Avaliação da Composição Corporal: Métodos e Interpretações


Avaliação da Composição Corporal: Métodos e Interpretações


Introdução

A avaliação da composição corporal é uma ferramenta essencial na prática clínica e esportiva, permitindo a quantificação dos diferentes componentes que formam o corpo humano. Não existe um método universalmente superior, sendo crucial considerar as vantagens, limitações e custos de cada técnica ao selecionar a mais apropriada para cada indivíduo.


Conceitos Básicos da Composição Corporal

A composição corporal pode ser analisada por diferentes modelos compartimentais:

Análise por Dois Compartimentos (2C)

Neste modelo, o corpo é dividido em:

  • Massa Corporal Total = Massa Gorda + Massa Livre de Gordura (3).
  • Massa Gorda: Refere-se à gordura subcutânea, excluindo a gordura visceral (3).
  • Massa Livre de Gordura (MLG): Compreende todos os outros componentes corporais, como água, proteínas, minerais, tecido ósseo, tecidos moles e glicogênio (3).

Análise por Quatro Compartimentos (4C)

Considerado mais preciso, este modelo requer medidas adicionais (dobras cutâneas, circunferências e diâmetro ósseo) e divide o corpo em:

  • Massa Gorda: Principalmente a gordura subcutânea.
  • Massa Muscular: Inclui glicogênio e água intramuscular.
  • Tecido Ósseo.
  • Massa Residual: Abrange órgãos internos, gordura visceral e sangue.

Métodos de Avaliação da Composição Corporal

Os métodos de avaliação da composição corporal são classificados em diretos, indiretos e duplamente indiretos:

  • Métodos Diretos: São os mais precisos, como a dissecção de cadáveres. Servem como referência para a validação de outros métodos.
  • Métodos Indiretos: Considerados “padrão-ouro”, oferecem alta precisão e incluem:
    • DEXA (Absorciometria por Raios-X de Dupla Energia): O DEXA demonstrou o menor erro de estimativa (1). Esta técnica estima a composição corporal por meio de raios-X de alta e baixa intensidade. A atenuação dos raios varia conforme a densidade dos tecidos: tecidos moles (gordura, músculo, água) permitem maior passagem, enquanto o tecido ósseo atenua mais os raios.
      • O DEXA, ou DXA, é um modelo de 3 compartimentos capaz de medir composição mineral óssea, massa magra e massa gorda através de varredura de raios-X em diferentes intensidades (2, 3). No entanto, pode haver erros subjetivos na avaliação devido a variações na hidratação, glicogênio e creatina muscular, que podem ser significantes em atletas (2).
      • É uma técnica que expõe o paciente a uma baixa dose de radiação.
      • Permite determinar a quantidade de gordura corporal (em kg), a porcentagem de gordura e o Índice de Massa Gorda (IMG), calculado dividindo-se a massa gorda (kg) pela altura ao quadrado. Um IMG entre 3-6 para homens e 5-9 para mulheres é considerado normal.
      • Também possibilita a estimativa da quantidade de gordura visceral e da relação de gordura androide/ginecoide (A/G). Uma relação A/G > 1 indica um padrão de distribuição de gordura mais androide, associado a um maior risco de doenças metabólicas e cardiovasculares.
      • O acompanhamento anual via DEXA pode ser interessante. O custo do aparelho é elevado, mas o exame geralmente tem um custo acessível ao paciente.
    • Ressonância Magnética (RM) e Tomografia Computadorizada (TC): Estes métodos fornecem avaliações mais detalhadas, como a infiltração de gordura nos tecidos e a gordura visceral. Contudo, a TC expõe o paciente a doses elevadas de radiação.
    • Bod Pod (Pletismografia por Deslocamento de Ar): Um exame que mede o deslocamento do ar para estimar a massa magra e massa gorda (3).
    • Densitometria Hidrostática: Uma pesagem realizada em ambiente aquático, capaz de estimar a massa corporal e a massa adiposa (3).
  • Métodos Duplamente Indiretos: Desenvolvidos a partir de validações com métodos indiretos, são práticos e de baixo custo, sendo amplamente utilizados na prática clínica.
    • Dobras Cutâneas: Considerado um método simples e bastante preciso para avaliar a gordura subcutânea com o auxílio de um plicômetro, fornecendo uma estimativa de massa magra e massa gorda (3). As dobras cutâneas tendem a sofrer menos alterações em curtos períodos, não sendo influenciadas por inchaço, edema ou ciclo menstrual.
    • Bioimpedância (BIA): Mede a resistência à passagem de uma corrente elétrica para estimar a água corporal, massa magra e massa adiposa (3). A bioimpedância e a densitometria óssea são métodos (modelos 2C) comuns na prática clínica devido ao seu baixo custo relativo e natureza não invasiva (2). É importante ressaltar que balanças de bioimpedância como a Inbody podem superestimar a massa magra, mas tendem a manter a estimativa da massa gorda aceitável.

Interpretação de Resultados e Considerações Gerais

  • Variações no Peso: Podem influenciar a massa magra, massa residual e massa gorda.
  • Fórmulas de %G: Ao utilizar fórmulas para definir o percentual de gordura (%G), o cálculo da massa livre de gordura (MLG) é derivado. Assim, se o %G apresentar alteração, a MLG também será afetada.
  • Associação de Medidas: Recomenda-se sempre associar a circunferência com as dobras cutâneas para uma avaliação mais completa.
  • Cavidades Ocas: Deve-se ter cautela com cavidades ocas, pois a presença de alimento pode gerar distensão e alterar as medidas.
  • Tempo de Reavaliação: Um período mínimo de 4 semanas é considerado adequado para observar mudanças significativas na composição corporal (massa gorda e massa magra) decorrentes de dieta e exercícios (2).
  • Atletas: Para atletas, não é recomendado fixar um valor ótimo de composição corporal universal, independentemente do esporte, pois as necessidades variam amplamente (1).

Referências Bibliográficas

  1. Communications, S. Nutrition and Athletic Performance. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 48, n. 3, p. 543–568, 2016.
  2. Aragon, A. A. et al. International Society of Sports Nutrition position stand: diets and body composition. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 14, n. 1, p. 1–19, 2017.
  3. Jeukendrup, A. E.; Gleeson, M. Nutrição no esporte – Diretrizes nutricionais e bioquímica e fisiologia do exercício. 3. ed. São Paulo: Manole, 2021. 559 p.

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