Azotemia: Conceito, Causas e Implicações na Função Renal


Azotemia: Conceito, Causas e Implicações na Função Renal


Introdução

A azotemia é uma condição clínica caracterizada pela elevação das escórias nitrogenadas no sangue, como a ureia, resultante de uma redução significativa da Taxa de Filtração Glomerular (TFG). Essa alteração pode ser aguda ou crônica e é um indicativo crucial de disfunção renal, demandando uma avaliação diagnóstica cuidadosa.


Definição e Causas da Azotemia

A azotemia é a elevação da Pcr (creatinina plasmática) que leva à retenção de escórias nitrogenadas (como a ureia), em decorrência de uma redução significativa da Taxa de Filtração Glomerular (TFG), seja aguda ou crônica (1).

A azotemia pode ser causada por (1):

  • Redução da perfusão renal: Diminuição do fluxo sanguíneo para os rins.
  • Doença renal intrínseca: Dano direto ao tecido renal.
  • Processos pós-renais: Obstrução do trato urinário (ex: obstrução ureteral).

A determinação exata da TFG é problemática, visto que tanto a ureia quanto a creatinina, embora comumente utilizadas, apresentam características que afetam sua acurácia como marcadores da depuração (1). A depuração da ureia pode subestimar significativamente a TFG devido à reabsorção tubular. Por outro lado, a creatinina deriva do metabolismo da creatina no músculo, e sua produção varia pouco de um dia para o outro (1).


Determinação e Monitoramento da TFG

A monitorização da TFG é importante tanto no contexto ambulatorial quanto no hospitalar, e para isso, dispõe-se de várias metodologias (1). A TFG constitui a principal medida da “função” renal, e sua aferição direta envolve a administração de um isótopo radioativo (como inulina ou iotalamato), que é filtrado do glomérulo para o espaço urinário sem ser reabsorvido nem secretado ao longo do trajeto tubular (1).

Na maioria das circunstâncias clínicas, contudo, não se dispõe de uma medição direta da TFG. Assim, o nível plasmático de creatinina (Pcr) é o marcador mais amplamente utilizado para estimar a TFG, estando relacionado diretamente com a excreção urinária de creatinina (Ucr) e inversamente com a Pcr (1).

Com base nessa relação, a TFG declina em proporção aproximadamente inversa à elevação da Pcr (1). Não levar em consideração as reduções da TFG no cálculo de doses de fármacos pode resultar em morbidade e mortalidade significativas em consequência dos efeitos tóxicos desses fármacos (ex: digoxina, imipeném) (1). No ambiente ambulatorial, a Pcr é utilizada como estimativa da TFG, embora seja muito menos precisa (1).

Em pacientes com doença renal crônica progressiva, existe uma relação aproximadamente linear entre 1/Pcr (eixo Y) e o tempo (eixo X) (1). A inclinação dessa linha mantém-se constante em determinado indivíduo; quando os valores sofrem desvio, deve-se iniciar uma investigação à procura de algum processo agudo sobreposto (ex: depleção de volume, reação medicamentosa) (1).

O desenvolvimento de sinais e sintomas de uremia, a síndrome clínica associada à insuficiência renal, ocorre com níveis de Pcr que variam significativamente, dependendo de fatores como peso, idade, sexo, presença de doença renal subjacente, coexistência de outras doenças e TFG efetiva (1). Em geral, os pacientes não desenvolvem uremia sintomática até que a insuficiência renal seja grave (TFG<15 mL/min) (1).


Referências Bibliográficas

  1. Jameson JL, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Longo DL, Loscalzo J. Medicina Interna de Harrison. 20. ed. Porto Alegre: ArtMed; 2021. 3522 p.