Adoçantes: Classificação, Efeitos Fisiológicos e Implicações para a Saúde


Adoçantes: Classificação, Efeitos Fisiológicos e Implicações para a Saúde


Introdução

Os adoçantes, tanto nutritivos quanto não nutritivos, são compostos quimiossensoriais que exercem influência significativa no comportamento alimentar e nos processos de ingestão. Este documento detalha a classificação dos adoçantes, seus efeitos fisiológicos, a interação com receptores de sabor e as implicações para a saúde, especialmente em relação à obesidade e ao diabetes.


Classificação e Características dos Adoçantes

Os adoçantes não nutritivos ou artificiais são compostos ecologicamente novos que atuam como sinalizadores quimiossensoriais, influenciando o comportamento e os processos de ingestão (3). Muitos desses adoçantes possuem poucas ou nenhuma caloria, o que lhes confere o potencial de moderar a ingestão calórica total enquanto preservam a palatabilidade da dieta (3).

A substituição de um adoçante nutritivo por um não nutritivo pode resultar em maior ingestão calórica no curto prazo. Contudo, ainda faltam evidências robustas sobre a eficácia dessa substituição no controle de peso a longo prazo (3).

Substitutos Naturais do Açúcar

Os substitutos naturais do açúcar incluem uma variedade de compostos, com diferentes níveis de doçura em comparação com a sacarose (3):

  • Brazína: Proteína, 800 vezes mais doce por peso.
  • Curculina: Proteína, 550 vezes mais doce por peso.
  • Eritritol: 0,7 vezes mais doce por peso; 14 vezes mais doce por energia do alimento.
  • Frutose: 1,7 vezes mais doce por peso e por energia do alimento.
  • Glicirrizina: 50 vezes mais doce por peso.
  • Isomalte: 0,45-0,65 vezes mais doce por peso; 0,9-1,3 vezes mais doce por energia do alimento.
  • Lactitol: 0,4 vezes mais doce por peso; 0,8 vezes mais doce por energia do alimento.
  • Lo Han Guo (Mogroside): Triterpenoide tipo cucurbitano extraído da fruta Siraitia grosvenorii, 300 vezes mais doce por peso (250 a 450 vezes a doçura da sacarose, dependendo da concentração) (1, 3).
  • Mabinlin: Proteína, 100 vezes mais doce por peso.
  • Maltitol: 0,9 vezes mais doce por peso; 1,7 vezes mais doce por energia do alimento (E965) (3).
  • Manitol: 0,5 vezes mais doce por peso; 1,2 vezes mais doce por energia do alimento (E421) (3).
  • Monelina: Proteína, 3000 vezes mais doce por peso.
  • Pentadina: Proteína, 500 vezes mais doce por peso.
  • Sorbitol: 0,6 vezes mais doce por peso; 0,9 vezes mais doce por energia do alimento (E420) (3).
  • Estévia: Adoçante natural extraído da Stevia Rebaudiana, 250 vezes mais doce por peso. Inclui esteviosídeo (300 vezes mais potente que a sacarose) e rebaudiosídeo (450 vezes mais potente que a sacarose) (1, 3).
  • Tagatose: 0,92 vezes mais doce por peso; 2,4 vezes mais doce por energia do alimento.
  • Taumatina: Proteína, 2000 vezes mais doce por peso (E957) (3).
  • Xilitol: 1 vez mais doce por peso; 1,7 vezes mais doce por energia do alimento.

Substitutos Artificiais do Açúcar

Os substitutos artificiais do açúcar são compostos sintéticos com alto poder adoçante (3):

  • Acesulfame de Potássio: 200 vezes mais doce por peso (E950), aprovado pela FDA em 1988 (3).
  • Aspartame: 160-200 vezes mais doce por peso (E951), aprovado pela FDA em 1981 (3).
  • Dulcin: 250 vezes mais doce por peso, aprovado pela FDA em 1950 (3).
  • Neotame: 8000 vezes mais doce por peso, aprovado pela FDA em 2002 (3).
  • P-4000: 4000 vezes mais doce por peso, banido pela FDA em 1950 (3).
  • Sacarina: 300 vezes mais doce por peso (E954), aprovado pela FDA em 1958 (3).
  • Sucralose: 600 vezes mais doce por peso (E955), aprovada pela FDA em 1998 (3).

Observação: Os números precedidos da letra “E” em embalagens de alimentos são códigos utilizados para identificar aditivos alimentícios, incluindo adoçantes, corantes, aromatizantes e conservantes (3).


Fisiologia da Percepção do Doce

A preferência por gostos doces em animais baseia-se na sinalização de que o alimento é uma potencial fonte de calorias e nutrientes (1). Os adoçantes oferecem um alto grau de doçura com uma redução significativa na oferta calórica (1).

Recentemente, foram identificados os receptores do sabor doce, que não se limitam apenas ao paladar. Eles desempenham funções cruciais na homeostase da glicose, na secreção de hormônios como as incretinas, e em outras regulações fisiológicas, representando uma possível linha terapêutica no tratamento da obesidade e do diabetes (1).

Em mamíferos, existem duas famílias de receptores acoplados à proteína G envolvidas na detecção de sabores: a do tipo 1 (T1Rs) e a do tipo 2 (T2Rs) (1).

  • T1Rs: Envolvida na detecção do sabor doce e umami (1).
  • T2Rs: Contribui para detectar moléculas que sinalizam o sabor amargo (1).
  • Canais de íons: Detectam os sabores salgado e azedo (1).

A sensação do gosto doce é mediada por dois heterodímeros de subunidades T1Rs: o T1R2 e o T1R3 (1). É sugerido que os receptores T1R2/T1R3, presentes na língua e em outros órgãos, não apenas sinalizam o sabor, mas também estão envolvidos na percepção da glicose, na expressão de transportadores de glicose, na secreção hormonal e na manutenção da homeostase (1).

Esses receptores são expressos nas células β-pancreáticas, onde respondem à ingestão de açúcar secretando insulina (1). Em condições normais, o açúcar interage com o receptor nas células β, promovendo a liberação de insulina. Contudo, níveis elevados de glicose tendem a diminuir a expressão desses receptores nas células, o que interfere na liberação de insulina (1).


Recomendações e Implicações para a Saúde

A Food and Drug Administration (FDA) estabeleceu uma Ingestão Aceitável (AI) de 5 mg/kg para alguns adoçantes (2).

Obesidade e Diabetes

Alguns estudos epidemiológicos sugerem que o consumo de alimentos açucarados pode ser um fator relevante no ganho de gordura devido ao excesso de energia ingerida (1). No entanto, estudos sobre o consumo prolongado de adoçantes não calóricos e seu impacto na intolerância à glicose, especificamente no diabetes tipo 2, são complexos e ainda controversos. Embora algumas pesquisas apontem para uma relação com o aumento do acúmulo de gordura (1) e alterações na microbiota (1, 2), a evidência definitiva ainda está em desenvolvimento.

O uso prolongado de adoçantes com baixa ou sem calorias pode não ser tão eficaz no controle de peso. Apesar de adicionarem poucas calorias, podem potencialmente aumentar o apetite e promover um aumento na ingestão calórica total, levando ao ganho de peso e à obesidade (1).

Nos EUA, a recomendação dietética é restringir o açúcar adicionado a menos de 10% da ingestão energética total (GET), com o objetivo de reduzir problemas de saúde pública (1).

Microbiota Intestinal

Um estudo demonstrou alterações na microbiota intestinal, principalmente com o uso da sacarina em diversas doses (2). Essa alteração na microbiota foi associada à indução de resistência à insulina, comparável àquela gerada pelo açúcar a longo prazo (2). No entanto, é fundamental destacar que a dosagem de adoçante utilizada nesse estudo foi a Ingestão Diária Aceitável (ADI), que é consideravelmente alta e pode não refletir o consumo habitual na realidade (2).


Referências Bibliográficas

  1. JIAO, Y.; WANG, Y. The effects of sweeteners and sweetness enhancers on obesity and diabetes: a review. J Food Bioact., v. 4, p. 107–116, 2018.
  2. SUEZ, J. et al. Artificial sweeteners induce glucose intolerance by altering the gut microbiota. Nature, [s. l.], v. 514, n. 7521, p. 181–186, 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/nature13793.
  3. JEUKENDRUP, A. E.; GLEESON, M. Nutrição no esporte: Diretrizes nutricionais e bioquímica e fisiologia do exercício. 3. ed. São Paulo: Manole, 2021. 559 p.

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