Capsaicina e Capsinóides: Mecanismos de Ação e Implicações Nutricionais


Capsaicina e Capsinóides: Mecanismos de Ação e Implicações Nutricionais


Introdução

A capsaicina (8-metil-N-vanilil-6-nonenamida) é a molécula responsável pela sensação de pungência característica das pimentas. Além de sua relevância sensorial, a capsaicina e os capsinóides, seus análogos não pungentes, têm sido investigados por seus potenciais efeitos no metabolismo energético e na composição corporal. Sua absorção ocorre de forma passiva, com um tempo médio de aproximadamente 1 hora.


Mecanismos de Ação

A capsaicina exerce seus efeitos fisiológicos através de múltiplos mecanismos:

  • Estimulação do Sistema Nervoso Central (SNC): A capsaicina age no SNC estimulando neurônios que secretam catecolaminas, como epinefrina e norepinefrina. Essas moléculas são reguladoras da via de sinalização da lipólise no tecido adiposo (1).
  • Termogênese e Oxidação Lipídica: Induz o aumento do consumo de oxigênio, da temperatura corporal e da oxidação de lipídios, além de ativar o circuito neuronal da dor (1).
  • Modulação Gênica: Genes como PPAR-γ, C/EBPα e leptina são negativamente modulados pela capsaicina. Por outro lado, a adiponectina é positivamente modulada, sugerindo um papel no aumento da lipólise (quebra de gordura) e na diminuição da lipogênese (formação de gordura) (1).

Recomendações Nutricionais e Fontes

A pimenta vermelha é uma fonte natural de capsaicina. Em média, 10g de pimenta vermelha contêm aproximadamente 30 mg de capsaicina, quantidade que já pode gerar um aumento significativo no gasto calórico (1). O Sistema Nervoso Simpático (SNS) pode apresentar estimulação com doses menores, a partir de 18 mg (1).

Para contextualizar o teor de capsaicina em diferentes pimentas:

  • Pimenta-malagueta: Apresenta cerca de 1,65 mg/g (1).
  • Pimenta-dedo-de-moça: Contém aproximadamente 0,28 mg/g (1).
  • Pimenta caiena: Varia entre 0,13 a 1,6 mg/g (1).

Apesar de ser considerada segura, a capsaicina, especialmente em indivíduos obesos, pode causar irritações no sistema gastrointestinal (1).


Suplementação

A suplementação de capsaicina e capsinóides pode ser uma estratégia. O extrato seco de Capsicum annuum (fruto), padronizado em 40% de capsinóides (capsiate), é uma opção, sendo interessante o uso de cápsulas gastrorresistentes para doses de 5-10 mg/dia.

Estudos sobre a suplementação demonstram:

  • Um estudo avaliou o uso de 9 mg de capsaicina/dia por 6 semanas e encontrou que a suplementação aumentou o gasto energético e gerou maior ativação do tecido adiposo marrom, com consequente redução da massa gorda (2). Foi constatado que a ingestão de capsinóides pode imitar os efeitos crônicos da exposição ao frio sobre o tecido adiposo marrom e sobre a gordura corporal em humanos (2).
  • Uma meta-análise revelou que a capsaicina ou os capsinóides foram capazes de aumentar o gasto energético (58,6 kcal/dia) e reduzir o quociente respiratório (indicando maior oxidação de gordura). As doses utilizadas neste estudo variaram de 1,25-135 mg/dia de capsaicina, 3-10 mg/dia de capsinóides, ou 1,03g de pimenta vermelha, com duração de 1 dose a 13 semanas (3).
  • Outra meta-análise encontrou um aumento de 33,9 kcal/dia na taxa metabólica de repouso, com maior oxidação de gordura. Os estudos avaliados utilizaram doses de 1,25-150 mg/dia de capsaicina, 3-12 mg/dia de capsinóides, ou 10-30g/dia de pimenta vermelha, com duração de até 12 semanas (4). Embora estatisticamente significativo, o aumento de 33 kcal/dia na taxa metabólica basal é considerado irrelevante na prática clínica.

Interação Droga-Nutriente

A capsaicina pode apresentar interações com medicamentos:

  • Inibidores da MAO: Pode interferir com essa classe de fármacos.
  • Drogas anti-hipertensivas: Devido ao aumento da secreção catecolaminérgica, a capsaicina pode interagir com essas drogas.
  • Metabolismo hepático: Pode aumentar o metabolismo de determinadas drogas a nível hepático.

Referências Bibliográficas

  1. LANCHA JR., A. H.; ROGERI, P. S.; PEREIRA-LANCHA, L. O. Suplementação Nutricional no Esporte. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. 266 p.
  2. YONESHIRO, T. et al. Recruited brown adipose tissue as an antiobesity agent in humans. J Clin Invest, v. 123, n. 8, p. 3404–8, 1 ago. 2013. Disponível em: http://www.jci.org/articles/view/67803.
  3. ZSIBÓRAS, C. et al. Capsaicin and capsiate could be appropriate agents for treatment of obesity: A meta-analysis of human studies. Crit Rev Food Sci Nutr, v. 58, n. 9, p. 1419–27, 13 jun. 2018. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/10408398.2016.1262324.
  4. IRANDOOST, P. et al. The effect of Capsaicinoids or Capsinoids in red pepper on thermogenesis in healthy adults: A systematic review and meta‐analysis. Phyther Res, v. 35, n. 3, p. 1358–77, 15 mar. 2021. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ptr.6897.

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