Síndrome do Intestino Curto: Fisiopatologia e Terapia Nutricional


Síndrome do Intestino Curto: Fisiopatologia e Terapia Nutricional


Introdução

A síndrome do intestino curto (SIC) é uma condição clínica complexa caracterizada pela incapacidade do trato gastrointestinal de manter as necessidades nutricionais e de hidratação por via alimentar, independentemente do tamanho intestinal remanescente. Geralmente, é consequência de ressecções extensas do intestino delgado, frequentemente causadas por doenças como Crohn, enterite actínica, câncer ou infarto mesentérico.


Fisiopatologia

A SIC resulta em diversas alterações que comprometem a digestão e absorção de nutrientes, levando a:

  • Má absorção: Dificuldade generalizada na captação de nutrientes.
  • Diarreia frequente: Devido ao trânsito intestinal acelerado e à presença de nutrientes não absorvidos no lúmen.
  • Esteatorreia: Excreção de gordura nas fezes, resultado da má absorção de lipídios.
  • Desidratação: Perda excessiva de líquidos.
  • Desequilíbrio eletrolítico: Alterações nos níveis de eletrólitos devido à perda de líquidos e má absorção.

Tipos de Ressecção e Suas Implicações:

A localização da ressecção intestinal é crucial para determinar o perfil das deficiências e complicações:

  • Ressecção Duodenal: São raras. O duodeno é a principal porta de entrada para enzimas pancreáticas e sais biliares, além de ser o local de maior absorção de ferro, zinco, cobre e folato. A perda dessa seção impacta significativamente a fase inicial da digestão e a absorção desses micronutrientes.
  • Ressecção Jejunal: Normalmente, o íleo remanescente pode se adaptar e assumir grande parte das funções do jejuno. No entanto, ocorre uma perda inicial na capacidade de absorção, e o paciente pode desenvolver quadros de intolerância à lactose e à gordura. O jejuno é responsável pela produção de uma gama de hormônios fundamentais na digestão e absorção.
  • Ressecção Ileal: Provoca um grande impacto e exige maior demanda no tempo de progressão da dieta, sendo frequentemente necessária a suplementação.
    • Íleo distal: A ressecção do íleo distal tem um impacto particularmente significativo, pois é o principal local de absorção dos sais biliares, vitamina B12 e fator intrínseco. Além disso, essa porção do intestino é responsável por absorver entre 7 a 10 litros de líquido que são secretados diariamente no trato gastrointestinal.
    • Complicações Associadas: A má absorção de sais biliares leva a complicações na absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). Os ácidos graxos não absorvidos podem se combinar com minerais, formando sabões insolúveis e impedindo sua absorção. Adicionalmente, ocorre um aumento na absorção de oxalato, que, somado à desidratação, eleva o risco para formação de cálculos renais.

Terapia Nutricional

A terapia nutricional na SIC visa fornecer suporte adequado, promover a adaptação intestinal e prevenir complicações.

  • Nutrição Parenteral: É a via inicial de escolha para a recuperação pós-cirúrgica, fornecendo nutrientes diretamente na corrente sanguínea. Pode ser mantida como meio de complementar a energia e os eletrólitos a longo prazo.
  • Nutrição Enteral: Utilizada para o estímulo trófico do intestino remanescente, fundamental para a adaptação e regeneração da mucosa.
  • Adaptação Intestinal: O processo de adaptação intestinal pode levar de 1 a 2 anos. O estímulo mais benéfico para essa adaptação é o fornecimento de nutrientes integrais por via oral ou enteral.
  • Agentes Tróficos Intestinais: A glutamina e os Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC) podem ser benéficos para a reconstrução da flora intestinal e para a integridade da barreira intestinal.

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