Infecção por HIV/AIDS: Aspectos Fisiopatológicos, Clínicos e Nutricionais
Introdução
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma condição crônica e grave causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Caracterizada pela progressiva depleção do sistema imunológico, a infecção por HIV acarreta um amplo espectro de manifestações clínicas, desde estágios assintomáticos até o desenvolvimento de infecções oportunistas e desnutrição severa. A compreensão de sua fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e manejo nutricional é crucial para a melhoria da qualidade de vida e sobrevida dos pacientes.
Agente Etiológico e Transmissão
O agente etiológico da AIDS é o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) (1). A principal via de transmissão é o contato sexual (1). A transmissão sanguínea contribui para menos de 20% dos casos, e a transmissão perinatal (de mãe para filho) ocorre em 3-5% dos casos (1).
Fisiopatologia
A AIDS está intrinsecamente relacionada à depleção dos linfócitos T auxiliadores CD4+ no sangue periférico (1). A molécula CD4, presente na superfície desses linfócitos (T4), parece funcionar como o principal receptor celular para o HIV (1). A depleção progressiva do pool de células CD4+, somada a outras alterações do sistema imune, leva ao estado de imunodeficiência (1).
Diagnóstico
O teste imunoenzimático ou ELISA é o método diagnóstico mais utilizado para o HIV, devido à sua boa sensibilidade, especificidade, praticidade, baixo custo e facilidade de automação (1).
Classificação da AIDS (Segundo o CDC)
A progressão da infecção por HIV é classificada em estágios com base na contagem de células CD4+ e na sintomatologia:
Estágio Inicial
- Contagem de células CD4+: > 500 células/mm3 (1).
- Sintomatologia: Pode incluir dermatite e linfadenopatia (1).
- Declínio da contagem de CD4+: Na faixa de 50 células/ano (1).
Estágio Intermediário
- Contagem de células CD4+: Entre 200-500 células/mm3 (1).
- Sintomatologia: Candidíase oral e vaginal, neuropatia periférica, displasia cervical, herpes-zóster e febre (1).
Estágio Final
- Contagem de células CD4+: < 200 células/mm3 (1).
- Sintomatologia: Infecções oportunistas (IO), doenças neurológicas, tumores, entre outros (1).
Acompanhamento Laboratorial
Pacientes infectados devem ter seus níveis imunológicos avaliados regularmente (1). Para indicar o tratamento, é realizada a quantificação da carga viral e a quantificação da subpopulação de linfócitos (1).
Tratamento Antirretroviral (TARV)
Evidências recentes demonstram que, mesmo em pacientes assintomáticos com contagem elevada de LT-CD4+, a replicação viral e a ativação imune crônica estão associadas ao desenvolvimento de doenças não tradicionalmente relacionadas ao HIV (1).
Indivíduos em uso de TARV que conseguem manter a contagem de LT-CD4+ acima de 500 células/mm3 e carga viral indetectável atingem uma expectativa de vida semelhante à da população em geral (1). Recentemente, observou-se uma redução da mortalidade com o início precoce do TARV (1). Diante disso, em 2013, o consenso brasileiro recomendou o início do TARV imediatamente após a confirmação da infecção viral, independentemente dos valores de CD4+ e carga viral (1).
A melhora do quadro clínico e imunológico, bem como a supressão viral, são os resultados esperados com o uso da medicação (1). No entanto, ainda podem ocorrer infecções oportunistas (IO) e/ou a síndrome inflamatória de reconstituição imune, bem como o desenvolvimento precoce de reações adversas às medicações, como hipersensibilidade, especialmente nos primeiros meses de tratamento (1).
Recomendações Nutricionais
Gasto Energético
As necessidades nutricionais podem ser drasticamente aumentadas devido à presença de infecções e febres (1).
Controle dos Sintomas
O manejo nutricional é fundamental para controlar diversos sintomas que afetam a ingestão alimentar e a qualidade de vida:
- Azia (1)
- Náuseas (1)
- Vômitos (1)
- Problemas Digestivos (1)
- Diarreia (1)
- Constipação (1)
- Gases (1)
- Alterações no paladar (1)
Desnutrição na AIDS
A desnutrição em pacientes com AIDS é caracterizada por:
- Perda ponderal maior que 10% do peso corporal (1).
- Diarreia crônica (>2 evacuações líquidas/dia por mais de 30 dias) (1).
- Enfraquecimento crônico (1).
- Febre por mais de 30 dias (intermitente ou constante) (1).
- Perda de massa muscular, conhecida como síndrome consumptiva (1). Cerca de 30% dos indivíduos apresentam uma perda de 10-15% da massa magra, com um prognóstico de mortalidade de 80% em 1 ano (1).
Prevalência
Dados do Ministério da Saúde revelaram uma prevalência de 734 mil pessoas infectadas no Brasil em 2014, representando uma prevalência de 0,14% na população (1).
Referências Bibliográficas
- SILVA, S. M. C. S.; MURA, J. D. P. Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia. 3. ed. São Paulo: Editora Pitaya, 2016. 1308 p.