Cortisol: Fisiologia, Impacto na Saúde e Interpretação Clínica
Introdução
O cortisol é o principal glicocorticoide em seres humanos, um hormônio esteroide com ação metabólica direta e fundamental no organismo (2). Sua regulação e níveis adequados são cruciais para a homeostase, e desequilíbrios podem ter implicações significativas para a saúde, como na obesidade e no desempenho esportivo.
Fisiologia do Cortisol
O cortisol exerce uma ação hiperglicemiante, estimulando a gliconeogênese (produção de glicose a partir de não carboidratos), a lipólise (quebra de gorduras) e a proteólise (quebra de proteínas) (2). Ele é o principal hormônio secretado durante o estresse crônico, e sua secreção é mantida sob controle pelo hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) (2).
No sangue, o cortisol é transportado principalmente ligado à proteína globulina ligadora de cortisol (CBG) (2). O ritmo de secreção do cortisol é circadiano, semelhante ao da testosterona, apresentando um pico matinal e uma diminuição progressiva ao longo do dia, com um novo pico nas primeiras horas de sono (3).
Impacto do Cortisol na Saúde
Obesidade
A obesidade é frequentemente comparada à síndrome de Cushing devido às suas similaridades fisiológicas (1). Na obesidade, há uma produção aumentada de cortisol em razão da hiperativação do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) pela via do feedback positivo (1).
Além disso, na obesidade, ocorrem várias alterações periféricas na produção e no metabolismo do cortisol, incluindo o aumento no clearance (depuração), no turnover e na alteração de seu metabolismo no tecido adiposo, principalmente o visceral (1). A presença de citocinas pró-inflamatórias no tecido adiposo contribui para a ativação do eixo HPA, pela diminuição da densidade e da sensibilidade dos receptores no tecido adiposo (1).
Essa hiperativação do eixo HPA desencadeia outras complicações funcionais, como a redução dos níveis de GH (hormônio do crescimento) e testosterona em homens, o aumento dos níveis de estrógenos em mulheres, além de hiperinsulinemia e resistência à insulina, que podem gerar diversas outras condições patológicas (1). O eixo HPA também está relacionado com o aumento da atividade do Sistema Nervoso Simpático (SNS), que pode levar à hipertensão arterial e ao aumento da concentração de ácidos graxos livres no plasma (pelo aumento da atividade da lipase lipoproteica e diminuição da lipase hormônio-sensível no plasma), o que induz à resistência à insulina no músculo e serve como substrato para a produção hepática de lipoproteínas (1).
Privação do Sono
A privação do sono é um fator importante na regulação do cortisol. Ela altera o ciclo circadiano e, consequentemente, eleva os níveis circulantes do hormônio, juntamente com as citocinas pró-inflamatórias (1).
Desempenho Esportivo
Manter o cortisol elevado de forma crônica está associado à inibição do sistema neuromuscular e à piora do desempenho esportivo (3).
Interpretação Clínica do Exame de Cortisol
O cortisol avaliado às 8h da manhã deveria estar no seu ápice; um valor baixo nesse horário pode indicar problemas. É importante observar que o jejum prolongado (14-16 horas) pode aumentar o cortisol, o que, por sua vez, pode elevar a glicemia de jejum.
A interpretação dos níveis de cortisol deve ser cautelosa, pois fatores estressores agudos, como o medo de tirar sangue ou uma discussão no trânsito, podem levar a valores aumentados (1).
Referências Bibliográficas
- SILVA, S. M. C. S.; MURA, J. D. P. Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia. 3. ed. São Paulo: Editora Pitaya; 2016. 1308 p.
- DOMINICZAK, M. Série Carne e Osso: Metabolismo. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2007. 244 p.
- RIBAS FILHO, D.; SUEN, V. M. M. Tratado de Nutrologia. 2. ed. Santana de Parnaíba: Manole; 2019. 646 p.