Dermatite Atópica: Fisiopatologia, Manifestações Clínicas e Abordagens Terapêuticas


Dermatite Atópica: Fisiopatologia, Manifestações Clínicas e Abordagens Terapêuticas


Introdução

Dermatite é um termo abrangente que descreve uma condição cutânea comum, caracterizada por pele seca, pruriginosa, descamativa e inflamada (1). Dentre as diversas formas, a dermatite atópica (DA) destaca-se como a expressão cutânea do estado atópico, frequentemente associada a um histórico familiar de asma, rinite alérgica ou eczema (2). A prevalência da DA tem apresentado um aumento global, tornando-a a doença inflamatória cutânea mais comum, afetando cerca de 25% das crianças e aproximadamente 5% dos adultos (1, 2).


Fisiopatologia

A dermatite atópica, também conhecida como eczema atópico, é uma doença inflamatória cutânea multifatorial (1). Embora seja frequentemente observada em pacientes com asma ou rinite sazonal, a antiga concepção de que este tipo de eczema é uma patologia puramente imunológica tem recebido pouco suporte científico recente (1). No entanto, há uma forte predisposição genética, com a doença tendendo a afetar famílias (1). Quando ambos os pais são acometidos por DA, mais de 80% dos filhos manifestam a doença; se apenas um dos pais for afetado, a prevalência diminui para pouco mais de 50% (2).

Atualmente, a fisiopatologia da DA é atribuída principalmente a uma alteração na função de barreira da pele (1, 2). Essa disfunção resulta em perda epidérmica de água, levando ao ressecamento cutâneo, e instaura um ciclo vicioso de prurido e coçadura (1). O ato de coçar libera mediadores inflamatórios, perpetuando o processo (1). Um defeito característico na DA que contribui para essa fisiopatologia é um problema na barreira epidérmica. Em muitos pacientes, uma mutação no gene que codifica a filagrina, uma proteína estrutural do estrato córneo, é responsável pela doença (2).

Além das alterações na barreira cutânea, pacientes com DA podem apresentar diversas anormalidades da imunorregulação, tais como aumento na síntese de IgE, elevação dos níveis séricos de IgE e alterações das reações de hipersensibilidade retardada (2).

Outros tipos de dermatite incluem:

  • Dermatite de contato: Surge quando a pele se torna “sensibilizada” por um antígeno específico (1).
  • Eczema xerótico: Refere-se ao eczema resultante do ressecamento cutâneo, sendo mais comum nos meses de inverno, especialmente em indivíduos idosos (1).

Apresentação Clínica

A apresentação clínica da dermatite atópica varia tipicamente com a idade do paciente (2). Cerca de metade dos pacientes manifesta a doença no primeiro ano de vida, e 80% até os 5 anos de idade (2). Aproximadamente 80% dos indivíduos afetados desenvolvem rinite alérgica e asma concomitantemente (2).

Os padrões de apresentação são distintos por faixa etária:

  • Lactentes: Caracteriza-se por placas inflamatórias exsudativas e crostosas na face, região cervical e superfícies extensoras (2).
  • Infância e Adolescência: O padrão predominante é a dermatite nas dobras cutâneas, particularmente nas fossas antecubitais e poplíteas (2).

A dermatite pode regredir espontaneamente em alguns casos, mas aproximadamente 40% dos pacientes que apresentaram a doença na infância persistem com dermatite na idade adulta (2).

Independentemente das outras manifestações, o prurido é uma característica proeminente da DA em todas as faixas etárias, sendo exacerbado pelo ressecamento da pele (2). Muitas das anormalidades cutâneas observadas, como a liquenificação (espessamento da pele), são secundárias aos atos repetitivos de esfregar e coçar (2).


Tratamento

O tratamento da dermatite atópica é multifacetado e visa controlar os sintomas, restaurar a barreira cutânea e prevenir exacerbações. As abordagens terapêuticas devem incluir:

Medidas Gerais e Higiene

  • Evitar substâncias irritantes cutâneas: Minimizar o contato com agentes que possam agravar a irritação da pele (2).
  • Hidratação adequada: A aplicação regular de emolientes é crucial. Imediatamente após o banho, com a pele ainda úmida, um hidratante deve ser aplicado em todas as áreas, enquanto um anti-inflamatório tópico (creme ou pomada) é aplicado nas áreas de dermatite (2). Cerca de 30g de um agente tópico são suficientes para cobrir toda a superfície corporal de um adulto médio (2).
  • Rotina de banho: Os pacientes devem ser orientados a tomar não mais que um banho por dia, utilizando água morna ou fria e sabonetes suaves (2).

Terapia Farmacológica Tópica

  • Glicocorticoides tópicos: Glicocorticoides de potência baixa a média são a base da maioria dos regimes de tratamento da DA, aplicados nas áreas afetadas (2).

Manejo de Infecções Secundárias

A infecção secundária da pele eczematosa pode levar à exacerbação da DA (2). Lesões crostosas e exsudativas frequentemente estão infectadas por Staphylococcus aureus (2).

  • Diagnóstico e tratamento: Quando houver suspeita de infecção secundária, as secreções das lesões eczematosas devem ser cultivadas para identificação do agente e o paciente tratado com antibióticos eficazes contra S. aureus (2).
  • Antibioticoterapia: A dicloxacilina ou cefalexina (250 mg, 4 vezes ao dia, por 7 a 10 dias) geralmente é adequada para adultos. Contudo, a escolha do antibiótico deve ser guiada pelos resultados da cultura e pela resposta clínica do paciente (2).

Controle do Prurido

O controle do prurido é um aspecto essencial do tratamento, pois a DA é frequentemente descrita como “uma coceira que produz erupção” (2).

  • Anti-histamínicos: São os medicamentos mais comumente utilizados para o controle do prurido (2). Difenidramina (25 mg, a cada 4-6 horas), hidroxizina (10-25 mg, a cada 6 horas) ou doxepina (10-25 mg ao deitar) são úteis, principalmente por sua ação sedativa (2). Quando administrados ao deitar, os anti-histamínicos sedativos podem melhorar a qualidade do sono do paciente (2).

Referências Bibliográficas

  1. RITTER, J. M. et al. Rang & Dale Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. 789 p.
  2. JAMESON; FAUCI; KASPER; HAUSER; LONGO; LOSCALZO. Medicina Interna de Harrison. 20. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2021. 3522 p.

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