Crataegus: Mecanismos de Ação e Aplicações Clínicas
Introdução
O Crataegus, popularmente conhecido como Espinheiro-alvar, é uma planta medicinal amplamente empregada na fitoterapia devido às suas propriedades cardiovasculares.
Aspectos Botânicos e Fitoquímicos
Nome Científico e Popular
O Crataegus é cientificamente identificado como Crataegus oxycantha L. ou Crataegus curvisepala (1). Seus nomes populares incluem Espinheiro-alvar e Crataego (1).
Parte Utilizada e Compostos Bioativos
As partes da planta utilizadas para fins medicinais são a folha, flor e fruto (1). O perfil fitoquímico do Crataegus é rico e diversificado, incluindo os seguintes compostos bioativos:
- Procianidinas oligoméricas: como catequinas, epicatequina e procianidina B2 (1).
- Flavonoides: como quercetina, hiperosídeo, rutina e derivados do apigenol (1).
- Compostos fenólicos: como ácido cafeico e ácido clorogênico (1).
- Fitoesteróis: principalmente β-sitosterol (1).
- Triterpenoides: como ácido oleanólico, ácido ursólico e ácido crataególico (1).
- Taninos (1).
- Aminas: como β-fenetilamina, tiramina e acetilcolina (1).
- Sais minerais (1).
Mecanismos Farmacológicos
Atividade Cronotrópica
A atividade cronotrópica do extrato de Crataegus não é mediada pelo bloqueio dos receptores beta-adrenérgicos. Em vez disso, essa ação está relacionada à grande diversidade química dos compostos presentes no extrato (1).
Efeito Inotrópico Positivo
O Crataegus exerce um efeito inotrópico positivo, ou seja, aumenta a força de contração do miocárdio. Isso ocorre devido ao aumento da concentração intracelular de íons cálcio e à inibição da fosfodiesterase. A inibição da fosfodiesterase eleva a concentração intracelular de cAMP, o que, por sua vez, aumenta a amplitude e a força de contração cardíaca (1).
Efeito Vasodilatador
O efeito vasodilatador do Crataegus é atribuído à ação das procianidinas, que estimulam a liberação de óxido nítrico (NO), e também à inibição da enzima conversora de angiotensina (ECA) (1). Esses mecanismos explicam seu efeito hipotensor (1).
Atividade Antiarrítmica
O extrato de Crataegus demonstra um efeito similar ao dos fármacos antiarrítmicos classe III. Ele é capaz de prolongar o período refratário e aumentar a duração do potencial de ação por meio do bloqueio das correntes de potássio (1).
Indicações Clínicas e Posologia
Principais Indicações
O Crataegus é indicado para diversas condições cardiovasculares e outras manifestações clínicas, incluindo:
- Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC): graus I e II (1).
- Hipertensão arterial: casos leves e moderados (1).
- Aterosclerose (1).
- Dislipidemia (1).
- Insônia (1).
- Climatério (1).
Efeitos na Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC)
Estudos indicam que o Crataegus é capaz de melhorar sintomas associados à ICC, como fadiga, dispneia e letargia, além de aumentar a tolerância ao exercício físico (1). Por essa razão, seu extrato é recomendado no manejo da ICC grau I (1).
Posologia
As recomendações posológicas variam conforme a forma de apresentação:
- Planta seca: 1 – 5 g/dia (1).
- Pó: 500 mg – 2,0 g/dia (1).
- Extrato seco 1:4 padronizado em 1,5% de vitexina: 300 mg, 2 a 3 vezes ao dia (1).
- Tintura: 30 – 50 gotas (1).
Contraindicações e Toxicidade
Reações Adversas
Alguns pacientes podem apresentar reações adversas, como rash cutâneo, cefaleia, sudorese, sintomas digestivos, agitação ou sonolência (1).
Contraindicações Específicas
O Crataegus é contraindicado durante a gravidez devido à possibilidade de diminuição do tônus e motilidade uterina (1). Na lactação, o uso é contraindicado por ausência de estudos que comprovem sua segurança (1).
Referências Bibliográficas
- SAAD, G. A. de; LEITE, P. H. de O.; SÁ, I. M.; SEIXLACK, A. C. Fitoterapia contemporânea: tradição e ciência na prática clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.