Psoríase: Aspectos Fisiopatológicos, Manifestações Clínicas e Abordagens Terapêuticas


Psoríase: Aspectos Fisiopatológicos, Manifestações Clínicas e Abordagens Terapêuticas


A psoríase é uma doença inflamatória crônica autoimune da pele, caracterizada por lesões cutâneas e, em alguns casos, comprometimento articular. Sua natureza complexa exige um manejo multidisciplinar, que abrange desde tratamentos farmacológicos específicos até intervenções nutricionais e de estilo de vida para mitigar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente.


Fisiopatologia e Prevalência

A psoríase é clinicamente caracterizada por pápulas eritematosas bem demarcadas e placas arredondadas cobertas por escamas prateadas com aspecto semelhante à mica (4). Histologicamente, manifesta-se por inflamação acompanhada de hiperproliferação de queratinócitos (1), o que leva ao acúmulo de pele morta em placas nas áreas afetadas. A distribuição típica das lesões ocorre primeiramente nos joelhos e cotovelos (1). As lesões podem ser dolorosas e, por vezes, pruriginosas – a palavra “psoríase” deriva do grego e significa “pele com coceira”, embora o prurido não seja o sintoma predominante, em contraste com o eczema (1).

Essa condição é uma doença autoimune com um componente genético identificado, com vários locais de suscetibilidade relacionados ao funcionamento do sistema imune (1). As lesões psoriásicas contêm infiltrados de células T ativadas que parecem produzir citocinas pró-inflamatórias (TNF, IL-17, IL-23), as quais são responsáveis pela proliferação exagerada dos queratinócitos e pelas manifestações clínicas da doença (1,4).

A psoríase também pode afetar as unhas, conferindo-lhes um aspecto “perfurado”, e as articulações e outros tecidos conjuntivos, caracterizando a artrite psoriásica (AP) (1). Há uma possível relação da psoríase com manifestações de sensibilidade ao glúten e doença celíaca (4). Além disso, estudos sugerem que neurotransmissores, especificamente a serotonina, podem influenciar a psoríase (2).

A prevalência da psoríase demonstra um componente genético significativo, visto que 30-50% dos pacientes com a doença possuem histórico familiar (4).


Manifestações Clínicas Associadas

Artrite Psoriásica (AP)

De acordo com a National Psoriasis Foundation, até 30% dos pacientes com psoríase desenvolvem artrite psoriásica, acometendo principalmente indivíduos entre 30-50 anos (4). A maioria dos casos (50%) é classificada como simétrica, assemelhando-se à artrite reumatoide (4).

A AP pode ser classificada em cinco subtipos:

  • Simétrica
  • Assimétrica
  • Distal
  • Espondilite
  • Artrite mutilante

Fatores Precipitantes e Influências Externas

Estresse

O estresse é reconhecido como um fator precipitante da psoríase, assim como o ressecamento da pele (1). Há evidências de que o estresse pode gerar diversas alterações cutâneas, incluindo psoríase, espinha e vitiligo (3).


Tratamento Médico e Farmacologia

O tratamento da psoríase é individualizado, dependendo do tipo da doença, da localização e da extensão das lesões. No entanto, todos os pacientes devem ser orientados a evitar o ressecamento e/ou irritação da pele e a manter uma adequada hidratação cutânea (4).

A maioria dos pacientes pode ser tratada com glicocorticoides tópicos de potência média, embora a eficácia desses medicamentos tenda a diminuir a longo prazo (4).

No tratamento da psoríase grave, os fármacos eficazes geralmente são aqueles que inibem a ativação dos linfócitos T, a expansão clonal ou a liberação de citocinas pró-inflamatórias (4). Nesse contexto, a ciclosporina e outros agentes imunossupressores podem ser altamente eficazes (4).

Agentes Biológicos Específicos

Agentes anti-TNF-α:

  • Etanercepte: Indicado para Psoríase (Ps.) e Artrite Psoriásica (APs), administrado via subcutânea (sc) (4).
  • Adalimumabe: Indicado para Ps. e APs, administrado via sc (4).
  • Infliximabe: Indicado para Ps. e APs, administrado via intravenosa (iv) (4).
  • Golimumabe: Indicado para APs, administrado via sc (4).
  • Certolizumabe pegol: Indicado para APs, administrado via sc (4).

Agentes anti-IL-17:

  • Secuquinumabe: Indicado para Ps. e APs, administrado via sc (4).
  • Ixequizumabe: Indicado para Ps., administrado via sc (4).

Agentes anti-IL-12 e IL-23:

  • Ustequinumabe: Indicado para Ps. e APs, administrado via sc (4).

Terapia Nutricional

Síndrome Metabólica

Pacientes com psoríase apresentam um risco aumentado para a síndrome metabólica, o que inclui maior morbidade e mortalidade para eventos cardiovasculares (4). Dada essa associação, a terapia nutricional na psoríase deve focar em estratégias que também auxiliem na prevenção e manejo da síndrome metabólica.

Conduta Nutricional

A dieta com padrão anti-inflamatório é a principal recomendação na conduta nutricional para pacientes com psoríase. Isso implica em:

  • Redução do índice glicêmico das refeições: Priorizar alimentos que não causem picos rápidos de glicose.
  • Aumento no consumo de gorduras mono e poli-insaturadas: Favorecer fontes de ácidos graxos saudáveis, como ômega-3, que possuem propriedades anti-inflamatórias.
  • Controle do peso corporal: Essencial para o manejo da inflamação e para a saúde metabólica geral.
  • Avaliação para síndrome metabólica: Monitorar e intervir precocemente se houver indícios dessa condição.

Referências Bibliográficas

  1. RITTER JAMES M. et al. Rang & Dale Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. 789 p.
  2. MARTINS, A. M. et al. The Brain-Skin Connection and the Pathogenesis of Psoriasis: A Review with a Focus on the Serotonergic System. Cells, v. 9, n. 4, 2020.
  3. PONDELJAK, N.; LUGOC-MIHIĆ, L. Stress-induced Interaction of Skin Immune Cells, Hormones, and Neurotransmitters. Clinical Therapeutics, v. 42, n. 5, p. 757–770, 2020.
  4. JAMESON, J. L. et al. Medicina Interna de Harrison. 20. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2021. 3522 p.

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