Saúde Mental: Conceituação, Áreas e Influências Nutricionais

Introdução

A crescente compreensão da interconexão entre dieta e saúde mental tem elevado a nutrição a um papel de destaque na abordagem de doenças psiquiátricas. A função cerebral é intrinsecamente influenciada por fatores dietéticos e metabólicos, ressaltando a importância de uma alimentação adequada para o bem-estar mental.

Nutrição e Função Cerebral

Na vida adulta, a função cerebral é sensivelmente afetada por desordens metabólicas, como a obesidade e o diabetes. Alguns estudos sugerem que o aumento da prevalência de obesidade pode estar correlacionado a um aumento futuro nos casos de demência (2). Diversas meta-análises confirmam uma relação direta entre a qualidade da dieta e a saúde mental (2).

Dieta Mediterrânea e Saúde Cerebral

A Dieta Mediterrânea, caracterizada pelo elevado consumo de gorduras monoinsaturadas (ex: azeite), vegetais, frutas, proteínas vegetais, grãos integrais e peixes, e um baixo consumo de carnes vermelhas, grãos refinados e doces, está associada a um menor declínio cognitivo (2). Além disso, a adesão a este padrão alimentar é capaz de modificar a microbiota intestinal, exercendo um efeito antidepressivo por meio da intrincada relação intestino-cérebro (2).

Gorduras e Função Cerebral

Cerca de 50% dos ácidos graxos presentes no cérebro são poli-insaturados (PUFAs), destacando-se o ácido araquidônico (20:4n-6) e o ácido docosaexaenoico (DHA; 22:6n-3) (2). O DHA é um fator crucial na regulação das funções sinápticas glutamatérgicas, essenciais para a plasticidade e capacidade cognitiva. Ele também promove a diferenciação neuronal e influencia a expressão gênica no cérebro (2).

Vitaminas do Complexo B

A deficiência de vitaminas do complexo B tem sido implicada em diversas desordens mentais (2). Entre essas vitaminas, a B6, B9 (folato) e B12 são as mais estudadas e de maior relevância para a saúde neurológica (2).

Vitamina D

A vitamina D é frequentemente referida como “o negligenciado neuroesteroide”, dada a presença de receptores específicos de vitamina D no cérebro e sua função essencial no desenvolvimento cerebral (2).

Micronutrientes Essenciais

Ferro: Um micronutriente fundamental para o desenvolvimento cerebral, a mielinização e a neurotransmissão (2).
Zinco: Desempenha um papel primordial no desenvolvimento neural, atuando na neurogênese, migração neuronal, gênese sináptica, mielinização e modulação da sinalização intra e intercelular (2).
Iodo: É necessário para a síntese dos hormônios da tireoide, os quais são indispensáveis para a migração neuronal e a mielinização do cérebro durante as fases fetal e pós-natal (2). Estudos indicam que mesmo a deficiência moderada de iodo pode causar danos à função cognitiva e neurológica (2).

Definição de Saúde Mental

Não há um consenso universal sobre a definição de saúde mental (1). Apesar de ser amplamente reconhecida a importância da saúde mental, especialmente entre os jovens, ainda não há clareza sobre as “áreas” específicas que devem ser consideradas e aprimoradas (1).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como: “um estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza suas próprias habilidades, consegue lidar com o estresse normal da vida, consegue trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir para sua comunidade” (1). Este conceito implica que a mera ausência de transtornos mentais não é suficiente para caracterizar uma pessoa como mentalmente saudável (1). Inversamente, a presença de uma condição mental não significa que o indivíduo não seja mentalmente saudável, pois ele pode estar plenamente saudável em outras “áreas” consideradas importantes na saúde mental (1).

Inclusive, um certo grau de desconforto mental (como leve ansiedade ou depressão) pode ser considerado construtivo, pois pode fomentar o amadurecimento pessoal e o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento adaptativas, dado que todos os indivíduos enfrentarão momentos de luto, isolamento e ausência de sentido em suas vidas (1).

Áreas da Saúde Mental

Para uma compreensão mais abrangente da saúde mental, diversas áreas são consideradas:

“Alfabetização” em Saúde Mental: Refere-se à capacidade de entender o próprio estado de saúde mental e os fatores que o influenciam (1). Este é um determinante importante que pode não apenas melhorar fatores relacionados à saúde, mas também empoderar o indivíduo e reduzir desigualdades (1).
Atitude em Relação aos Transtornos Mentais: Descreve a postura individual em relação aos transtornos mentais e como se reage ao se deparar com uma desordem mental (1). Muitos estigmas associados a essas condições podem levar a atitudes negativas ou à discriminação (1).
Autopercepção e Valores: São as ideias, valores e crenças sobre o que é benéfico ou prejudicial para o indivíduo (1). A autopercepção refere-se à coleção de crenças subjetivas sobre as próprias características (1). A capacidade de autopercepção auxilia as pessoas a reconhecerem seus méritos, valorizarem-se, melhorando a autoestima e proporcionando uma apreciação da vida (1).
Habilidades Cognitivas: A cognição é a capacidade de processar informações e reagir a elas (1). As habilidades cognitivas são fatores latentes essenciais para a cognição, o aprendizado e a memória (1). Elas permitem que os indivíduos retenham e organizem informações, além de racionalizar e tomar decisões com base no conhecimento adquirido (1).
Desempenho Acadêmico/Ocupacional: Engloba o conhecimento objetivo, o comportamento, o desempenho avaliado no ambiente escolar ou de trabalho, a adaptação ao local e às pessoas, e a capacidade de adaptação geral (1).
Emoções: Embora não detalhadas na definição original fornecida, as emoções são um componente intrínseco da saúde mental, englobando a capacidade de reconhecer, expressar e regular sentimentos, bem como de lidar com adversidades emocionais.

Referências Bibliográficas

FUSAR-POLI, P. et al. What is good mental health? A scoping review. European Neuropsychopharmacology, v. 31, p. 33–46, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.euroneuro.2019.12.105.
EKSTRAND, B. et al. Brain foods – The role of diet in brain performance and health. Nutrition Reviews, v. 79, n. 6, p. 693–708, 2021.