Transtorno Depressivo Maior: Abordagem Diagnóstica e Terapêutica Multiprofissional

Transtorno Depressivo Maior: Abordagem Diagnóstica e Terapêutica Multiprofissional


Introdução à Fisiopatologia da Depressão

A depressão é um transtorno heterogêneo do pensamento e do humor, caracterizado por uma visão excessivamente negativa do eu, do mundo e do futuro, com sintomas emocionais, cognitivos e comportamentais (7). Frequentemente, coexiste com outras condições psiquiátricas, como ansiedade, transtornos alimentares, esquizofrenia e doença de Parkinson, além de dependência de substâncias (7).

Distinguem-se dois tipos principais de síndromes depressivas: a depressão unipolar, na qual as alterações de humor são unidirecionais (7), e o transtorno bipolar, onde a depressão se alterna com episódios de mania, caracterizados por euforia, entusiasmo, autoconfiança, impulsividade, irritabilidade e, ocasionalmente, delírios de grandeza (7).

A depressão unipolar, em 75% dos casos, não possui um padrão familiar definido, sendo frequentemente associada a eventos estressores da vida e acompanhada por sintomas de ansiedade e agitação, sendo denominada depressão reativa (7). Os 25% restantes, denominados depressão endógena, exibem um padrão familiar e não se relacionam a fatores estressores externos óbvios (7).

A complexidade da depressão reside em sua natureza poligênica, sem um gene dominante identificado. As teorias propostas para sua etiologia, embora não expliquem totalmente todas as observações, oferecem perspectivas importantes para a compreensão da doença.

Teorias Etiológicas da Depressão

Embora diversas teorias tenham sido propostas, nenhuma abrange completamente todos os achados clínicos e evidências científicas (7).

Teoria das Monoaminas

Proposta por Schildkraut em 1965, esta teoria postula que a depressão pode ser causada por um déficit funcional de neurotransmissores monoaminérgicos, como a norepinefrina e a 5-hidroxitriptamina (5-HT), em regiões cerebrais específicas, enquanto a mania resultaria de um excesso funcional (7). Evidências farmacológicas suportam essa hipótese, embora haja diversas anomalias. A distinção clara entre as teorias da norepinefrina e da 5-HT na depressão ainda não é possível com base nas evidências farmacológicas. Clinicamente, tanto os inibidores da recaptação de norepinefrina quanto os de 5-HT mostram-se igualmente eficazes como antidepressivos, embora a resposta individual aos fármacos possa variar (7). Agentes que bloqueiam a síntese de norepinefrina ou de 5-HT consistentemente diminuem o humor e revertem os efeitos terapêuticos de antidepressivos que atuam seletivamente sobre esses transmissores (7).

É crucial considerar que, enquanto os efeitos bioquímicos diretos da maioria dos antidepressivos ocorrem em minutos ou horas, os efeitos terapêuticos da depressão levam semanas para se manifestar (7). Isso sugere que as alterações adaptativas secundárias, e não os efeitos primários no cérebro, são responsáveis pela melhora clínica. Os efeitos induzidos pelos fármacos no sistema de monoaminas podem resultar em um efeito trófico prolongado, que se correlaciona com as alterações de humor (7).

Hipoatividade do Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HPA)

Pacientes com depressão frequentemente exibem uma hiperatividade do eixo HPA. Uma das causas é o estresse crônico, que leva à diminuição da regulação (downregulation) dos receptores no hipocampo, responsáveis pelo feedback negativo no hipotálamo. Consequentemente, observa-se um aumento nos níveis de cortisol, devido à falha do mecanismo de feedback.

Inflamação Sistêmica Excessiva

O estresse ativa receptores do tipo Toll-like receptors (TLRs), que induzem a liberação de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, IL-2, IL-1, TNF-α, Interferon gama), as quais, por sua vez, podem intensificar a ativação do eixo HPA. Outro fator relevante é a inflamação intestinal de baixo grau. Além de ser um problema intrínseco, essa inflamação pode desviar o triptofano da via de produção de serotonina para a via de produção do ácido quinolínico, comprometendo a função sináptica. O aumento do interferon-gama, especificamente, inibe enzimas essenciais para a síntese de serotonina. Esse processo inflamatório excessivo resulta em uma redução da neuroplasticidade e uma diminuição no número de sinapses neuronais, culminando em disfunção sináptica. Isso ocorre porque a inflamação pode inibir a via do mammalian target of rapamycin (mTOR), que, por sua vez, diminui a produção de receptores na barreira do hipocampo.

O estresse crônico (duração superior a 5 semanas) desencadeia uma redução no número de células da micróglia e na expressão de marcadores microgliais, além de atrofia de astrócitos no córtex pré-frontal (células com características predominantemente anti-inflamatórias). Atualmente, a depressão é reconhecida como uma doença com componente inflamatório significativo. Essa inflamação aumenta a atividade da enzima indolamina-3-oxidase (IDO), o que pode levar a distúrbios do sono.

Efeitos Tróficos e Neuroplasticidade

A redução dos níveis do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF) ou o mau funcionamento de seu receptor, TrKB, são sugeridos como fatores importantes na depressão. O tratamento com antidepressivos tem demonstrado aumentar esses níveis (7). Alterações na transmissão glutamatérgica também podem estar envolvidas. Observa-se que indivíduos com depressão apresentam níveis corticais elevados de glutamato (7), e o tratamento antidepressivo pode diminuir esses níveis, além de deprimir a função do receptor NMDA (7).

A depressão maior também está associada à perda neuronal no hipocampo e no córtex pré-frontal. Terapias antidepressivas de diversos tipos atuam inibindo ou revertendo essa perda por meio da estimulação da neurogênese (7). Estudos de neuroimagem e análises post-mortem em pacientes com depressão revelaram aumento ventricular e encolhimento do hipocampo e do córtex pré-frontal (7). Em modelos animais, o estresse crônico ou a administração de glicocorticoides, que simulam o aumento da secreção de cortisol na depressão humana, produzem efeitos semelhantes (7). Antidepressivos e outros tratamentos, como eletroconvulsoterapia, promovem a neurogênese nessas regiões em animais e, em humanos, restauram a atividade funcional (7). A 5-HT e a norepinefrina, cujas ações são intensificadas por muitos antidepressivos, promovem neurogênese, possivelmente via ativação dos receptores 5-HT1a e alfa2-adrenérgicos, respectivamente (7), um efeito que pode ser mediado pelo BDNF (7). Exercícios físicos também podem promover a neurogênese em animais e são eficazes em alguns pacientes com depressão leve a moderada (7).

Impacto na Neuroplasticidade e BDNF

A neuroinflamação e a disfunção do eixo HPA afetam a neuroplasticidade, reduzindo a expressão do BDNF. Isso pode levar a dificuldades na consolidação da memória, concentração, raciocínio e alterações no apetite. A redução do BDNF frequentemente resulta em um aumento significativo do apetite e ganho de peso.

Alterações Genéticas na Produção de Monoaminas

Alterações na plasticidade neuronal causam atrofia dos astrócitos no córtex pré-frontal, resultando em diminuição da capacidade anti-inflamatória e desregulação dos níveis basais de glutamato. A hiperatividade do sistema glutamatérgico tem sido associada ao humor deprimido, enquanto uma redução dessa atividade pode exercer um efeito antidepressivo. A depressão é caracterizada por uma diminuição das monoaminas e um aumento do glutamato.

Disrupção do Ciclo Circadiano

A disrupção do ciclo circadiano é um fator de grande importância nas desordens de humor (4). Estudos indicam que diversos genes CLOCK predispõem a desordens de humor (4).

Viés Afetivo Negativo

Indivíduos com depressão tendem a perceber os eventos de forma pessimista, concentrando-se em informações negativas e recordando-as de maneira distorcida (7). Esse fenômeno é conhecido como viés negativo (7). Estudos sugerem que fármacos antidepressivos podem exercer efeitos agudos no processamento cognitivo, resultando em um impacto positivo no comportamento emocional (7). É proposto que pacientes deprimidos podem não ter uma percepção consciente do efeito do fármaco, mas, ao longo do tempo e com a administração crônica, eles reavaliam subconscientemente o que percebem como positivo, resultando na melhora do humor (7).


Fatores de Risco para Depressão

  • Idade: O pico de prevalência ocorre entre 20-30 anos e entre 50-60 anos.
  • Sexo: Mulheres apresentam duas vezes mais risco de depressão, principalmente devido a variações hormonais.
  • Genética: Filhos de pais, especialmente mães, com depressão têm um aumento de 40% nas chances de desenvolver a doença.
  • Ansiedade: Os sintomas de ansiedade geralmente antecedem a depressão em 1 a 2 anos.
  • Estressores Psicossociais: Abuso físico, sexual ou emocional, luto, e problemas financeiros são fatores de risco significativos.
  • Estressores Biológicos: Gravidez, pós-parto e menopausa podem aumentar o risco.
  • Qualidade da Dieta: A qualidade da dieta está relacionada à prevenção do risco de depressão (Pós VP).
  • Deficiência Nutricional: A deficiência de quatro ou mais micronutrientes é um fator de risco (6).

Manifestações Clínicas da Depressão

Os sintomas da depressão englobam componentes emocionais e biológicos (7).

Sintomas Emocionais

  • Humor depressivo, ruminação excessiva do pensamento, apatia, pessimismo, infelicidade (7).
  • Perseveração de temas negativos.
  • Alomnésias (distorção de memórias para um viés negativo).
  • Baixa autoestima, sentimento de culpa, insatisfação com a aparência física (7).
  • Indecisão, perda de motivação (7).
  • Anedonia (perda da sensação de recompensa) (7).
  • Alterações na fala (menor volume, lentidão, falta de afetividade).

Sintomas Biológicos

  • Retardo do pensamento e da ação (7).
  • Perda de libido (7).
  • Transtornos do sono e perda de apetite (7).
  • Diminuição da sensopercepção.
  • Hipomnesia de fixação (dificuldade em registrar novas informações).

Indivíduos com depressão frequentemente apresentam alterações na produção e disponibilidade de serotonina, dopamina e noradrenalina, neurotransmissores cruciais para a regulação do comportamento e do humor. O cérebro demonstra maior suscetibilidade a espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (ROS/RNS) devido ao alto teor de ácidos graxos insaturados, elevado consumo de oxigênio e escassez de sistemas antioxidantes.

Transtorno Depressivo Maior (TDM)

O TDM é a forma principal de depressão, caracterizada por episódios depressivos recorrentes, cada um com duração de duas semanas ou mais. O diagnóstico exige a presença de cinco ou mais sintomas do sistema diagnóstico. O início da depressão é geralmente gradual e de curso episódico, com momentos de melhora intercalados com períodos depressivos. A ansiedade frequentemente precede a depressão, e o estresse, seja farmacológico ou psicológico, é um fator de extrema importância nesses pacientes. É fundamental segmentar os pacientes depressivos, dada a diversidade de tipos de depressão.

A Síndrome de Burnout, uma condição relacionada ao excesso de trabalho e às dificuldades impostas no ambiente profissional, frequentemente ocorre quando os objetivos são irrealistas. Sintomas de depressão também foram identificados em pacientes com Síndrome do Intestino Irritável (SII).

A depressão maior é caracterizada por humor depressivo e desinteresse em atividades prazerosas, acompanhados de mudanças nos padrões de sono, dificuldade de concentração, perda de libido, falta de energia, sentimento de inutilidade ou culpa, pensamentos de morte ou suicídio e distúrbios no apetite (5). Indivíduos com depressão geralmente relatam perda de interesse em comer e tendem a identificar a perda de peso como um problema. Contudo, um histórico de privação alimentar ou restrição calórica autoimposta modera a probabilidade de excessos alimentares durante um episódio agudo de transtorno do humor (5). A obesidade é considerada preditiva de um futuro episódio depressivo (5).


Diagnóstico da Depressão

O diagnóstico da depressão é predominantemente clínico e baseia-se na identificação de sintomas específicos. Dois sintomas são considerados de extrema relevância: o humor depressivo e a anedonia (perda de interesse ou prazer). Embora outros sintomas sejam considerados, muitos deles são similares aos encontrados em outras patologias.

Para auxiliar na investigação do transtorno depressivo, sugerem-se os seguintes instrumentos:

Escala de Beck (BDI II, BHS e BSI)

Com o objetivo de investigar a intensidade da depressão e o impacto que esta tem causado na vida social, profissional e escolar do indivíduo, sugere-se a aplicação da escala completa. O BDI II avalia a intensidade do quadro, e a escala BHS verifica os índices de desesperança e pessimismo. Alterações acima de 9 pontos nesta última indicam a necessidade de aplicar a escala BSI, visando compreender a gravidade dos sintomas relacionados à ideação suicida e seu potencial de execução.

Escala Baptista de Depressão (EBADEP-A, versão adulto)

Este é um instrumento autoaplicável que avalia a intensidade da depressão em adolescentes e adultos. A escala é dividida em sete categorias:

  • Humor
  • Sintomas vegetativos
  • Sintomas motores
  • Sintomas sociais
  • Sintomas cognitivos
  • Ansiedade
  • Irritabilidade

Escala Baptista de Depressão (EBADEP-IJ, versão infanto-juvenil)

Esta escala de autorrelato visa auxiliar no diagnóstico da depressão infanto-juvenil. Avalia sintomas depressivos e mensura uma gama de características saudáveis, pois é composta por itens negativos e positivos. Dessa forma, facilita a avaliação da sintomatologia depressiva em crianças, com normas por faixa etária e sexo, evidenciando comportamento positivo e três faixas de sintomatologia:

  • Leve
  • Moderada
  • Severa

Diagnóstico Diferencial

Na investigação diagnóstica, se for percebido um padrão contínuo de baixa no humor, a escala de Beck completa pode fornecer dados importantes para elucidar o psicodiagnóstico. Contudo, quando a queixa apresentada relata dificuldades no controle da raiva, com impulsividade e agressividade diante das adversidades, e humor variando entre estados de euforia e desânimo, deve-se considerar a hipótese diagnóstica de Transtorno do Humor Bipolar (THB).

Existem pontos de interseção entre os diagnósticos de depressão e THB. No entanto, o que diferencia uma alteração de humor da outra é a intensidade da melancolia e da euforia, com um curto intervalo de tempo entre as fases, ou seja, mudanças extremas de humor, transitando facilmente de um polo a outro. Nesses casos, é fundamental avaliar a intensidade dos sintomas de raiva, mania e hipomania.

Nota: O Inventário de Expressão da Raiva como Traço e Estado (STAXI-2) pode auxiliar na identificação dos traços de personalidade, mais diretamente da expressão da raiva. Ele possibilita avaliar não apenas a intensidade dos sentimentos de raiva, mas também a frequência com que são experienciados. A dificuldade no manejo da raiva pode ter uma estreita relação com o THB, resultando em uma medida completa da expressão e controle da raiva.


Avaliação Bioquímica na Depressão

A avaliação de certos marcadores bioquímicos é crucial para identificar deficiências que podem estar associadas à depressão ou influenciar a resposta ao tratamento.

Parâmetros a serem avaliados:

  • Vitamina B12: Níveis diminuídos de vitamina B12 e folato sérico foram observados em pacientes com depressão. Essas vitaminas do complexo B são essenciais para a produção de neurotransmissores.
  • Folato sérico
  • Folato eritrocitário
  • Vitamina D: A deficiência de vitamina D foi associada a distúrbios de humor ativo, com aspectos de transtorno cognitivo e um risco elevado para depressão (1).
  • Zinco

Objetivo do Tratamento da Depressão

O objetivo do tratamento da depressão varia conforme a subtipagem e a gravidade dos sintomas apresentados. Para casos leves, a psicoterapia pode ser suficiente. No entanto, para casos graves, a psicoterapia é essencial, mas não é suficiente por si só.

Metas Terapêuticas:

  • Controle da inflamação sistêmica: A modulação da resposta inflamatória é crucial, dado o papel da inflamação na fisiopatologia da depressão.
  • Ajuste do eixo HPA: Normalizar a atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal para reduzir os níveis de cortisol e seus efeitos deletérios.
  • Aumento na produção de serotonina: Otimizar a disponibilidade de serotonina, um neurotransmissor fundamental para a regulação do humor.

Tratamento Médico e Farmacologia

Pacientes em uso de antidepressivos frequentemente experimentam variações de peso (1). O tratamento farmacológico atual baseia-se na modulação de neurotransmissores monoaminérgicos (2).

Classes de Antidepressivos

Inibidores da Recaptação de Monoaminas:

  • Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS): Exemplos incluem Fluoxetina, Fluvoxamina, Paroxetina, Sertralina, Citalopram, Escitalopram e Vilazodona (7). Estes inibem a recaptação de serotonina, aumentando sua disponibilidade na fenda sináptica e são geralmente a primeira linha de tratamento.
    • Efeitos Colaterais Potenciais: Disfunção sexual, ganho de peso, queda de cabelo, náuseas e cefaleias.
    • Observação: A eficácia dos ISRS depende de uma produção adequada de serotonina. Se a inflamação periférica não for controlada, o triptofano pode não ser convertido adequadamente em serotonina.
  • Antidepressivos Tricíclicos (ADT): Exemplos são Imipramina, Desipramina, Amitriptilina, Nortriptilina e Clomipramina (7).
  • Inibidores Mistos da Recaptação de Serotonina e Norepinefrina: Incluem Venlafaxina, Desvenlafaxina e Duloxetina (7).
  • Inibidores da Recaptação da Norepinefrina: Exemplos são Reboxetina, Atomoxetina e Bupropiona.
  • Preparações de Erva-de-São-João: A hiperforina, seu princípio ativo, apresenta eficácia clínica semelhante à maioria dos antidepressivos prescritos. Embora seja um inibidor fraco da recaptação, possui outras ações (7).

Antagonistas do Receptor da Monoamina:

Fármacos como Mirtazapina, Trazodona e Mianserina são não seletivos e inibem uma variedade de receptores, incluindo os alfa2-adrenérgicos e 5-HT2, com um efeito brando na recaptação de monoaminas (7).

Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAO):

A monoamina oxidase degrada a serotonina na fenda sináptica. A inibição dessa enzima aumenta a disponibilidade de serotonina. A literatura sugere que esses inibidores podem ser eficazes no tratamento da depressão, contudo, são associados a numerosos efeitos colaterais, não sendo, portanto, a primeira escolha de tratamento.

  • Inibidores Irreversíveis Não Competitivos: Exemplos incluem Fenelzina e Tranilcipromina. Não são seletivos em relação aos subtipos MAO-A e MAO-B (7).
  • Inibidores Reversíveis Seletivos para MAO-A: Exemplo é a Moclobemida (7).

Agonistas do Receptor de Melatonina:

A Agomelatina é um agonista dos receptores MT1 e MT2 da melatonina e um antagonista fraco de 5-HT2c (7).

Outros Agentes:

A Cetamina é um bloqueador não competitivo do canal NMDA (7).


Terapia Nutricional e Suplementação na Depressão

A terapia nutricional e a suplementação desempenham um papel complementar no manejo da depressão, visando otimizar processos bioquímicos e reduzir a inflamação.

Controle do Peso

A depressão e outros transtornos são conhecidos por influenciar o comportamento alimentar e outros hábitos de vida, como tabagismo, etilismo e autocuidado (1). A restrição calórica por 8 semanas, acompanhada de terapia complementar, demonstrou benefícios na condição depressiva. É crucial evitar restrições severas, tanto calóricas quanto de carboidratos (CHO).

Ômega-3

O Ômega-3 pode auxiliar por meio de diversos mecanismos. Ele contribui para o aumento da fosfatase alcalina intestinal, o que pode diminuir a produção de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α, IL-6, IL-2 e IL-1β, que foram relacionadas à depressão (3). Tanto o Ácido Eicosapentaenoico (EPA) quanto o Ácido Docosahexaenoico (DHA) reduzem a inflamação competindo com o ácido araquidônico, resultando na diminuição de sua concentração celular e plasmática (3). O EPA também pode diminuir a produção de ácido araquidônico através da inibição da delta-5-dessaturase (3). Além disso, o EPA compete com o ácido araquidônico pela fosfolipase A2 e ajuda a bloquear a síntese de eicosanoides pró-inflamatórios.

O EPA pode estar parcialmente relacionado à capacidade cerebral de aumentar a neurotransmissão dopaminérgica e serotoninérgica, e foi associado ao N-acetil-aspartato, um marcador neuronal de homeostase, sugerindo um efeito neuroprotetor (3). O EPA também pode melhorar a depressão ao diminuir o interferon gama, uma citocina inflamatória que reduz a conversão do triptofano em serotonina. Um estudo demonstrou uma redução de 20% no escore de ansiedade após a suplementação de 2,5g de Ômega-3.

O Ômega-3 foi relacionado ao aumento das concentrações de BDNF, promovendo a plasticidade sináptica e aumentando a capacidade de neurotransmissão cerebral, tanto dopaminérgica quanto serotoninérgica. É proposto que o EPA é capaz de inibir a liberação de CRH, que inicia a atividade do eixo HPA e estimula a formação de cortisol. Assim, o EPA possivelmente contribui para a redução do cortisol sérico.

As combinações mais eficazes para a depressão incluem EPA puro e formulações de Ômega-3 com EPA > 60%, sendo doses de até 1g já suficientes. Doses acima de 1g de EPA não demonstraram resultados superiores (3). Observou-se que o baixo consumo de peixes e frutos-do-mar está associado a uma maior prevalência de depressão e esquizofrenia (6).

Recomendação: 1-3 g/dia, com 720-1000 mg de EPA/dia, sendo pelo menos 60% EPA e 40% DHA.

Creatina

A creatina otimiza a produção de energia ao auxiliar na ressíntese de ATP, sendo um suplemento sinérgico com vitamina B3 e triptofano. Melhora a produção de serotonina e melatonina, podendo favorecer a saúde cognitiva.

Vitaminas do Complexo B

Particularmente as vitaminas B12, B9 (folato) e B6 (1). São reconhecidas por seus efeitos na saúde neurológica e cerebral, e a ingestão adequada é fundamental para indivíduos com transtornos psiquiátricos (1).

Magnésio

Fontes: Nozes, sementes de girassol, vegetais de folhas verdes escuras, grãos integrais, semente de abóbora.

A alta ingestão de zinco, gordura, cálcio, fibra, café e chá pode reduzir a absorção de íons magnésio no intestino. Psicotrópicos, sedativos, diuréticos, antibióticos e inibidores de bomba de prótons aumentam o risco de deficiência de magnésio.

O magnésio desempenha um papel modulatório no sistema nervoso central. Uma baixa ingestão de magnésio foi associada a um maior risco de desenvolvimento de depressão e ansiedade em adultos ou a uma resposta insatisfatória ao tratamento antidepressivo. O magnésio atua como antagonista natural do cálcio e bloqueia o receptor de glutamato, resultando na modulação da função sináptica. O magnésio é essencial para deprimir a atividade hiperexcitatória causada pelo glutamato, que desempenha um papel modulador chave na resposta ao medo, ansiedade e pânico (6).

O magnésio aumenta a expressão de BDNF no córtex pré-frontal, que geralmente está reduzido em pacientes depressivos. Ele atenua a resposta do eixo HPA, reduzindo a inflamação e normaliza o ciclo sono/vigília. A vitamina B6, especialmente na forma piridoxal fosfato, melhora a absorção do magnésio. As formas mais biodisponíveis são aspartato, citrato, lactato e cloreto de magnésio, em comparação com óxido de magnésio ou sulfato.

Recomendação: Pode ser utilizado a suplementação em cápsulas gastro-resistentes, com dosagem de 200-1000 mg.

Zinco

Fontes: Germe de trigo, castanha-do-pará, contra-filé, alcatra, aveia, orégano, coentro, semente de linhaça.

A deficiência de zinco altera o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, elevando os níveis de cortisol e promovendo um quadro de estresse crônico. A deficiência de zinco é comum em pacientes com transtorno depressivo maior, depressão pós-parto e em mulheres com Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM). O zinco pode ser um bom biomarcador para depressão, sendo importante monitorar seus níveis séricos.

O equilíbrio dos níveis intracelulares e extracelulares de zinco é crucial para manter a homeostase do zinco em muitas regiões cerebrais envolvidas na fisiopatologia da depressão, como hipocampo, amígdala e córtex cerebral. A suplementação de 25 mg/dia de zinco foi capaz de diminuir os escores de depressão. O zinco atenua o eixo HPA, possui efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, reduzindo a peroxidação lipídica e a Proteína C Reativa (PCR). Além disso, melhora a homeostase de receptores glutamatérgicos (função antagonista a NMDA) e, consequentemente, a neurotransmissão das monoaminas.

Resveratrol

O resveratrol tem sido implicado como um agente neuroprotetor. Seu efeito anti-inflamatório atenua o eixo HPA, reduzindo os níveis séricos de cortisol plasmático. Isso foi observado com doses de 80 mg/kg/dia. Nessa dosagem, o resveratrol também pode aumentar a expressão da Superóxido Dismutase (SOD), elevando a capacidade antioxidante cerebral.

Aumenta a neurogênese e as monoaminas, regulando as funções cerebrais. A regulação das monoaminas influencia o comportamento, melhorando a atividade do sistema de recompensa (mesolímbico), que geralmente está hipoativado na doença, e a hipomobilidade de resposta ao ambiente. O resveratrol parece estar associado ao restabelecimento do prazer no sistema de recompensa, além de aumentar a quantidade de dopamina. Doses de 15-80 mg/kg/dia apresentaram resultados semelhantes a alguns antidepressivos, como fluoxetina, desipramina e cetamina. Está relacionado à redução da ativação da micróglia (ligada à inflamação), diminuindo a expressão de NFKB e aumentando o BDNF.

Vitamina D

Fontes: Leite de soja, ostras, sardinhas, camarão refogado, leite em pó, peixe de água doce, salmão.

A deficiência de vitamina D impacta tanto na síntese de neurotransmissores quanto na do BDNF. Cerca de 65% dos indivíduos com depressão apresentam níveis baixos de vitamina D. A vitamina D é reconhecida como um nutriente importante para a saúde cerebral (1).

Uma das funções da vitamina D é aumentar a expressão da enzima tirosina hidroxilase, importante na síntese de catecolaminas. Níveis baixos dessa vitamina reduzem a transmissão sináptica via BDNF. A suplementação de vitamina D ativa as células de Paneth, melhorando a produção de peptídeos antimicrobianos (AMP) e otimizando a resposta anti-TNF-α. Possui diversas ações anti-inflamatórias. Nesse contexto, reduz a expressão do interferon gama, que diminui a indolamina-3-oxidase (IDO), aumentando a disponibilidade de triptofano para a formação da serotonina.

Recomendação: Regular níveis de Vitamina D.

Cacau

O consumo diário de 250-600 mg/dia de polifenóis do cacau tem demonstrado melhorar os sintomas da depressão clínica. Seus efeitos estão relacionados às quantidades de epicatequinas, que possuem efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes.

Café/Cafeína

Estudos relatam uma associação positiva entre o consumo de café e menor prevalência de depressão, dependente da dose. No entanto, é necessário ter cautela em pacientes ansiosos e com outras condições clínicas, como refluxo e gastrite. A cafeína estimula a liberação de dopamina, melhorando o sistema dopaminérgico. A dopamina é responsável por comportamentos de motivação, que geralmente estão reduzidos em pessoas depressivas.

Recomendação: ≥ 4 xícaras por dia (≥ 550 mg/dia de cafeína).

Fitoquímicos

Os fitoquímicos mais promissores na saúde mental são três subclasses de flavonoides: flavonóis, antocianinas e flavonas (1). Os compostos fenólicos presentes no cacau, café e chá podem gerar diversos benefícios relacionados ao sistema nervoso central, melhorando a saúde mental, plasticidade neuronal, comportamento, humor e cognição.

Os efeitos agudos dos chás, que demonstraram reduzir o risco de depressão, estão relacionados à L-teanina. Os efeitos crônicos são atribuídos aos flavonoides presentes.

Probióticos

Meta-análises indicam que o uso de probióticos pode melhorar sintomas de humor em pacientes com depressão leve a moderada, especialmente quando utilizadas múltiplas cepas (2). Surgiu o termo “psicobióticos” para probióticos capazes de influenciar o cérebro.

Quatro mecanismos principais foram propostos para explicar a ação dos probióticos na melhora dos sintomas de depressão (2):

  1. Controle do eixo HPA e diminuição da via inflamatória: Os probióticos atenuariam a hiperatividade do eixo HPA através da redução da expressão de IL-6, uma citocina responsável pela estimulação do eixo, normalizando a resposta imune e diminuindo comportamentos depressivos (2).
  2. Influência do nervo vago: O nervo vago pode mediar a comunicação entre probióticos e o cérebro, sendo algumas cepas capazes de diminuir a ansiedade, comportamentos depressivos e o estresse induzido por corticosterona (2).
  3. Produção de Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC): Os AGCC, produzidos pela microbiota através da metabolização das fibras, atuam na comunicação entre cérebro e intestino. Apresentam propriedades imunomoduladoras, afetando a saúde do hospedeiro pela inibição da histona desacetilase, ativando receptores acoplados à proteína G e facilitando a produção colônica de serotonina (2).
  4. Modulação de Neurotransmissores: Alguns neurotransmissores são modulados pela microbiota, como o triptofano, que é absorvido no intestino e transportado para o Sistema Nervoso Central (SNC) para a síntese de serotonina (2).

A disbiose leva à produção de lipopolissacarídeos (LPS), que se ligam ao receptor TLR-4, induzindo uma cascata inflamatória via NFKB, gerando o aumento de citocinas, incluindo o interferon gama, que diminui a produção de serotonina. Estudos mostram que algumas espécies de Lactobacillus e Bifidobacterium podem produzir GABA. Geralmente, pacientes com depressão apresentam uma expressão diminuída de GABA (4).

Antioxidantes

Estudos recentes relataram que níveis reduzidos de antioxidantes, especialmente a glutationa (GSH), estão associados a maior gravidade do sintoma anedonia. A redução da glutationa causa um aumento no estresse oxidativo, com consequente aumento na inflamação, piorando o quadro geral do paciente.

Açafrão

Recomendação: 30-80 mg/dia, entre 4-12 semanas.

É eficaz no alívio dos sintomas de ansiedade leve a moderada, com efeitos comparáveis à fluoxetina. Reduz os escores de ansiedade e depressão em mulheres com TPM. Através de suas propriedades antioxidantes, a curcumina (componente do açafrão) pode reduzir o interferon-gama, potencializando a conversão de 5-HT em serotonina.

Ginkgo Biloba

Recomendação: 240 mg/dia, entre 4-24 semanas.

Demonstrou redução significativa nos escores de ansiedade e depressão em comparação ao placebo.

Lavandula Angustifolia

Recomendação: 80-100 mg/dia, entre 4-10 semanas.

Apresenta atividade ansiolítica comparável a medicamentos como paroxetina e lorazepam. O chá de lavanda também pode aumentar o efeito do citalopram, um antidepressivo.

Rhodiola Rosea

Recomendação: 200-680 mg/dia, entre 2-12 semanas.

O extrato da raiz reduz sintomas de ansiedade e depressão quando comparado ao placebo, mas é menos eficaz que antidepressivos como a sertralina.

Matricaria Recutita (Camomila)

Recomendação: 220-1100 mg/dia por 8 semanas.

Em pacientes com transtorno de ansiedade generalizada leve a moderada, o extrato de camomila demonstrou atividade ansiolítica modesta em comparação ao placebo.

Valeriana Officinalis

Recomendação: 81-600 mg/dia por 4 semanas.

O extrato de valeriana reduziu sintomas em pacientes com transtorno de ansiedade, apresentando efeitos similares ao diazepam. Possui uma ação mais gabaérgica.

Artemisia Absinthium

Recomendação: 750-1500 mg/dia, entre 6-10 semanas.

Reduziu significativamente os escores dos sintomas da depressão em pacientes com doença de Crohn.


Outras Estratégias Terapêuticas

Exercícios Físicos

Os exercícios físicos são de extrema importância, pois auxiliam na regulação do eixo HPA, contribuindo para a homeostase do estresse.

Otimismo

O otimismo foi identificado como um fator capaz de melhorar a condição de depressão, influenciando positivamente a percepção e resposta aos desafios.


Referências Bibliográficas

  1. RITTER, J. M. et al. Rang & Dale Farmacologia. 9. ed. Guanabara Koogan, 2020. 789 p.
  2. MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S.; RAYMOND, J. L. Krause Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 1227 p.
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