Gestação e Desenvolvimento Pré-Natal: Sinais, Etapas e Fisiologia do Parto
Introdução
A gestação é um período de profundas transformações fisiológicas no corpo materno e de rápido desenvolvimento no feto. Desde os primeiros sinais e sintomas até as complexas etapas do desenvolvimento pré-natal e o processo do parto, cada fase é marcada por eventos biológicos coordenados que culminam no nascimento.
Sinais e Sintomas da Gestação
Para muitas mulheres, o primeiro sinal de gravidez é a ausência da menstruação. No entanto, mesmo antes disso, o corpo passa por alterações sutis, mas perceptíveis (1).
- Mamas/mamilos sensíveis e inchados: O aumento da produção de estrogênio e progesterona estimula o crescimento das mamas, preparando-as para a produção de leite (1).
- Fadiga: O coração trabalha mais forte e rápido para levar mais nutrientes ao feto. Além disso, o aumento da progesterona pode deprimir o sistema nervoso central, causando sonolência (1).
- Sangramento leve ou cólica: O sangramento de implantação pode ocorrer de 10 a 14 dias após a fecundação, quando o óvulo fecundado se prende ao revestimento do útero. Muitas mulheres também sentem cólicas à medida que o útero começa a aumentar de tamanho (1).
- Desejos alimentares: Mudanças hormonais podem alterar as preferências alimentares, especialmente durante o primeiro trimestre (1).
- Náuseas e vômitos: A elevação dos níveis de estrogênio produzidos pela placenta e pelo feto retarda o esvaziamento gástrico (1). Uma maior sensibilidade olfativa pode gerar náuseas em resposta a certos odores. A náusea matinal pode começar duas semanas após a fecundação e, a partir da 4ª-8ª semana, pode ocorrer a qualquer momento do dia (1).
- Vontade de urinar: O alargamento do útero exerce pressão sobre a bexiga (1).
- Dores de cabeça: A intensificação da circulação sanguínea, causada por mudanças hormonais, pode levar a essas dores (1).
- Constipação: O aumento dos níveis de progesterona pode retardar a digestão, fazendo com que o alimento atravesse o trato intestinal mais lentamente (1).
- Variações de humor: O fluxo de hormônios no início da gravidez pode provocar altos e baixos emocionais (1).
- Fraqueza e tontura: A sensação de tontura pode ser causada pela dilatação dos vasos sanguíneos e pela baixa pressão arterial, ou por baixos níveis de açúcar no sangue (1).
- Aumento da temperatura basal corporal: A temperatura basal normalmente sobe após a ovulação e cai durante a menstruação. Se a menstruação cessa, a temperatura permanece elevada (1).
Etapas do Desenvolvimento Pré-natal
O desenvolvimento pré-natal ocorre em três etapas fundamentais: germinal, embrionária e fetal (1). Tanto antes quanto depois do nascimento, o crescimento e o desenvolvimento motor seguem dois princípios: de cima para baixo (cefalocaudal) e do centro para a periferia (próximo-distal) (1).
- Princípio Cefalocaudal: O desenvolvimento avança da cabeça para a parte inferior do tronco (1). A cabeça, o cérebro e os olhos se desenvolvem primeiro e são desproporcionalmente maiores até que o restante do corpo os alcance (1).
- Princípio Próximo-distal: O desenvolvimento ocorre das partes próximas ao centro do corpo para as extremidades (1). A cabeça e o tronco do embrião se desenvolvem antes dos membros, e os braços e pernas, antes dos dedos das mãos e dos pés (1).
Fase Germinal (Fecundação à 2ª semana)
Durante o período germinal, o zigoto se divide, torna-se mais complexo e se implanta na parede do útero (1). Nas 36 horas após a fecundação, o zigoto entra em uma fase de rápida divisão celular (mitose) (1). Enquanto se divide, ele desce pela tuba uterina até o útero, uma viagem que dura entre três e quatro dias. No sexto dia, assume a forma de um blastocisto (uma esfera cheia de líquido) e começa a se implantar na parede uterina (1).
O local da implantação do óvulo determina a localização da placenta (1). É importante notar que apenas 10-20% dos óvulos fecundados completam a implantação e continuam a se desenvolver (1).
Antes da implantação, algumas células do blastocisto agrupam-se para formar o disco embrionário, uma massa celular espessa a partir da qual o embrião se desenvolverá (1). Essa massa se diferenciará em três camadas:
- Ectoderma: Camada exterior da pele, unhas, cabelos, dentes, órgãos sensoriais e sistema nervoso, incluindo o cérebro e a medula espinhal (1).
- Endoderma: Futuro sistema digestivo, fígado, pâncreas, glândulas salivares e sistema respiratório (1).
- Mesoderma: Camada interna da pele, músculos, esqueleto e sistemas excretor e circulatório (1).
Outras partes do blastocisto formam a cavidade amniótica (saco amniótico), com o âmnio e o córion, além da placenta e do cordão umbilical (1).
Fase Embrionária (Segunda à Sétima Semana)
Esta fase, que dura dos 14 dias até a 7ª semana da gestação, é marcada pela organogênese, o rápido desenvolvimento dos órgãos e dos principais sistemas do corpo — respiratório, digestivo e nervoso (1). Nesse período, também se inicia o crescimento e desenvolvimento do cérebro, que continua após o nascimento (1).
No momento da fecundação, inúmeras características genéticas (como cor dos olhos e sexo) já estão programadas, e o desenvolvimento ocorre sem interferência de fatores externos (1). Esta é uma fase crítica; alterações que ocorrem após este período têm menor impacto no embrião, pois os principais sistemas já estão formados (1).
Embriões com anomalias graves geralmente não sobrevivem além do primeiro trimestre. O aborto espontâneo é a expulsão de um embrião ou feto incapaz de sobreviver fora do útero (1). Abortos que ocorrem após as primeiras 20 semanas de gestação são caracterizados como natimortos ou perda fetal (1). Estima-se que 1 em cada 4 gestações reconhecidas termine em aborto espontâneo, sendo a maioria no primeiro trimestre (1).
Por volta da 8ª semana, o embrião passa a ser chamado de feto (1). Isso se deve à perda da função do saco vitelino, com os nutrientes maternos passando a ser transferidos pelo cordão umbilical (1).
Fase Fetal (Oitava Semana até o Nascimento)
Esta fase final da gestação começa com o aparecimento das primeiras células ósseas por volta da oitava semana (1). O feto cresce rapidamente, podendo atingir 20 vezes seu comprimento anterior, e os órgãos e sistemas tornam-se mais complexos (1).
- Movimento e Atividade: Os movimentos e o nível de atividade dos fetos mostram diferenças individuais marcantes (1). Fetos masculinos tendem a ser mais ativos e se movimentar com mais vigor do que os femininos, sugerindo que a tendência de maior atividade em meninos pode ser, em parte, inata (1).
- Sensibilidade: Fetos podem responder ao toque e à pressão, mas é altamente improvável que sintam dor antes do terceiro trimestre, pois muitas estruturas, especialmente o córtex cerebral, ainda estão imaturas (1).
- Sentidos: A partir da 12ª semana, o feto engole e inala líquido amniótico, que contém substâncias da corrente sanguínea materna, estimulando o paladar e o olfato (1). Células gustativas aparecem por volta da 14ª semana (1). O sistema olfativo também está bem desenvolvido antes do nascimento (1).
- Audição e Aprendizagem: O feto responde à voz, aos batimentos cardíacos e às vibrações do corpo materno (1). Respostas ao som e à vibração começam na 26ª semana e se estabilizam na 32ª semana. Vozes femininas, especialmente a da mãe, são relevantes para os fetos (1). Após o nascimento, neonatos preferem vozes femininas e a língua nativa da mãe (1).
- Memória Fetal: A memória fetal começa a funcionar por volta da 30ª semana gestacional, quando os fetos conseguem reter informações por até um mês (1). Recém-nascidos podem usar padrões de entonação no choro que refletem aspectos da língua nativa da mãe (1).
Desenvolvimento Mês a Mês
- 1º Mês: O embrião cresce mais rapidamente do que em qualquer outra fase (1). No final do mês, mede ~1 cm (1). O coração bate 65 vezes por minuto, e já há um esboço de cérebro, rins, fígado e TGI. O cordão umbilical está funcionando (1). O sexo ainda não pode ser identificado (1).
- 2º Mês: Ao final do mês, o embrião se torna um feto, medindo ~2 cm e pesando ~9 g (1). A cabeça representa metade do comprimento total (1). Órgãos sexuais se desenvolvem; o coração bate regularmente; o estômago produz suco digestivo; e o fígado produz células sanguíneas (1).
- 3º Mês: O feto pesa ~28 g e mede ~7,5 cm (1). A cabeça ainda é grande (~1/3 do comprimento total). O sexo já pode ser detectado (1). O feto consegue mover pernas, pés e cabeça e apresenta reflexos como o de Babinski (1).
- 4º Mês: O feto mede 20-25 cm e pesa ~170 g (1). A placenta está totalmente desenvolvida (1). A mãe pode sentir os chutes do feto, um movimento conhecido como quickening (1).
- 5º Mês: O feto pesa 300-500 g e mede ~30 cm (1). Apresenta padrões definidos de sono e vigília e uma posição favorita no útero (1). O sistema respiratório ainda não está maduro para sustentar a vida fora do útero (1).
- 6º Mês: A taxa de crescimento diminui (1). O feto mede ~35 cm e pesa ~570 g (1). Os olhos se abrem e fecham, e ele pode ouvir. O aparato respiratório ainda está em maturação (1).
- 7º Mês: O feto mede ~40 cm e pesa 1,5-2,5 kg (1). Desenvolveu plenamente os padrões de reflexo e tem boas chances de sobrevivência com assistência médica intensiva se pesar mais de 1,5 kg (1).
- 8º Mês: O feto mede 45-50 cm e pesa 2,5-3 kg (1). Uma camada de gordura se desenvolve para adaptação à temperatura externa (1).
- 9º Mês: O crescimento desacelera (1). O feto atinge um peso médio de ~3,5 kg e ~50 cm (1). Os sistemas de órgãos operam com mais eficiência. A idade gestacional é geralmente estimada em 280 dias a partir do último período menstrual da mãe (1).
Parto e suas Fases
O parto normal é dividido em várias fases:
- 1ª Fase: Início das contrações.
- 2ª Fase: Saída do líquido amniótico.
- 3ª Fase: Dilatação do colo do útero.
- 4ª Fase: Período expulsivo do feto.
- 5ª Fase: Expulsão da placenta.
A duração do parto pode variar, dependendo principalmente se a mulher é “primípara” (primeira gestação) (1).
Referências Bibliográficas
- PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento Humano. 14. ed. Rio de Janeiro: Artmed, 2022. v. 1.