Dieta Cetogênica: Definição, Mecanismos e Implicações Metabólicas
Introdução
A dieta cetogênica é uma abordagem nutricional caracterizada por um aporte muito baixo de carboidratos, visando induzir um estado metabólico de cetose. Embora popularmente associada à perda de peso, é fundamental compreender seus mecanismos de ação, benefícios potenciais e as limitações, especialmente em contextos como o desempenho atlético e o balanço hormonal.
Definição e Mecanismos da Dieta Cetogênica
A dieta cetogênica é definida por um aporte máximo de 50g de carboidratos por dia (1). O principal objetivo dessa restrição é aumentar a produção de corpos cetônicos (1).
Uma vantagem observada no uso da dieta cetogênica é sua capacidade de regular o apetite pela supressão da produção de grelina, um hormônio orexígeno (1). Isso pode levar a uma diminuição espontânea na ingestão calórica (1). Contudo, é importante notar que esse mecanismo não demonstrou ser superior a outras abordagens na promoção da perda de peso a longo prazo (1). Além disso, para atletas, a adoção de uma dieta cetogênica pode resultar em perda de performance (1).
Implicações Hormonais
Dietas com baixo teor de carboidratos podem afetar os níveis de testosterona livre e cortisol (1). A testosterona total engloba todas as partículas de testosterona, inclusive as ligadas a proteínas (que exercem um menor efeito na hipertrofia). A testosterona livre, por sua vez, é a forma biologicamente mais ativa (1).
Alterações de 100 ng/dL na testosterona, embora estatisticamente significativas, podem não gerar mudanças fisiológicas relevantes na composição corporal na prática clínica (1). Adicionalmente, a avaliação da testosterona no sangue isoladamente pode ser insuficiente, sendo necessário também considerar a sensibilidade e a quantidade de receptores para esse hormônio nos tecidos-alvo (1).
Recomendações Nutricionais e Efeitos Metabólicos
A dieta cetogênica pode ser útil na redução de gordura visceral e no emagrecimento, mas não se mostra eficaz para o ganho de massa muscular (1).
Os corpos cetônicos são capazes de prevenir a neoglicogênese, inibindo o uso de proteína para a formação de glicose (2). Isso significa que eles podem exercer um efeito antiproteolítico, preservando a massa muscular (2). A perda de peso inicial observada na dieta cetogênica ocorre principalmente devido à perda de água, proveniente da depleção dos estoques de glicogênio (1).
A dieta cetogênica não é superior a outros métodos para o emagrecimento a longo prazo (1). Embora a restrição de carboidratos gere uma maior oxidação de gordura, isso não necessariamente se traduz em emagrecimento, pois o consumo calórico total pode permanecer elevado (1). A restrição de gorduras, por sua vez, não demonstrou alterar a oxidação de gorduras (1).
A indisponibilidade de carboidratos na dieta cetogênica leva a um aumento na intensidade da retirada de ácidos graxos do tecido adiposo (o que não implica necessariamente em emagrecimento) (2). Além disso, pode gerar alterações hormonais, como aumento de glicocorticoides, aumento de glucagon e diminuição da insulina (2).
As células possuem limitações na oxidação dos corpos cetônicos devido à necessidade de oxaloacetato, um derivado de carboidratos, para a entrada de acetil-CoA no ciclo do ácido cítrico (2). A indisponibilidade de oxaloacetato pode gerar um aumento de até 30 vezes nos compostos cetônicos, levando a uma acidose extrema no organismo (2).
Referências Bibliográficas
- ARAGON, A. A. et al. International society of sports nutrition position stand: Diets and body composition. J Int Soc Sports Nutr, v. 14, n. 1, p. 1–19, 2017.
- HALL, J. E.; GUYTON, A. C. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p.