Comportamentos Alimentares e Fatores Ambientais
Introdução
O comportamento alimentar é influenciado por uma complexa interação de fatores fisiológicos, psicológicos e ambientais. Compreender como estímulos externos e estados internos afetam a ingestão de alimentos é crucial para desenvolver estratégias eficazes de promoção da saúde e prevenção de distúrbios alimentares.
Televisão e Alimentação
A presença da televisão ligada durante as refeições pode impactar significativamente o consumo alimentar. Um estudo demonstrou que comer com a TV ligada resultou em um aumento de 255 kcal por refeição (1). Esse efeito é atribuído ao estímulo visual, que parece intensificar a ingestão de alimentos (1). Observou-se, ainda, um aumento na velocidade das mordidas e uma diminuição no intervalo entre elas quando a televisão estava ligada, independentemente da necessidade calórica individual (1).
Tédio e Alimentação
O tédio, um estado afetivo desagradável, tem sido associado a alterações no comportamento alimentar. A teoria da consciência objetiva sugere que, durante o tédio, os indivíduos direcionam sua atenção para a discrepância entre o “eu” atual e o “eu” ideal, percebendo uma falta de propósito em seu estado presente (2). Essa busca por desviar o foco de si mesmo pode levar a estratégias de enfrentamento, incluindo a alimentação.
O tédio tem sido relacionado a diversas desordens alimentares (2). Pesquisas indicam que ele pode aumentar o consumo de lipídios, carboidratos e proteínas, resultando em um consumo extra de aproximadamente 100 kcal para cada desvio padrão na escala de tédio (2). Além disso, indivíduos com maior nível de autoconsciência apresentaram um desejo mais elevado por lanches durante o tédio (2). É importante notar que o tédio parece aumentar o desejo por comidas não saudáveis, especialmente aquelas que geram excitação ou estímulos, e não por qualquer tipo de alimento. Curiosamente, esses efeitos foram observados especificamente com o tédio, e não com a tristeza (2).
Velocidade de Consumo Alimentar
A velocidade com que se come é um fator não nutricional que tem sido correlacionado com a saúde cardiovascular e o peso corporal. Estudos indicam que o comer rápido está associado a um aumento no Índice de Massa Corporal (IMC) e a um maior risco de obesidade (3). Em contraste, o comer devagar tem sido relacionado a uma menor prevalência de obesidade, menor IMC e menor circunferência de cintura (3).
Um consumo elevado de energia em um curto período pode prejudicar a sinalização de saciedade, levando a um maior consumo calórico e consequente ganho de peso (3). Sugere-se que o comer rápido pode atrasar a percepção de saciedade, resultando em uma ingestão calórica superior em comparação com indivíduos que comem mais lentamente (3). Indivíduos que relataram comer mais rápido também apresentaram maior prevalência de hipertrigliceridemia (3).
Proximidade e Visibilidade dos Alimentos
O ambiente físico e a disposição dos alimentos podem influenciar o consumo. Um estudo demonstrou que a proximidade e a visibilidade de frutas e vegetais podem impactar o consumo alimentar (4). Alimentos saudáveis que estão mais próximos e visíveis tendem a ser mais consumidos, enquanto produtos “escondidos” ou distantes são menos procurados (4).
Referências Bibliográficas
- Blass, E. M. et al. On the road to obesity: Television viewing increases intake of high-density foods. Physiology & Behavior, v. 88, n. 4–5, p. 597–604, 2006.
- Moynihan, A. B. et al. Eaten up by boredom: Consuming food to escape awareness of the bored self. Frontiers in Psychology, v. 6, p. 1–10, abr. 2015.
- Paz-Graniel, I. et al. Association between eating speed and classical cardiovascular risk factors: A cross-sectional study. Nutrients, v. 11, n. 1, p. 1–10, 2019.
- Privitera, G. J.; Creary, H. E. Proximity and Visibility of Fruits and Vegetables Influence Intake in a Kitchen Setting Among College Students. Environment and Behavior, v. 45, n. 7, p. 876–886, 2013.