envolve estratégias que visam à melhoria da composição corporal, da saúde intestinal e da hidratação, além do uso de substâncias com potencial lipolítico.
Fisiopatologia e Fatores de Risco
A lipodistrofia ginoide é definida como uma disfunção metabólica localizada no tecido subcutâneo e na derme. Essa condição é causada pelo acúmulo de tecido adiposo retido no septo fibroso e por suas projeções na derme (1). Clinicamente, a área afetada adquire um aspecto acolchoado ou de “casca de laranja” (1).
O principal fator de risco para a lipodistrofia ginoide é ser mulher, devido à influência do estrogênio. Esse hormônio favorece a retenção e o armazenamento de gordura corporal nas células adiposas, contribuindo para a prevalência da condição no sexo feminino (1).
Terapia Nutricional e Conduta Clínica
O tratamento da lipodistrofia ginoide envolve uma abordagem nutricional estratégica, focando em diversos pilares:
Emagrecimento
A perda de peso é considerada uma das intervenções mais eficazes e frequentemente empregadas no tratamento da lipodistrofia ginoide, dada a natureza das alterações no tecido adiposo (1). O controle do peso é fundamental para reduzir o volume de adipócitos e, consequentemente, melhorar a aparência da pele.
Ingestão Hídrica e Retenção Hídrica
A ingestão adequada de líquidos, especialmente água, é crucial para auxiliar na eliminação de toxinas. Ao diminuir a pressão capilar e aumentar a pressão linfática, a hidratação adequada previne a retenção hídrica (1). Por outro lado, o consumo excessivo de sódio promove a retenção de água corporal, resultando na formação de edema e favorecendo a lipodistrofia ginoide (1). Portanto, adequar a ingestão hídrica é um componente essencial da conduta clínica.
Saúde Intestinal
Um bom funcionamento intestinal contribui significativamente para o manejo da lipodistrofia ginoide. A regularidade intestinal diminui a pressão abdominal, o que, por sua vez, favorece o sistema circulatório dos membros inferiores e auxilia no clearance (eliminação) do estrogênio (1).
O trato intestinal desempenha um papel importante no balanço hormonal do estrogênio, pois a via biliar é uma das formas de excreção de sua forma conjugada. Se o trânsito intestinal estiver lento, ocorre o favorecimento da ação de beta-glicuronidases, enzimas produzidas por bactérias intestinais, que transformam o estrogênio em suas formas mais ativas e de mais fácil reabsorção pelo organismo (1).
Substâncias Lipolíticas e Alimentos de Interesse
A conduta clínica pode incluir a inserção de substâncias lipolíticas e alimentos específicos na dieta:
- Substâncias Lipolíticas: De maneira geral, todas as substâncias com propriedades lipolíticas são capazes de promover o esvaziamento do adipócito, o que confere uma melhor aparência e suavidade à pele (1). Exemplos incluem cafeína, teofilina, teobromina, silício, iodo orgânico e L-carnitina (1).
- Alho (Allium sativum): Algumas evidências in vitro sugerem que o extrato de alho, em uma concentração de 0,0015%, pode ser útil no tratamento da lipodistrofia ginoide. Isso se deve aos seus compostos, que agem sinergicamente no aumento da expressão de moléculas ligadas à lipólise (1).
Outras Recomendações Nutricionais
Além das estratégias acima, a terapia nutricional para a lipodistrofia ginoide deve considerar:
- Redução do Índice Glicêmico das Refeições: Optar por alimentos com baixo índice glicêmico pode auxiliar no controle da glicemia e da insulina, o que indiretamente pode influenciar o acúmulo de gordura.
- Aumento no Consumo de Gorduras Mono e Poli-insaturadas: Incluir fontes saudáveis de gordura, como azeite de oliva, abacate e oleaginosas, pode ser benéfico para a saúde geral e a integridade da pele.
- Dieta Rica em Antioxidantes: O consumo de uma variedade de alimentos ricos em antioxidantes, como frutas, vegetais e especiarias, pode ajudar a combater o estresse oxidativo, que está implicado na fisiopatologia da celulite.
Referências Bibliográficas
- COMINETTI, C.; COZZOLINO, S. Bases bioquímicas e fisiológicas da nutrição nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença. 2. ed. Barueri: Manole, 2020. 1369 p.