O Condicionamento Operante: Conceitos Fundamentais e Implicações Clínicas
Introdução
O condicionamento operante é um dos pilares da Análise do Comportamento, um campo da psicologia que estuda a interação entre o organismo e seu ambiente. O condicionamento operante se refere à alteração da probabilidade de um comportamento se repetir no futuro em função das consequências que ele produz no ambiente (1). Em outras palavras, são os comportamentos aprendidos com base nas modificações que geram no ambiente, uma relação que pode ser expressa como Resposta (R) → Consequência (C) (1).
Comportamento Operante e as Consequências no Ambiente
A maioria dos nossos comportamentos gera consequências no ambiente, que consistem em mudanças no cenário ao nosso redor (1). Por exemplo, ao apertar o botão de um interruptor, a luz que estava apagada agora se acende, o que representa uma mudança ambiental (1).
As consequências que nossos comportamentos produziram no passado influenciam sua ocorrência futura. É nesse sentido que se afirma que o comportamento é controlado, ou influenciado, por suas consequências (1). Mantemos inúmeros comportamentos porque certas consequências acontecem, e deixamos de ter outros devido a consequências específicas (1). Isso se aplica tanto a comportamentos socialmente aceitos quanto a comportamentos indesejados (1).
A compreensão dessa relação entre comportamento e consequência nos permite:
- Entender a função dos comportamentos (por que as pessoas fazem o que fazem) a partir da análise das consequências que eles produzem (1).
- Modificar o comportamento quando necessário, alterando suas consequências (1).
É crucial notar que, na Análise do Comportamento, a explicação para a ocorrência de um comportamento reside no passado, não no futuro (1). São as consequências vivenciadas no passado que explicam por que um comportamento ocorre no presente e poderá ocorrer no futuro (1).
Reforçamento: Aumentando a Probabilidade de um Comportamento
Consequências Reforçadoras
As consequências reforçadoras são aquelas que aumentam a probabilidade de que um determinado comportamento volte a acontecer (1). Essa interação entre o organismo e o ambiente é descrita como “contingência de reforçamento”, expressa pela relação R (resposta/comportamento) → C (consequência) (1).
Para determinar se um estímulo é reforçador, é necessário observar seu efeito sobre o comportamento (1). Independentemente das características físicas do estímulo, se sua apresentação aumenta a probabilidade de ocorrência do comportamento, ele é considerado reforçador (1).
Outros Efeitos do Reforçamento
Além de aumentar a frequência de um comportamento, o reforçamento também tem outros dois efeitos importantes:
- Diminuição da frequência de outros comportamentos diferentes do reforçado (1).
- Diminuição da variabilidade na topografia da resposta reforçada (1).
A topografia da resposta refere-se à forma de um comportamento, como padrões sonoros ou de movimento (1). À medida que um comportamento é reforçado, sua execução se torna cada vez mais padronizada e parecida (1).
Extinção Operante: Reduzindo a Frequência de um Comportamento
A extinção operante é o procedimento em que o reforçamento de um comportamento é suspenso (1). Como resultado, a frequência de sua ocorrência diminui, retornando ao seu nível operante, que é a frequência com que ocorria antes do reforçamento (1). Se a suspensão do reforçamento diminui a frequência do comportamento, conclui-se que os efeitos do reforçamento são temporários (1).
Outros Efeitos da Extinção
No início do processo de extinção operante, podem ocorrer três efeitos importantes:
- Aumento temporário na frequência do comportamento antes do declínio (1).
- Aumento na variabilidade da topografia da resposta (1).
- Evocação de respostas emocionais, como frustração ou raiva (1).
Resistência à Extinção
A resistência à extinção é o tempo ou o número de vezes que um comportamento continua a ocorrer após a suspensão do reforçamento (1). Quanto mais tempo ou vezes o comportamento ocorre sem ser reforçado, maior sua resistência (1).
As condições que afetam a resistência à extinção incluem (1):
- Número de exposições ao reforçamento: Quanto mais um comportamento é reforçado, maior sua resistência.
- Custo da resposta: Quanto maior o custo para emitir um comportamento, menor sua resistência.
- Intermitência do reforçamento: O reforçamento intermitente (reforçar o comportamento apenas algumas vezes) torna o comportamento mais resistente à extinção.
Modelagem: Construindo Novos Comportamentos
Novos comportamentos são construídos a partir de combinações de comportamentos já existentes no repertório do organismo (1). A modelagem é o processo de reforçamento diferencial de aproximações sucessivas de um comportamento-alvo (1). O resultado é um novo comportamento construído gradualmente através de contingências de reforçamento e extinção (1).
A modelagem utiliza o reforçamento diferencial (reforçar algumas respostas e extinguir outras similares) e as aproximações sucessivas (exigir respostas cada vez mais próximas do comportamento-alvo) para ensinar um novo comportamento (1).
Três aspectos importantes a serem considerados na modelagem são (1):
- Imediatidade do reforço: Quanto mais próximo o estímulo reforçador estiver da resposta, maior será seu efeito.
- Não reforçar excessivamente respostas intermediárias: Reforçar demais respostas intermediárias diminui a variabilidade, o que pode impedir o surgimento de respostas mais próximas do comportamento-alvo.
- Passos pequenos e graduais: Se a distância entre um comportamento e outro for muito grande, a falta de reforçamento pode levar à deterioração do que já foi aprendido.
Modelagem vs. Modelação
- Modelagem: Os comportamentos são selecionados gradualmente por suas consequências diretas (1).
- Modelação (Aprendizagem por Observação): A probabilidade de um comportamento é alterada pela observação do comportamento de outro organismo e das consequências que este produz (1). Embora a observação possa aumentar a probabilidade de um comportamento similar, a sua aprendizagem e manutenção requerem a apresentação de consequências reforçadoras contingentes à emissão da resposta pelo observador (1).
Reforçadores: Classificação e Funções
Reforçadores Sociais e Não Sociais
- Reforçadores sociais: A mudança produzida pelo comportamento é o seu efeito sobre o comportamento de outra pessoa (1).
- Reforçadores não sociais: A função fortalecedora independe dos efeitos sobre o comportamento de outra pessoa, referindo-se a alterações no ambiente não social (1).
É importante ressaltar que nem todas as reações de outras pessoas são reforçadoras; essa conclusão só pode ser tirada a partir do efeito que geram no comportamento que as produziu (1). Para humanos, sorrisos, gestos, carícias, atenção e expressões de aprovação são poderosos estímulos reforçadores (1).
Reforçadores Naturais e Arbitrários
- Reforçadores naturais: Produzidos diretamente pelo comportamento em questão (1).
- Reforçadores arbitrários: Mediados pelo comportamento de outra pessoa, geralmente de forma planejada (1).
Grande parte dos comportamentos humanos, especialmente em contextos sociais, só ocorre se for arbitrariamente reforçada (1).
O Controle Aversivo do Comportamento
O controle aversivo refere-se ao aumento da frequência do comportamento por reforçamento negativo e à diminuição na frequência por punição (1).
- Reforçamento Positivo: Adição de um estímulo como consequência da resposta, aumentando ou mantendo a probabilidade do comportamento (1).
- Reforçamento Negativo: Retirada ou evitação de um estímulo aversivo, aumentando ou mantendo a probabilidade do comportamento (1). A diferença para o reforço positivo é o modo de consequenciar: adição vs. retirada/evitação (1).
Comportamento de Fuga e Esquiva
O reforçamento negativo mantém dois tipos de comportamento operante:
- Fuga: Ocorre quando um estímulo aversivo já está presente no ambiente e o comportamento o remove (1). Exemplo: Arrumar o quarto quando a mãe começa a brigar pela bagunça (1).
- Esquiva: Ocorre quando um estímulo aversivo ainda não está presente, mas a resposta acontece diante de outros estímulos que sinalizam sua apresentação iminente, evitando o contato com ele (1). Exemplo: Arrumar o quarto pela manhã para evitar as reclamações da mãe mais tarde (1).A esquiva é uma forma de prevenção, enquanto a fuga é uma remediação (1).
Punição
Punição é uma contingência que reduz a frequência ou a probabilidade de ocorrência de um comportamento no futuro (1). O estímulo consequente é denominado estímulo punitivo (1).
- Punição Positiva: Consiste na apresentação de um estímulo aversivo que reduz a probabilidade do comportamento (1). Exemplo: Ser multado por ultrapassar o sinal vermelho (1).
- Punição Negativa: Consiste na retirada de um estímulo reforçador, que reduz a probabilidade do comportamento (1). Exemplo: Ser preso (perder a liberdade) por cometer um crime (1).
Punição vs. Extinção
A punição e a extinção são procedimentos distintos para reduzir comportamentos. Na extinção, o reforçador que mantinha o comportamento deixa de ser apresentado (1). Na punição negativa, o comportamento passa a ter uma nova consequência (a perda de um reforçador), enquanto a contingência de reforçamento que o mantinha pode permanecer intacta (1). Além disso, a punição suprime a resposta rapidamente, enquanto a extinção a diminui gradualmente (1).
Efeitos Colaterais do Controle Aversivo
O controle aversivo, embora eficaz para a supressão imediata de comportamentos, apresenta uma série de efeitos colaterais que tornam seu uso desaconselhado em intervenções psicológicas (1):
- Eliciação de respostas emocionais (1).
- Supressão de outros comportamentos além do punido, o que pode ser prejudicial em um contexto terapêutico (1).
- Ocorrência de respostas incompatíveis com o comportamento punido, que são, na verdade, respostas de esquiva que evitam a exposição ao estímulo aversivo (1).
Por essas razões, o uso do controle aversivo como forma de intervenção em terapia e em outros contextos de aplicação da psicologia não é recomendado (1).
Referências Bibliográficas
- MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.