Óleo de Coco: Composição, Efeitos no Organismo e Recomendações
Introdução
O óleo de coco tem sido alvo de intenso debate na comunidade científica e entre o público geral devido às suas alegações de benefícios à saúde. No entanto, é crucial analisar sua composição e os efeitos comprovados no organismo para uma compreensão baseada em evidências.
Composição do Óleo de Coco
A gordura presente no óleo de coco é composta por aproximadamente 90% de ácidos graxos saturados (1). Desses, cerca de 25% são ácidos graxos de cadeia longa (1).
É importante notar que, embora 50% de sua composição seja quimicamente classificada como ácidos graxos de cadeia média, biologicamente, eles não se comportam da mesma forma que os triglicerídeos de cadeia média (TCM) utilizados em estudos que demonstram efeitos positivos (1). Esses ácidos graxos no óleo de coco agem de maneira similar aos ácidos graxos de cadeia longa (1).
Estudos que apontam efeitos benéficos dos TCM geralmente utilizam como base o ácido caprílico (C8:0) ou o ácido cáprico (C10:0) (1). No óleo de coco, a concentração desses ácidos graxos é de apenas 7% e 5%, respectivamente (1). O principal componente do óleo de coco é o ácido láurico (C12:0), um ácido graxo de cadeia média que, no entanto, é responsável pelo aumento tanto do LDL-C (colesterol de lipoproteína de baixa densidade) quanto do HDL-C (colesterol de lipoproteína de alta densidade) (2).
Efeitos do Óleo de Coco no Organismo
O consumo de óleo de coco demonstra a capacidade de aumentar o LDL-C e o colesterol total. Isso ocorre porque o óleo de coco serve como substrato para a síntese de apolipoproteína A1 (apoA1) e apolipoproteína A2 (apoA2), que são moléculas-chave na formação de HDL-C e LDL-C, respectivamente (2, 3).
Comparativamente, óleos vegetais como os de soja, milho, chia e girassol têm se mostrado melhores promotores de saúde do que o óleo de coco (2).
Apesar do aumento do HDL-C observado com o consumo de óleo de coco, esse efeito pode não ser clinicamente relevante devido ao concomitante aumento do consumo de gorduras saturadas (2). O baixo aumento de HDL-C (2 a 4 mg/dL) com a ingestão elevada de óleo de coco é questionável em termos de benefício cardiovascular (2). De fato, uma meta-análise envolvendo 16 estudos revelou que o consumo de óleo de coco foi capaz de aumentar o colesterol LDL-C mais do que outros óleos vegetais (1). Esforços para reduzir riscos cardiovasculares por meio do aumento de HDL-C, mesmo com o aumento efetivo de HDL, não resultaram em redução do risco (1). O consumo de óleo de coco, contudo, não resultou em alterações nos níveis de triglicerídeos (1).
O óleo de coco não demonstrou eficácia como estratégia para a perda de peso, termogênese ou para o aumento da saciedade (sendo este último um ponto controverso na literatura) (2). Em relação à inflamação, o óleo de coco não se mostrou diretamente inflamatório (não alterou a PCR), mas é proposta uma inflamação de longo prazo devido às gorduras saturadas; essa questão também é controversa (2).
Isoladamente, o óleo de coco não melhora biomarcadores cardiometabólicos (2). O leite de vaca com aveia, por exemplo, é considerado superior ao óleo de coco, com uma literatura científica muito mais significativa a seu favor (2). Para que um alimento seja considerado termogênico, deve-se observar um aumento na temperatura corporal ou na calorimetria indireta; o óleo de coco não gerou mudanças nesses parâmetros (2).
É importante notar que o ponto de fumaça do óleo de coco é de 177ºC, sendo inferior ao de outros óleos (2). Apesar de se mostrar melhor do que a manteiga, o óleo de coco ainda é considerado uma opção menos favorável em termos de saúde cardiovascular (2).
Conclusão
Até o momento, não há evidências científicas robustas que sustentem benefícios significativos do consumo de óleo de coco para a melhora da adiposidade, glicemia ou marcadores inflamatórios (1). A recomendação geral continua sendo a de limitar o consumo de gorduras saturadas a no máximo 10% da ingestão calórica total (1).
Referências Bibliográficas
- ROBINSON, J. G. Lipid update 2020 – Introduction and foreword. Progress in Cardiovascular Diseases, 2019. DOI: 10.1016/j.pcad.2019.11.006.
- SANTOS, H. O.; HOWELL, S.; EARNEST, C. P.; TEIXEIRA, F. J. Coconut oil intake and its effects on the cardiometabolic profile – A structured literature review. Progress in Cardiovascular Diseases, 2019.
- NEELAKANTAN, N.; SEAH, J. Y. H.; VAN DAM, R. M. The Effect of Coconut Oil Consumption on Cardiovascular Risk Factors: A Systematic Review and Meta-Analysis of Clinical Trials. Circulation, 2020. DOI: 10.1161/circulationaha.119.043052.