Fases do Desenvolvimento Cognitivo e Julgamento Moral na Adolescência
Introdução
A adolescência é um período de intensas transformações, não apenas físicas, mas também cognitivas e morais. Embora o pensamento adolescente possa apresentar imaturidades, essa fase é marcada pela emergência de capacidades de raciocínio abstrato, julgamentos morais sofisticados e um planejamento futuro mais realista.
Desenvolvimento Cognitivo na Adolescência
Paralelamente às mudanças físicas, ocorrem significativas transformações no pensamento dos adolescentes.
Piaget – Operações Formais
Segundo Jean Piaget, o desenvolvimento intelectual processa-se por meio de uma série de estágios, cada um identificado por uma estrutura cognitiva específica. Os quatro estágios principais destacados por Piaget são:
- Sensório-motor
- Pré-operatório
- Operações Concretas (7-12 anos)
- Operações Formais (>12 anos)
O nível mais elevado de desenvolvimento cognitivo é o das operações formais, geralmente alcançado por volta dos 11 anos. Esta etapa confere uma nova e mais flexível maneira de manipular informações, permitindo aos adolescentes imaginar possibilidades, gerar hipóteses e utilizar símbolos para representar outros símbolos (por exemplo, empregar X e Y em equações) (1).
Para Piaget, as transformações emocionais que ocorrem na adolescência dependem das transformações cognitivas. Uma das grandes mudanças no estágio operatório formal é o surgimento do pensamento hipotético-dedutivo (1). Estudos microgenéticos atuais, que avaliam o comportamento e a resolução de problemas, confirmaram a análise de Piaget sobre as diferenças entre as operações concretas e as formais. Segundo ele, essa transição é resultado de uma combinação de maturação cerebral e expansão das oportunidades ambientais (1). Piaget reconheceu que a escolaridade e a cultura podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento humano.
Elkind – Imaturidade do Adolescente
Inspirado nos trabalhos de Piaget, David Elkind caracterizou as atitudes e comportamentos imaturos que podem surgir do pensamento abstrato dos adolescentes, destacando algumas atitudes observáveis (1):
- Tendência a Discutir: Adolescentes buscam constantemente oportunidades para testar e exibir suas recém-descobertas habilidades de raciocínio.
- Indecisão: Muitos adolescentes enfrentam dificuldades para tomar decisões, sejam elas simples, escolhas pessoais ou dilemas mais complexos.
- Encontrar Defeitos em Figuras de Autoridade: Os adolescentes percebem que os adultos, antes idealizados, estão aquém de seus ideais.
- Hipocrisia Aparente: Jovens adolescentes, muitas vezes, não reconhecem a diferença entre expressar um ideal e fazer os sacrifícios necessários para vivê-lo, embora atitudes altruístas e de heroísmo sejam comuns nesse período.
- Autoconsciência (Público Imaginário): Opera como um “observador” mentalmente criado, excessivamente preocupado com os pensamentos e comportamentos do próprio adolescente. Eles frequentemente presumem que todos estão pensando sobre o mesmo que eles, ou seja, sobre si mesmos. A fantasia do público imaginário é particularmente forte nos primeiros anos da adolescência.
- Suposição de Invulnerabilidade (Fábula Pessoal): Refere-se à crença dos adolescentes de que são especiais, que sua experiência é única e que não estão sujeitos às regras que regem o resto do mundo. Segundo Elkind, esse tipo de egocentrismo está na base de muitos comportamentos arriscados e autodestrutivos.
Julgamento Moral
O desenvolvimento moral, conforme proposto na teoria de Lawrence Kohlberg, apresenta semelhanças com a teoria de Piaget, mas é um modelo mais complexo. Kohlberg estabelece três níveis de julgamento moral, cada um dividido em dois estágios.
Níveis de Julgamento Moral (Kohlberg)
- Nível 1: Moralidade Pré-Convencional
- Neste nível, as pessoas agem sob controle externo: obedecem a regras para evitar punições, para obter recompensas ou por interesse próprio. É típico de crianças de 4 a 10 anos (1).
- Nível 2: Moralidade Convencional (ou Moralidade de Conformidade ao Papel Convencional)
- As pessoas internalizam os padrões de figuras de autoridade, preocupando-se em ser “boas”, em agradar aos outros e em manter a ordem social. Este nível é geralmente alcançado após os 10 anos; muitas pessoas nunca o superam, mesmo na idade adulta (1).
- Nível 3: Moralidade Pós-Convencional (Moralidade dos Princípios Morais Autônomos)
- As pessoas reconhecem conflitos entre os padrões morais e fazem seus próprios julgamentos com base nos princípios de correção, imparcialidade e justiça. Este nível de julgamento moral é geralmente atingido apenas no início da adolescência ou, mais comumente, no início da idade adulta, podendo nunca ser alcançado (1).
- Observação: Posteriormente, Kohlberg acrescentou um nível de transição entre os níveis 2 e 3, que se refere a momentos em que as pessoas não se sentem mais tão limitadas pelos padrões morais da sociedade, mas ainda não conseguem desenvolver princípios de justiça de origem racional. Em vez disso, baseiam suas decisões morais em sentimentos pessoais (1).
Referências Bibliográficas
- PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento Humano. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2022. v. 1.