Coffea sp. (Café): Aplicações Nutricionais e Efeitos Fisiológicos
Introdução
O Coffea sp., conhecido popularmente como café, é uma das bebidas mais consumidas globalmente. Originário das sementes da planta do café, o Coffea sp. é composto por diversas substâncias bioativas que conferem a ele uma vasta gama de efeitos no organismo humano, indo muito além de seu conhecido papel estimulante.
Produção e Informações Nutricionais
Existem duas espécies principais de café comercializadas: a arábica (Coffea arabica), que representa 70% da produção mundial, e a Robusta (Coffea canephora var. Robusta), que detém cerca de 30% do mercado global (1).
Composição Nutricional
Uma xícara de 150 mL de infusão de café pode conter de 20 a 50 mg de cafeína, enquanto um café expresso (150 mL) pode ter cerca de 100 mg de cafeína por 100 mL, ou 114 mg no total. Além da cafeína, o café possui diversos outros compostos:
- Cafestol (2)
- Cafeuol (2)
- Ácidos Clorogênicos
- Polifenóis (2)
É importante notar que o modo de preparo do café pode alterar a composição das substâncias ingeridas, influenciando seus efeitos na saúde (2).
Ácido Clorogênico (ACGs)
Os ácidos clorogênicos (ACGs) são ácidos fenólicos abundantes no café, sendo a principal fonte na dieta ocidental. No Brasil, a erva-mate também contribui significativamente para a ingestão de ACGs (1). Outras fontes alimentares incluem maçã, pera, batata, mirtilo, kiwi, pêssego, ameixa e endívia (1).
- Uma xícara de café (200 mL) pode conter entre 70 e 350 mg de ACGs totais (1).
- Uma xícara de chá-mate (200 mL) pode conter 120 mg de ACGs (1).
- Uma cuia de chimarrão (500 mL) pode conter cerca de 1g de ACGs (1).
- 100g de “frutos” podem conter entre 50 e 200 mg de ACGs (1).
Recomendações Nutricionais e Efeitos no Organismo
O consumo de café tem sido associado a diversos benefícios à saúde, embora nem todos sejam atribuídos exclusivamente à cafeína (1).
Resumo de Benefícios:
- Benéfico na esclerose múltipla (2).
- Benéfico em doenças hepáticas autoimunes (2).
- O consumo de café (descafeinado ou não) foi inversamente associado à mortalidade total (2).
Saciedade (+)
O consumo de café foi associado a um maior nível de saciedade em homens e mulheres, contribuindo para a redução do consumo alimentar (3).
Efeitos Gastrointestinais
Cafés instantâneos, por apresentarem maior quantidade de ácido clorogênico e trigonelina, além de variações na cafeína, podem aumentar o peristaltismo, gerando desconfortos gastrointestinais.
Cafeína e Atenção (+)
A cafeína é um antagonista que se liga aos receptores de adenosina expressos em diversas células endoteliais, células do sistema imune, vasos sanguíneos e sistema nervoso central. Isso leva à liberação de vários neurotransmissores e inibe a ação da adenosina, que é um dos principais neuroinibidores do organismo (1).
Obesidade (+)
Em pessoas obesas, o café expresso pode não ser tão recomendado devido a um possível aumento no colesterol total (CT) e no LDL (3).
Efeito Lipolítico
A cafeína estimula a liberação de adrenalina, que age como antagonista dos receptores de adenina nos adipócitos. Isso resulta em um aumento da lípase hormônio-sensível, promovendo a lipólise (3). A cafeína também exibiu efeitos como aumento da oxidação lipídica e maior mobilização do glicogênio (embora este último seja controverso), além de um aumento na lipólise (5).
Colesterol (+)
Café expresso ou não coado tendem a ter um maior efeito sobre o colesterol do que o café coado (5). Em ratos, o café instantâneo gerou uma melhora na perda de peso, mas também elevou o colesterol com uma pequena redução no HDL (3). O consumo de 5 xícaras de café expresso por dia, durante 4 semanas, aumentou o CT em 6-8% (5). Filtrar o café remove a maioria dos óleos presentes, incluindo o cafestol e o cafeuol, que são conhecidos por aumentar a síntese de colesterol e diminuir a excreção de bile e esteróis (5).
Diabetes Tipo 2 (+)
Estudos epidemiológicos associam o consumo de café à redução do risco de Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2), com uma associação inversa entre o consumo e o risco (1). O mecanismo proposto envolve a ação dos ACGs na modulação de vias metabólicas, como a digestão e absorção de carboidratos (1). Experimentos in vitro demonstraram que compostos fenólicos podem inibir enzimas que digerem carboidratos (alfa-amilase e alfa-glicosidase) e atuar na homeostase da glicose ao inibir o transporte de glicose sódio-dependente (1). Outro mecanismo proposto é a capacidade antioxidante e anti-inflamatória desses compostos (1).
Hidratação (+)
Bebidas cafeinadas não afetam negativamente a hidratação (4).
Sistema Imune (+)
A cafeína atua em diversos componentes do sistema imune, estimulando vias anti-inflamatórias (2). Foi observado que a ingestão de cafeína é capaz de diminuir a quimiotaxia de neutrófilos e monócitos, desempenhando um papel importante na modulação da inflamação (2). A cafeína é responsável pela imunossupressão da liberação de citocinas pró-inflamatórias, incluindo TNF-α, IL-2 e IFN-γ, tendo um papel central na iniciação e propagação de doenças autoimunes (2). Além disso, a cafeína pode potencializar a liberação de citocinas anti-inflamatórias, como a IL-10 (2), e gerar alterações na função das células B e na supressão da produção de anticorpos (2). Outros constituintes do café, como os polifenóis, também desempenham um papel importante na “limpeza” de espécies reativas de oxigênio (EROs), que estão implicadas em doenças autoimunes (2).
Atividade Física
O café demonstrou ser um importante antioxidante, auxiliando no pós-exercício para uma melhor “recuperação” da homeostase entre EROs e agentes antioxidantes (3).
Câncer (+)
O café contém diversas substâncias com propriedades anticâncer, prevenindo a transformação de células em células malignas e diminuindo o risco para diversos tipos de câncer, como hepático, renal e pancreático (2). Estudos têm demonstrado benefícios do consumo de café na redução da ocorrência de vários tipos de câncer, incluindo pâncreas, mama e cólon (1). O possível mecanismo para esses efeitos está relacionado à capacidade antioxidante da bebida (1).
Posologia
Para o extrato seco padronizado de café, a posologia recomendada é de 100-600 mg/dia. Produtos disponíveis no mercado incluem extrato seco padronizado e extrato seco padronizado em 8% de ácido clorogênico.
Referências Bibliográficas
- PHILIPPI, S. T.; PIMENTEL, C. V. de M. B.; ELIAS, M. F. Alimentos Funcionais e Compostos Bioativos. 1. ed. São Paulo: Manole, 2019. 893 p.
- SHARIF, K. et al. Coffee and autoimmunity: More than a mere hot beverage! Autoimmun Rev, v. 16, n. 7, p. 712–21, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.autrev.2017.05.007.
- CHOI, E. Y. et al. Freeze-dried instant coffee can promote the activities of antioxidant enzymes and induce weight loss but also aggravate the plasma cholesterol profile in rats. Nutrition, v. 27, n. 11–12, p. 1202–5, 2011. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.nut.2011.02.003.
- RUXTON, C. H. S. The impact of caffeine on mood, cognitive function, performance and hydration: a review of benefits. Nutrition Bulletin, v. 33, n. 1, p. 15–25, 2008.
- CAI, L. et al. The effect of coffee consumption on serum lipids: A meta-analysis of randomized controlled trials. Eur J Clin Nutr, v. 66, n. 8, p. 872–7, 2012.