Sarcopenia: Fisiopatologia, Diagnóstico e Estratégias de Intervenção
A sarcopenia, definida pelo consenso europeu de sarcopenia em 2010, é uma síndrome caracterizada pela perda gradual e generalizada da massa e da força muscular, com risco aumentado para incapacidade física, piora da qualidade de vida e aumento da mortalidade (2). Nesse processo, as fibras musculares são substituídas por tecido adiposo fibrótico, com redução da síntese proteica e consequente diminuição da força e eficiência muscular (2). O declínio da massa muscular inicia-se por volta dos 25 anos, acelerando-se a partir dos 50 anos.
Fisiopatologia da Sarcopenia
A etiologia da sarcopenia ainda não está totalmente elucidada, mas envolve múltiplos fatores.
Mecanismos e Fatores Contribuintes
A sarcopenia pode ser considerada um fenômeno constante no envelhecimento (3). Na maioria dos idosos, é multifatorial, o que dificulta a classificação de cada indivíduo como primário e/ou secundário (3).
Sabe-se que a subnutrição e a desnutrição causam a diminuição da síntese proteica, desregulação das citocinas catabólicas e do TNF-α, propiciando a perda de massa e força muscular (2). Além disso, ocorre:
- Diminuição da atividade física (2).
- Aumento do estresse oxidativo (2).
- Diminuição dos níveis de hormônios sexuais, com consequente diminuição do trofismo muscular (2).
- Redução do hormônio do crescimento (GH) e aumento dos níveis séricos de IL-6 (2).
A sarcopenia é associada à atrofia das fibras musculares rápidas (tipo II) e à substituição por tecido adiposo com fibrose, resultando em diminuição da síntese proteica e redução de força e eficiência muscular (3).
Fatores de Risco para Agravamento
Dentre os principais fatores responsáveis pelo agravamento da sarcopenia, destacam-se:
- Diminuição da ingestão alimentar (3).
- Aumento do catabolismo muscular (3).
- Inatividade física (3).
- Sedentarismo.
- Balanço proteico negativo.
- Inflamação.
- Dieta hipocalórica.
- Disfunção mitocondrial.
- Resistência à insulina (aumento da proteólise).
- Baixos níveis de hormônios anabólicos (testosterona, GH, IGF-1, DHEA).
- Fatores genéticos.
- Consumo excessivo de álcool e fumo.
Consequências e Doenças Associadas
Dentre as consequências, a alteração da mobilidade e do equilíbrio, repercutindo em uma prevalência aumentada de quedas e fraturas, é um dos principais problemas (3).
A sarcopenia é uma das variáveis utilizadas para a definição da síndrome de fragilidade do idoso, que confere maior risco para quedas, fraturas, incapacidade, dependência, hospitalização e morte (2).
Dinapenia
A dinapenia, que é a queda da força, merece destaque, pois a redução da força muscular ocorre de 2 a 5 vezes mais rápido do que a perda da massa muscular. Essa queda da força pode agravar a perda da massa muscular.
Obesidade Sarcopênica
A obesidade sarcopênica é uma condição na qual o excesso de gordura e peso influencia negativamente a saúde e a mobilidade, sendo um fator a ser considerado no manejo da sarcopenia (3).
Diagnóstico da Sarcopenia
O diagnóstico da sarcopenia envolve a avaliação de múltiplos parâmetros:
- Questionário de força/função.
- Índice de Massa Muscular Esquelética (SMIM):
- Massa muscular esquelética estimada / altura².
- Homens: > 8,87 kg/m²
- Mulheres: > 6,42 kg/m²
- Força de Preensão Palmar (dinamômetro de mão):
- Homens: < 30 kg (indivíduos dinapênicos).
- Mulheres: < 20 kg (indivíduos dinapênicos).
- A avaliação da força de preensão palmar é um preditor válido para o declínio da cognição, mobilidade, status funcional e mortalidade em idosos.
- Circunferência de Panturrilha (CP):
- Uma CP < 31 cm é considerada o melhor indicador para a sarcopenia (3).
Subgrupos de Sarcopenia
- Pré-sarcopenia: O indivíduo mantém a força, mas já apresenta diminuição da massa muscular.
- Sarcopenia: Ocorre redução da massa e força muscular, embora nem sempre haja queda de “desempenho” (por exemplo, no teste de marcha).
- Sarcopenia severa: Caracterizada pela perda da massa muscular e da função, afetando todos os parâmetros e a qualidade de vida.
Tratamento da Sarcopenia
O tratamento da sarcopenia visa atenuar a progressão da perda muscular e melhorar a função física.
Exercícios de Resistência
Já ficou demonstrado que exercícios de resistência de alta intensidade são viáveis e eficazes contra a perda de massa muscular e de capacidade funcional (3). É considerada a intervenção mais efetiva em idosos (3). O uso de esteroides pode prevenir, se bem indicado, porém, a forma mais útil de prevenção da perda muscular é a prática de exercícios de resistência.
Terapia Nutricional
- Dieta hiperproteica: O consumo adequado de proteínas é um fator protetor contra a sarcopenia (3).
- Alimentos anti-inflamatórios: Uma dieta rica em alimentos anti-inflamatórios, como o ômega-3, é benéfica (3).
- Controle da resistência à insulina: O aumento da resistência à insulina ocasiona a redução da ação da insulina na musculatura, o que pode contribuir para o catabolismo muscular (3).
- Ajuste do peso: Emagrecimento, se necessário, especialmente em casos de obesidade sarcopênica (3).
Suplementação Nutricional
- Creatina: A suplementação de creatina, isolada ou associada à atividade física, é uma das poucas estratégias nutricionais capazes de atenuar o processo de sarcopenia em idosos (1). Foi observado que a suplementação de creatina foi capaz de reduzir a fadiga em idosos, aumentar a força e melhorar o desempenho físico em diversos testes funcionais e de potência (1). Além disso, a suplementação associada ao treinamento de força provocou ganhos aditivos de massa muscular, força e capacidade física em relação ao grupo que realizou apenas o treinamento físico (1). Alguns autores demonstraram que a creatina parece estimular fatores de transcrição e regulação de genes envolvidos no ganho de massa muscular (1). Também foi visto que a suplementação pode ser capaz de aumentar a proliferação de células satélites, as quais participam do processo de hipertrofia muscular (1). A dose recomendada é de 5g/dia (1).
- Ômega-3: O consumo de ômega-3, de 1-3g/dia, é recomendado por seu efeito anti-inflamatório, o que é um fator protetor contra a sarcopenia (3).
Reposição Hormonal
A reposição hormonal ainda não tem uma segurança de longo prazo bem definida (3), e é necessário cuidado com o hormônio a ser utilizado. O GH já foi estudado, mas não ocasionou ganho de força (3). Idosos apresentam uma resistência anabólica, principalmente devido a restrições hormonais, perdendo maior quantidade de massa muscular.
Referências Bibliográficas
- GUALANO, B. Suplementação de Creatina. 1. ed. São Paulo: Manole, 2014. 157 p.
- SILVA, M. de L. do N.; MARUCCI, M. de F. N.; ROEDIGER, M. de A. Tratado de Nutrição em Gerontologia. 1. ed. Barueri: Manole, 2016. 507 p.
- RIBAS FILHO, D.; SUEN, V. M. M. Tratado de Nutrologia. 2. ed. Santana de Parnaíba: Manole, 2019. 646 p.