Potássio: Funções, Metabolismo e Recomendações Nutricionais
Introdução
O potássio é um eletrólito essencial para o funcionamento adequado do organismo, desempenhando papéis vitais no equilíbrio hidroeletrolítico, na função celular e na saúde cardiovascular. Compreender seu metabolismo, as recomendações de ingestão e os riscos associados à sua deficiência ou excesso é fundamental na prática clínica.
Recomendações Nutricionais
As evidências disponíveis permitem estabelecer apenas os valores de Ingestão Adequada (AI) de potássio, uma vez que a falta de evidências de risco de toxicidade em indivíduos saudáveis impede a definição de um Nível Máximo de Ingestão Tolerável (UL) (2).
As recomendações diárias para ingestão de potássio são (2):
- Homens: 3400 mg/dia
- Mulheres: 2600 mg/dia
- Gestantes: 2900 mg/dia
- Lactantes: 2800 mg/dia
A UL não foi definida devido à falta de evidências de risco de toxicidade do potássio na população saudável. (3)
Uma ingestão alimentar superior a 4,7 g/dia (120 mmol/dia) não representa risco para indivíduos saudáveis, pois o excesso de potássio é rapidamente excretado (1).
Fontes Alimentares
As principais fontes alimentares de potássio são alimentos não processados, como frutas (banana, frutas secas, laranja), vegetais (espinafre, brócolis, tomate) e carnes frescas (2).
Metabolismo e Absorção
Em indivíduos saudáveis, aproximadamente 85% do potássio ingerido é absorvido (2).
O potássio proveniente da dieta é eficientemente absorvido por mecanismos passivos e predominantemente excretado na urina (77-90%), com o restante sendo eliminado pelas fezes e uma quantidade muito pequena perdida pelo suor (2). A secreção de potássio no ducto coletor cortical renal é o principal determinante do potássio urinário e é regulada por diversos fatores, incluindo o hormônio aldosterona (2). Uma concentração plasmática elevada de potássio estimula o córtex da adrenal a liberar aldosterona, o que, por sua vez, aumenta a secreção de potássio no ducto coletor cortical e, consequentemente, na urina (2).
Funções no Organismo
O potássio, sendo o maior cátion intracelular do corpo, é indispensável para a função celular normal (2). Ele é mantido em uma concentração de aproximadamente 145 mmol/L no fluido intracelular, com concentrações significativamente menores no plasma e no fluido intersticial (3,8-5 mmol/L no fluido extracelular) (2).
Pequenas alterações na concentração do potássio extracelular podem afetar a relação potássio extracelular-intracelular e, consequentemente, a transmissão neural, a contração muscular e o tônus vascular (2).
Equilíbrio Ácido-Básico
O potássio, juntamente com o cloro (que se combina com o sódio no líquido extracelular e com o potássio no meio intracelular), atua na manutenção da pressão osmótica e do equilíbrio ácido-básico do organismo (2).
O excesso de ácido e de sódio derivados da dieta pode levar ao aumento da excreção urinária de cálcio e à redução da excreção de citrato na urina. Isso pode resultar em desmineralização óssea, aumento do risco de cálculos renais de cálcio e distúrbios metabólicos relacionados à osteoporose e proteinúria (2). Por essa razão, diversos estudos observaram que o consumo adequado de potássio diminui a excreção de cálcio na urina e pode melhorar seu balanço (2).
Transporte de Substâncias
Diversos canais de potássio foram reconhecidos como importantes alvos terapêuticos para o tratamento de condições como esclerose múltipla, Alzheimer, esquizofrenia, enxaqueca, hipertensão pulmonar e diabetes (2). Além disso, esses canais parecem ter um papel neuroprotetor e cardioprotetor (2).
Potássio e Câimbras:
Em esportes, o potássio é frequentemente apontado por seus supostos efeitos anti-cãibra. No entanto, essa alegação é incerta devido às dúvidas sobre a etiologia (origem e causas) das cãibras. (3)
Distúrbios do Potássio
Deficiência de Potássio (Hipocalemia)
Os sintomas da deficiência de potássio são bem definidos, mas é incomum que ocorram apenas por consumo alimentar inadequado (2). A deficiência é mais provável de ocorrer por perdas significativas em vômitos ou diarreia, uso de diuréticos, desnutrição grave ou após cirurgias (2).
- A deficiência grave de potássio é caracterizada por hipocalemia (concentração sérica menor que 3,5 mmol/L), que pode levar a arritmias cardíacas, fraqueza muscular e intolerância à glicose (2).
- A deficiência moderada de potássio, que ocorre sem hipocalemia, é caracterizada por aumento da pressão sanguínea, maior sensibilidade ao sal, elevação do risco de cálculos renais e aumento do turnover ósseo, evidenciado por maior excreção de cálcio, formação óssea reduzida e reabsorção aumentada (2).
Excesso de Potássio (Hipercalemia)
Algumas doenças e medicamentos podem diminuir a excreção de potássio, aumentando o risco de hipercalemia e de efeitos adversos relacionados à ingestão excessiva (2).
- Medicamentos: Dentre as principais drogas que prejudicam a excreção de potássio, destacam-se os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), bloqueadores de receptores de angiotensina (BRAs) e alguns diuréticos poupadores de potássio (1, 2).
- Doenças: Condições clínicas que prejudicam a excreção de potássio incluem diabetes, doença renal crônica (DRC), doença renal terminal, insuficiência cardíaca grave e insuficiência adrenal (1, 2).
Potássio e Doenças Crônicas
Hipertensão Arterial
O Institute of Medicine (IOM) recomenda a ingestão de 4,7 g/dia (120 mmol/dia) de potássio para auxiliar na redução da pressão arterial, embora esta recomendação não seja um consenso universal (1).
Doenças Cardiovasculares
A ingestão inadequada de potássio pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, particularmente o acidente vascular cerebral (AVC) (2).
Referências Bibliográficas
- Ross, A. C. et al. Nutrição Moderna de Shills na Saúde e na Doença. 11. ed. São Paulo: Manole, 2016. 1642 p.
- Cozzolino, S. Biodisponibilidade de Nutrientes. 6. ed. São Paulo: Manole, 2020. 934 p.
- JAGIM, Andrew R. et al. International society of sports nutrition position stand: energy drinks and energy shots. Journal of the International Society of Sports Nutrition, [s. l.], v. 20, n. 1, p. 2171314, 2023.